Detentor dos maiores feitos do ciclismo brasileiro, Henrique Avancini anunciou nesta terça-feira (22) uma mudança de rota na sua carreira. Ele deixará de ser atleta profissional. Dessa forma, não disputará os Jogos de Paris em 2024.
Avancini foi o primeiro ciclista da história a vencer competições de nível mundial em três modalidades distintas (XCC, XCO e XCM), dono do melhor resultado do País no XCO em Jogos Olímpicos em Tóquio, duas vezes campeão mundial e responsável por trazer a abertura de uma Copa do Mundo de MTB ao Brasil.
A decisão de deixar de competir oficialmente ocorreu pouco antes do título mundial na categoria maratona (XCM) conquistado no começo do mês de agosto, em Glasgow, na Escócia. E para explicar aos fãs e todos que o acompanham tudo o que ele passou neste ano e o desejo de parar de competir, Avancini lançou nesta terça (22) o documentário "O meu motivo".
— Em 2020, terminei o ano como número 1 do mundo e, neste período, eu já estava sentindo algumas coisas mais pesadas. A temporada de 2021 começou a ficar ainda mais pesada até chegar o momento em que eu percebi que não estava fazendo as coisas com aquela mesma motivação que sempre tive. Parecia uma obrigação, mesmo eu sendo líder do ranking, correndo por uma grande equipe, feito meu nome, estabilizado na carreira e vencido eventos de Copa do Mundo. E isso não me trazia tanta motivação, não sentia o porquê de estar fazendo aquilo — explica o carioca de 34 anos.
Apresentado durante uma premiére, em São Paulo, o documentário "O meu motivo" tem cerca de 40 minutos de duração e repassa a carreira de Avancini sob um prisma inédito: suas dores e alegrias. Recheado de imagens de bastidores e com presenças de convidados ilustres, o filme revela os motivos que levaram o brasileiro a tomar a decisão de deixar as pistas em um dos seus principais momentos na carreira.
— Dentro de mim, havia uma confiança muito grande. Não sabia de onde. Não era de resultados prévios, mas tive a sensação de que a vida ia me dar esse título. Logo, comecei a refletir não só sobre o campeonato, mas o que eu faria depois se fosse campeão mundial. Refleti e tomei a decisão sem falar a ninguém. Se eu vencesse, seria suficiente para dizer o que eu tentei dizer a carreira inteira. Se eu buscasse muito mais além, seria mais para satisfazer meu ego do que compartilhar uma coisa que eu acredito ser genuína. Foi assim que eu competi: acreditando muito que seria campeão mundial e, se isso acontecesse, seria o final da carreira. Na Escócia, eu entreguei a melhor performance da minha vida inteira em todos os aspectos — afirma Avancini, que em 2021 foi prata no Mundial de short track (XCC).
O documentário traz à tona detalhes que não são de conhecimento público ao longo da carreira do ciclista vice-campeão dos Jogos Pan-Americanos de 2019, como a pressão por resultados, depressão, o momento em que se deparou com um grave problema de saúde da filha, lesão nas costelas e no joelho, confiança pelo título mundial de maratona na Europa e a decisão de transição de carreira.
— Vejo que a minha jornada como atleta nasceu muito da fé do que um cara conseguiria fazer, do poder do indivíduo. E eu acabei assumindo um papel em que as pessoas colocaram uma responsabilidade em mim que eu sou a cara do esporte, a cara do mountain bike no Brasil. E eu acho que isso começa a ir contra tudo o que eu acredito. Vejo que podemos ir mais longe, dá para fazer coisas mais especiais do que aparentamos ser capazes. E eu acho isso importante. Quando a gente tem a chance de ser ‘o cara’, a gente não precisa ser ‘o cara’. Isso é fruto do amadurecimento e faz a gente lembrar de quem está do nosso lado é tão importante quanto nós — comenta Avancini, que conquistou seu primeiro título mundial de XCM em 2018.
Neste processo de transição de atleta profissional, Henrique Avancini anunciou que ainda participará de algumas competições ao longo deste ano. Em breve, o ciclista detalhará os eventos que participará, no Brasil e no exterior.