Brasil e Japão entraram em quadra neste domingo (24) no Yoyogi National Stadium em Tóquio para disputar uma vaga no torneio feminino de vôlei do Jogos de Paris em 2024. As japonesas tinham a seu favor 13 mil entusiasmados torcedores que faziam muito barulho a cada ataque e ponto da equipe da casa, enquanto as brasileiras jogavam por elas e pela campeã olímpica em Pequim 2008, Walewska, que morreu na última quinta-feira em São Paulo, fato que gerou um grande abalo psicológico em toda a delegação.
A partida foi como esperado, com a seleção japonesa exigindo a maior paciência possível das brasileiras, que sempre precisavam atacar uma, duas, três vezes, para vencer o irritante sistema defensivo da equipe asiática. O jogo terminou com vitória brasileira por 3 a 2, parciais de 25/21, 22/25, 27/25, 15/25 e 15/10.
Com o resultado, o Brasil garantiu classificação para sua 12ª participação consecutiva no torneio olímpico, onde a seleção tem histórico de dois ouros, uma prata e dois bronzes, além de dois quarto lugares.
Primeiro set de Julia Bergmann
Uma das novatas deste ciclo olímpico, a ponteira Julia Bergmann foi decisiva na primeira parcial. A jogadora de 22 anos, nascida em Munique, na Alemanha, começou marcando três pontos em ataques e levando a seleção a liderar em 6 a 2. Logo depois, as japonesas reagiram e conseguiram virar em 13 a 12, após um ace de Yamada. Mas Julia recolocou o Brasil em vantagem ao marcar 16 a 14 em um bloqueio. Na reta final do set, as donas da casa voltaram a assustar e empataram 21 pontos, após três erros seguidos das brasileiras.
Mas foi a partir desse empate, que mais uma vez o Brasil retomou o controle do jogo e se aproveitou de algo raro, três erros seguidos das japonesas, dois deles do grande nome da equipe, a ponteira Sarina Koga. No final, um contra-ataque de Julia Bergmann definiu o 25 a 21. Este foi o sétimo ponto dela na parcial.
Saque japonês desequilibra segundo set
O Japão começou o segundo set de forma arrasadora. Com uma sequência impressionante de saques de Yamada, as japonesas desestabilizaram o time brasileiro e o placar chegou a 8 a 1. O técnico José Roberto Guimarães buscou algumas trocas para tentar reagir e colocou Carol no meio da rede, no lugar de Diana, e Maiara Basso na vaga de Julia Bergmann. Os pontos começaram a sair e em um pedido de tempo a ordem da comissão técnica foi: "Se não der pra virar temos que ao menos encostar até o final do set". E o resultado apareceu. Ponto a ponto, a seleção reagiu com Gabi virando quase todos os ataques até o placar ficar 20 a 20.
Mas apesar de todo o esforço faltou um pouco de fôlego para a seleção brasileira virar. Em um erro de saque de Gabi, as japonesas marcaram 23 a 22, para depois pontuarem em contra-ataque. Com um ace de Yamada, que havia sido destaque nesse fundamento no começo do set, fecharam em 25 a 22. Gabi terminou a parcial com nove pontos.
Equilíbrio e emoção até o último ponto do terceiro set
A terceira parcial começou equilibrada e com uma troca em cada seleção. No Brasil, Carol seguiu no lugar de Diana. No Japão, o técnico Masayoshi Manabe optou por trocar de levantadora, e Matsui assumiu o lugar de Seki. O primeiro ponto foi brasileiro, em bloqueio de Rosamaria. As equipes foram trocando pontos até o 10 a 10. Um pouco melhor, as japonesas abriram 13 a 11 em ataque de Ishikawa. A vantagem asiática seguiu até o time brasileiro empatar em 19, com Thaisa.
Os dois times passaram a defender muito e cada ponto passou a ser disputado em longos rallies. Em um deles, Koga fez 22 a 21, e logo depois um erro de passe de Julia Bergmann, o Japão fez 23 a 21. O Brasil encostou em 23 a 24, e Zé Roberto colocou Pri Daroit para sacar. A ponteira gaúcha sacou bem e ainda fez uma importante defesa. No contra-ataque, Gabi deixou tudo igual. As japonesas ainda desperdiçaram um set point, até Rosamaria forçar um erro de passe e virar o marcador. A seguir, um ataque de Julia Bergmann tocou a linha e definiu o 27 a 25, deixando o Brasil a um set de Paris.
Bloqueio e saque japonês forçam tie-break
Com cinco pontos de bloqueio contra um, dois pontos diretos de saque e outros proporcionados por erros de passe do Brasil, o Japão dominou amplamente o quarto set. Já no começo, as japonesas marcaram 11 a 4, o que fez a torcida voltar a fazer muito barulho, após a decepção da derrota na parcial anterior.
Sem se encontrar em quadra, a seleção brasileira foi presa fácil para as japonesas, que foram ganhando moral e arriscando cada vez mais, até chegarem ao 15 a 15, após um ataque de Ishikawa, forçando o tie-break.
Tie-break, vaga em Paris e homenagem a Walewska
Apesar da acachapante derrota no quarto set, o Brasil começou o tie-break de maneira contundente. E com ataques de Rosamaria e Julia Bergmann e ace de Gabi, fez 3 a 0. As japonesas ainda reagiram e encostaram com 5 a 4, mas uma belo ataque de Thaisa fez a seleção chegar a 8 a 6 na virada de quadra.
Um bloqueio de Carol em Ishikawa evitou o empate japonês (9 a 7). Mas a persistência das asiáticas acabou valendo o 10 a 10. Zé Roberto pediu tempo. Com Julia Bergmann no ataque, Thaisa no bloqueio, Pri Daroti em ace e erro de passe japonês, as brasileiras garantiram um 15 a 1o e a vaga olímpica.
— Sensação de que cumprimos o nosso compromisso. Ano de altos e baixos. Uma Liga das Nações com resultado que não esperávamos. Depois o crescimento no Sul-Americano e esse torneio muito difícil aqui. Mas o time teve atitude. Não perdemos a vontade de ganhar. Só me emocionei agora, depois da partida. Orgulhosa e feliz — disse a levantadora Roberta, que assumiu a titularidade da equipe após a lesão de Macris, ainda no Sul-Americano disputado no Recife.
Com 23 acertos, Gabi foi a maior pontuadora da partida. Julia Bergmann terminou com 14, seguida de Thaisa com 13, Rosamaria com 12 e Carol 10. Hayashi e Koga marcaram 16 para as japonesas.
— Nossa emoção foi por isso. A gente se comprometeu a isso. A lutar por ela (Walewska) e se classificar por ela. Por tudo que ela representou pra gente e por vôlei brasileiro —afirmou Gabi, a capitã brasileira.