Um silêncio absoluto cortado por dois estalos. Em um intervalo de aproximadamente 20 segundos, os barulhos da flecha saindo do arco e, logo depois, atingindo o alvo são os únicos sons ouvidos na arena. Aplausos são permitidos apenas quando o telão mostra aos milhares de torcedores o destino da flecha. Este é o ritual do tiro com arco, um esporte pouco conhecido dos brasileiros, mas que pode render ao Brasil até três medalhas nas Olimpíadas de Paris.
A reportagem de Zero Hora assistiu a 12 combates de tiro com arco nesta terça-feira (30), na Esplanada dos Inválidos, quatro deles envolvendo brasileiros. Com duas vitórias cada, Marcus D'Almeida e Ana Luiza Caetano avançaram às oitavas de final e, incluindo masculina, feminina e mista, totalizam três chances de o Brasil subir ao pódio na modalidade pela primeira vez na história.
Para Marcus, líder do ranking mundial masculino, o tiro com arco é um esporte para quem gosta de atuar sob pressão.
— Se você quer ser um campeão, você tem que gostar da pressão. Eu nunca vi ninguém ser campeão sem pressão. A gente trabalha com a psicóloga para estar bem naquele momento. Lógico que não é o dia mais confortável da sua vida, mas é um dia em que você precisa estar preparado para viver aquilo — contou a Zero Hora.
Nos primeiros confrontos observados pela reportagem, com a presença de atletas da França, da Coreia do Sul, e de Taiwan, a arena estava lotada. Na sequência, porém, quando acabaram as participações de anfitriões e asiáticos, a arena foi esvaziada. Ainda que houvesse poucos torcedores brasileiros, era possível ouvir vários gritos de "Brasil" entre uma flechada e outra. Alguns deles com sotaque gaúcho.
— Queríamos conhecer um esporte novo e o tiro com arco foi uma súper oportunidade. Achamos muito interessante — contou a hoteleira pelotense Jaqueline Halal, 51 anos, que aproveita as Olimpíadas com o marido, o empresário Franco Pallamolla, 60, e o filho, Enzo, 13.
Motivação
Surpresa das primeiras fases, Ana Luiza afirma que o apoio da torcida, mesmo em gritos isolados, é uma motivação importante. Até mesmo porque ela acreditava que não haveria brasileiros na arena nesta terça.
— Quando estou na linha atirando, escuto muito pouco da torcida. Mas, quando estou esperando buscarem as flechas, eu escuto muito e isso ajuda muito, até porque eu não esperava que tivesse brasileiros hoje. Foi de aquecer o coração, foi muito bom — disse.
Com as vitórias, Marcus e Ana estão classificados para as oitavas de final, que serão disputadas no final de semana, assim como as quartas, as semifinais e as disputas pelo bronze ou pelo ouro. Na sexta (2), os dois atletas ainda competem na dupla mista, totalizando três chances de pódio para o Brasil.
Muito mais do que uma medalha inédita, porém, os dois atletas querem popularizar o tiro com arco no país.
— É o que a gente busca, até porque é um esporte que pode ajudar muito a sociedade. É um esporte de concentração. E acho que a sociedade está precisando um pouco de mais tranquilidade. Já está mais do que provado que toda modalidade que ganha uma medalha olímpica acaba alavancando, pois as pessoas acabam conhecendo mais. Então, queremos popularizar o tiro com arco — afirmou Marcus, que não está preocupado com a pressão de ser o líder do ranking. Ele até gosta.
Como funciona
O tiro com arco é disputado no formato mata-mata, sempre com confrontos entre dois atletas, no sistema de melhor de cinco sets. Em cada set, cada atleta tem direito a três flechadas, que rendem notas de 0 a 10, dependendo da proximidade da flecha com o centro do alvo. Vence o atleta que ganhar três sets.