Maiores medalhistas olímpicos do Brasil em atividade, Rebeca Andrade, 25 anos, e Isaquias Queiroz, 30, teriam tudo para travar uma "batalha" pelo recorde de pódios até os Jogos de Los Angeles. Porém, os dois atletas sinalizam ter outros planos. De olho na saúde física e mental, a ginasta e o canoísta pretendem diminuir o ritmo de treinos e competições e, para isso, parecem estar dispostos inclusive a abrir mão de medalhas.
Isaquias Queiroz, de certa forma, já fez isso ao longo do ciclo de Paris. Ouro em Tóquio e dono de quatro medalhas olímpicas, o baiano de 30 anos treinou menos e desistiu de várias etapas do circuito mundial. Como consequência, acabou apenas em sexto lugar no Mundial de 2023.
– Cheguei (ao longo do ciclo) a tomar remédios por conta da ansiedade. Eu já vinha de dez anos ganhando medalhas em Mundiais. Foi o primeiro ano em que eu fiquei fora (do pódio), de certa forma por escolha minha. Se tivesse treinado, dava para ter ganho medalha no Mundial de 2023. Mas eu escolhi descansar – explicou, em entrevista a Zero Hora.
Rebeca Andrade, por sua vez, conquistou quatro medalhas apenas nos Jogos de Paris. Com os dois pódios de Tóquio, tornou-se a maior medalhista do Brasil em todos os tempos. Porém, mesmo com apenas 25 anos, a ginasta planeja desistir do individual-geral e do solo. Com isso, pode chegar a Los Angeles sendo competitiva apenas no salto.
– O individual-geral exige muito do meu corpo, principalmente da minha parte inferior, das minhas pernas e doa joelhos. E, neste momento, espero que tenha sido o meu último solo. Claro que, se o meu corpo melhorar e, se eu me sentir bem, se falarem "a gente precisa de você, você pode ajudar a equipe", aí o futuro a Deus pertence – disse.
Ao contrário de Rebeca, que já encerrou a sua participação nas Olimpíadas de Paris, Isaquias ainda compete em duas provas, podendo igualar o número de pódios da ginasta. Porém, o atleta baiano disse a ZH que essa pressão pelo recorde de medalhas não lhe fez bem nos meses que antecederam os Jogos.
– Eu estava muito com isso na cabeça, pressionado e nervoso, acho que por esta questão da quantidade de medalhas. Vou em busca da medalha, mas o meu objetivo aqui é fazer a Olimpíada ser o mais leve possível. Vou lutar o máximo que puder para chegar a seis medalhas e empatar com a Rebecca. Mas, independentemente disso, tenho que desfrutar a Olimpíada _completou o canoísta, que é atual campeão olímpico na prova individual do C1 1000, que será disputada a partir desta quarta (7), e também competirá no C2 500, ao lado do também baiano Jack Godman.
Rebeca Andrade, por sua vez, faz terapia desde a infância e, em quase todas as medalhas, exalta a importância do acompanhamento psicológico para o seu desempenho na ginástica.
– Com ela (psicóloga), me conheci muito mais e soube muito mais da Rebeca pessoa e atleta – afirmou.
Na mesma modalidade, a atleta tem o exemplo de Simone Biles, que, em Tóquio, desistiu de quatro finais alegando a necessidade de cuidar de si, o que, de certa forma, naturalizou o debate sobre saúde mental bo esporte. Na última segunda (5), após a final do solo, em Paris, a norte-americana falou a Zero Hora sobre o tema.
– Acho que colocar a saúde mental em primeiro lugar e tirar um tempo para si cria uma longevidade no esporte especialmente, mas também é importante para se ter um estilo de vida melhor e mais saudável, esteja você praticando esporte ou não. É muito importante colocarmos nossa saúde mental em primeiro lugar, e aí todo o resto se encaixa – disse.
Na sexta (9), quando terminam as provas da canoagem, saberemos se Rebeca ostentará sozinha a condição de maior medalhista olímpica do Brasil em todos os tempos, ou se dividirá o posto com Isaquias. Porém, os dois atletas parecem concordar que existem coisas mais importantes na vida do que bater recordes