Ao conquistar o bronze neste domingo (28), Rayssa Leal mostrou ao Brasil e ao mundo que não é mais uma "fadinha". A maranhense de 16 anos agora é uma mulher, que erra, fica nervosa, se irrita, se cobra, reza e vibra. E tudo isso sem deixar de ser uma das mais atletas mais talentosas do esporte brasileiro na atualidade.
A versão 2024 de Rayssa contrasta com aquela menina de 13 anos que ganhou a prata nas Olimpíadas de Tóquio, competindo no maior evento do planeta com a mesma leveza de uma criança que brinca no parque. Acompanhei as duas medalhas in loco, e a diferença de comportamento da maranhense ficou muito clara.
Na segunda volta da final, por exemplo, quando cometeu um erro e caiu, a skatista parou a poucos metros de mim. Com a testa franzida e um semblante carregado de tensão, a atleta bateu com o skate na pista e colocou as mãos no rosto, sem esconder a frustração. Na sequência, fez o sinal da cruz e partiu para a manobra seguinte. Ela estava se cobrando, coisa que a "fadinha" de 13 anos jamais fazia, talvez até pela inocência da idade.
A própria Rayssa falou sobre isso na entrevista que me concedeu na zona mista da Praça da Concorde, já com a medalha de bronze no peito:
— A Olimpíada mudou e eu também. (Entre uma Olimpíada e outra) Fui de criança a adolescente. Tudo aconteceu muito rápido para mim. Eu faço bastante terapia pra entender tudo sobre os meus sentimentos.
Isso está longe de ser um problema. Aliás, muito pelo contrário. Rayssa mostrou que aquela menina leve e encantadora de 2021 deu lugar a uma mulher, com as angústias e tensões normais de alguém que é humana e não uma fada. Até mesmo porque fadas não existem.