Moradores do bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, receberam nesta terça-feira (26) a doação de 20 mil máscaras para ajudar no combate à pandemia de coronavírus. A ação social, que tem como objetivo ajudar a população mais vulnerável a se proteger contra a doença, faz parte do projeto Responsabilidade, Vista essa causa, parceria formada por Grupo RBS, Lojas Lebes e Lojas Renner. À tarde, mais 20 mil máscaras foram doadas no bairro Partenon.
Nas ruas de chão batido do bairro Bom Jesus, na zona leste da Capital, os 13 voluntários da Central Única de Favelas (Cufa) trocaram máscaras por agradecimentos. A instituição é responsável por fazer a logística das entregas e chegar até as comunidades que precisam de doações.
As entregas foram feitas entre vielas estreitas, em parte cobertas de lama formada pelo esgoto que corre a céu aberto. Em cada portão, mães de família, em sua maioria, cuidavam da casa e dos filhos. Além dos kits com duas máscaras de tecido produzidas por pequenas e médias empresas do setor têxtil, alguns receberam tubos de álcool gel.
— Na nossa comunidade, muita gente não tem condições de comprar. Que bom que vocês estão aqui — afirmou, sorridente, Cleonice Medeiros, 36 anos, acompanhada das filhas de nove e quatro anos.
Afetado pela pandemia, o trabalhador autônomo Paulo Ricardo Silva da Silva, 49 anos, aplaudiu a equipe. Cuidador de automóveis, jardineiro e carpinteiro, o pai de seis filhos, que deixou o interior para viver na Capital, diz que seus bicos reduziram devido às restrições impostas pelo distanciamento social. Com discurso exemplar, prometeu entregar as máscaras recebidas a seus filhos e netos, "pois essa doença não escolhe idade".
— A máscara protege a mim e também ao próximo, né? Cuidar da saúde é o mais importante, né? — reitera.
Maria Madalena Farias, 54 anos, negou a entrega do kit: nobre, ela disse ter várias em casa, entregues pela patroa.
— Lá na casa de família que eu trabalho, eles me deram e dizem que eu tenho que usar sempre. Prefiro deixar a doação de vocês para quem mais precisa — explica.
Potira Viana dos Santos, 29 anos, vai destinar as máscaras para os dois filhos, de dez e três anos, e para o marido, o único que segue trabalhando.
Além do acessório ser indispensável à circulação durante a pandemia — seu uso está previsto no decreto estadual de distanciamento controlado —, os moradores receberam orientações sobre como utilizá-lo e higienizá-lo.
Coordenador da Cufa no RS, Paulo Daniel Santos, 28 anos, afirma que a comunidade já é "fragilizada" e que a covid-19 não pode ser mais um complicador da situação vivida no vulnerável bairro da zona leste.
— Precisamos estar preparados para mais essa. Eu digo para todo mundo aqui, máscara não é opinião, é questão de saúde. Tem que usar — alerta.
Santos ressalta que, nessas comunidades, o discurso sobre a máscara tem que ser diferente:
— A maioria das pessoas que mora nesses locais já convive com o risco de vida por ser, em grande parte, negra e vulnerável socialmente. Um jovem negro de boné já é, injustamente, considerado suspeito. Um jovem negro com boné e máscara é mais ainda. Por isso, ao invés de dizer a essas pessoas que elas podem morrer por não usar máscara, temos que dizer para elas que a máscara é uma forma de passarmos por isso bem. É uma política de promoção à vida.
Porto Alegre é a segunda das cinco cidades beneficiadas pela ação. A primeira foi Passo Fundo, onde também foram distribuídas 40 mil máscaras. Na Capital, haverá mais uma entrega em 28 de maio. Depois, haverá doações em Santa Maria, na Região Central, em Pelotas, no Sul, e em Caxias do Sul, na Serra.
A iniciativa prevê ações de comunicação em todos os veículos da RBS, com o objetivo de conscientizar o público para o uso de máscaras e apoiar a uma parte da cadeia produtiva do RS que está sofrendo diretamente com a crise econômica: as pequenas e médias empresas do setor têxtil. Se alguma empresa quiser ajudar a ampliar o número de máscaras doadas, basta manifestar interesse a partir de um e-mail para vistaessacausa@gruporbs.com.br.