Uma pequena cidade gaúcha inverte uma tendência estatística ao reunir mais homens que mulheres em sua população. É o que revela hoje visita a Santa Margarida do Sul, um dos roteiros da série Beleza Interior por municípios do Estado todos os sábados de 2011
Se você, leitora, lamenta a estatística de duas mulheres para um homem no país...
Se você diz que é injusto que exista uma população feminina majoritária no RS de 51,5%...
Se você não aceita a média de 94,8 homens para cem mulheres no Estado...
Se você chora a diferença de quase 41 mil mulheres a mais, saiba que, em algum lugar do mundo, a vida é diferente.
Santa Margarida do Sul é o harém cobiçado em todo chá de panela. É o município gaúcho com a maior concentração de testosterona por metro quadrado (atrás somente de Charqueadas, que tem a liderança invalidada devido aos presídios masculinos).
A 292 quilômetros da Capital, a simpática cidadezinha de 2 mil habitantes apresenta 118 cavalheiros para cada grupo de cem moças. Andar em suas ruas de terra batida é o equivalente a percorrer os corredores de um internato rural.
- As mulheres estão em extinção na cidade - desabafa o industriário Elias Goulart Seixas, 53 anos.
- No restaurante, vejo apenas barbado palitando os dentes.
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O território tem muitas peculiaridades: mulher entra de graça nas festas, macho paga o dobro; as fofocas são feitas pelos marmanjos; não se verá briga ou discussão de jovens por namorado.
- É uma situação confortável, sobra homem. Não puxamos os cabelos uma das outras, muito menos nos gastamos em intriga - afirma a bem-humorada Cinara Silveira, 49 anos.
Casada durante 23 anos, ela exemplifica a tranquilidade com a aproximação silenciosa que teve com o marido, Rubemar Faria.
- Foi um beijo de cara. O que faltava era o beijo. Depois do beijo, vieram todas as palavras - lembra.
Alegria delas, desconsolo deles. O domador de cavalos Douglas Steffen Machado, 19 anos, precisa viajar a São Gabriel para obter melhores resultados na arte da sedução. Cansou de ficar encalhado nas noites margaridenses.
- O ideal seria a prefeitura promover o turismo do amor, excursões de mulheres a nossa terra, para embelezar a cidade - inventa Machado.
O capataz Rodrigo Castanho Sachenave, 24 anos, também critica a falta de oportunidades de flerte:
- É uma solidão de laçador, recomendo treinar no espelho e não errar cantada.
A desproporção ajuda as mulheres a enfrentar preconceitos. Cristina Moraes Siqueiro, 22 anos, se apaixonou pelo pecuarista Adonai Lopes Lemos, 68 anos, que tem a idade de seu avô.
- O filho dele foi colega de escola do meu pai, entende? Tive liberdade para amá-lo sem ser criticada - lembra.
A vantagem numérica masculina alterou o quadro de aproximação entre os sexos. Com um maior número de opções, as mulheres é que tomam a iniciativa. A caça é o caçador, cumprindo a sociedade idealizada pelas feministas.
- As mulheres atacam, soltam seu charme, exercitam sua independência, não levam desaforo para casa, não esperam que ele se aproxime. Os sujeitos se encolhem nas cadeiras! - explica Viviane Goulart, 29 anos, funcionária da agência de Correios.
Sandra Martins, 31 anos, balconista de um posto de gasolina, concorda:
- Os solteiros têm medo de mim. Toda mulher que fala demais parece assanhada.
No Rio Grande do Sul, o casamenteiro Santo Antônio cedeu seu lugar no altar para Santa Margarida do Sul.
Notícia
Beleza Interior: Harém das margaridas
Fabrício Carpinejar
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