Nunca passei tanto calor na vida. Quando cheguei ao Ariake Urban Sports, para cobrir a final do skate, estava empapado de suor e parecia um atleta que tinha acabado de competir, e não um jornalista prestes a iniciar uma cobertura. Eram 12h, e a sensação térmica de 43°C em Tóquio fazia a gente se sentir em uma frigideira gigante, e não em uma pista de skate.
Parte da culpa, importante dizer, atribuo à minha falta de domínio da língua japonesa. Afinal, quando cheguei ao local da competição, não consegui explicar ao motorista do aplicativo que aquele não era o portão correto. Após um tentativa frustrada de mímica, desisti e optei por ir à pé até o portão da imprensa.
A caminhada durou aproximadamente 10 minutos e foi insana. O calor era in-fer-nal. Mas, até aí, tudo bem, pois passar calor e frio ou tomar sol e chuva fazem parte da vida de um repórter esportivo. Não foi a primeira vez e não será a última. O problema foi o que aconteceu depois disso.
Ao passar pelo totem de reconhecimento facial, algo que existe em todas as sedes das Olimpíadas, o leitor digital não reconheceu a minha credencial. Devia ser um problema da máquina, pensei. Mas os outros leitores também não validaram a minha entrada.
— Tem algo errado com a tua credencial — me disse o guarda japonês.
Medo.
Ao perceber a situação, uma japonesa me procurou e me conduziu a uma sala reservada, onde pediram para eu entregar a minha credencial e aguardar sentado.
Pânico. O que eu fiz? Será que, sem saber, burlei alguma regra? Serei banido das Olimpíadas? Por que razão teriam cassado a minha credencial?
Poucos minutos depois, a japonesa que me atendeu explicou tudo. Devido ao calor, o chip da credencial derreteu. Por isso, o leitor ótico não teve como saber que eu era eu. Sim, algo totalmente inusitado.
Inusitado para mim, ao menos. Já as três funcionárias japonesas presentes na sala pareciam estar acostumadas a lidar com aquela situação. Afinal, em cinco minutos, elas recolheram a credencial derretida, imprimiram uma nova e estava tudo certo. Desta vez, o leitor ótico me reconheceu e consegui enfim entrar no complexo para cobrir a final do skate.
Mas as surpresas desagradáveis não pararam por aí. Ao entrar na sala de imprensa da arena, me deparei com uma mulher deitada no chão sendo atendida por uma equipe médica. Era uma jornalista que tinha acabado de desmaiar por conta do calor. Estava ruim para todo mundo.
Ao longo da prova, os voluntários dos Jogos Olímpicos a todo momento distribuíam gratuitamente garrafas de água e saquinhos de gelo para os jornalistas e para os funcionários envolvidos na organização do evento. Nunca pensei que sentiria tanto prazer em andar com um saco de gelo em cima da cabeça. Volta e meia, eu baixava a cabeça e apoiava o gelo na nuca. Que sensação boa.
Para mim e para os demais jornalistas presentes no local, foi o dia mais quente de toda a Olimpíada, embora o concreto da pista de skate possa ter contribuído para que o nosso local de trabalho fosse transformado em um forno humano.
A questão que fica é: por que razão marcaram a final do skate feminino para as 12h30min, no pior horário possível em termos de calor? Falta total de bom senso. E, nesta quinta (5), a final da categoria park masculina será no mesmo horário, provavelmente com a mesma sensação térmica. A prova já está marcada e não há o que fazer.
A única coisa certa é que, desta vez, vou de ônibus.