Hellen Aguiar, irmã mais velha da judoca Mayra Aguiar, é fisioterapeuta e ajudou na preparação da atleta que garantiu, nessa quinta feira (29), sua terceira medalha de bronze em Jogos Olímpicos. Em entrevista à Rádio Gaúcha, Hellen falou sobre a recuperação da irmã após romper o ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo, em setembro de 2020, bem como sobre a emoção do bronze e o que vem por aí.
— É uma lesão bem chata, bem séria e são pelo menos seis meses até voltar ao normal. Há muita perda de massa muscular, instabilidade do joelho. Toda aquela preparação física e musculatura que ela tinha conquistado, ela perdeu. Teve que voltar e começar do zero. Foi bem complicado viver uma lesão às vésperas de ir para a Olimpíada e mais toda a questão da pandemia. Ela estava num momento bem crítico. O bom é que eu sou fisioterapeuta e consegui ajudar. Ela realmente se superou, superou todas as dificuldades, foi lá e ganhou essa medalha para a gente.
Hellen conta que, junto com o fisioterapeuta da Sogipa, ajudou a irmã a se recuperar da cirurgia. Um vídeo compartilhado pela judoca mostra inclusive um série de agachamento em que Mayra segura sua irmã das costas.
— Quando estourou a pandemia, começamos a treinar em casa. Ela vinha aqui pra casa e fazia a gente subir lomba correndo. Eu estava sem preparo algum, fazia 10 anos que eu não vestia um quimono, e ela me fazia fazer o treino dela.
A madrugada de quinta-feira foi de emoção para os Aguiar e para os torcedores brasileiros. Depois de começar as Olimpíadas de Tóquio com vitória nas oitavas de final contra a israelense Inbar Lanir, Mayra perdeu nas quartas para a alemã Anna-Maria Wagner. Na repescagem, conseguiu derrotar a russa Aleksandra Babintseva e avançou para disputar o bronze.
— Meus pais estão morando na praia desde o início da pandemia, por isso não vimos as lutas juntos. Aqui em casa eu e meu namorado berramos a madrugada inteira, durante as lutas. Eu chorei, foi bem angustiante. Depois, senti uma sensação de alívio e de felicidade absurda quando ela ganhou a medalha.
Depois de derrotar a sul-coreana Hyunji Yoon na decisão do bronze com uma imobilização, que acabou resultado em um ippon, a atleta da Sogipa está mirando as Olimpíadas de Paris 2024.
— Mayra entrou na equipe principal do Brasil com 14 anos, então a gente já foi vendo que ela era diferenciada, vai chegar muito longe. E a Mayra é muito competitiva, desde criança, não gosta de perder nem no par ou ímpar. Ela tem essa sede de campeonato, de vitória.
Hellen conta que foi ela quem começou a fazer judô primeiro, na escola. Pouco tempo depois, Mayra se envolveu com o esporte também. A vida de atleta que leva desde a adolescência tem privações relacionadas à alimentação, vida social e outras, mas a irmã garante que a caçula já está acostumada à rotina disciplinada.
— Era mais difícil quando ela era mais nova e via os amigos da escola indo para uma festa, uma pizzaria, enquanto ela tinha que perder peso. Hoje em dia ela já sabe manejar isso muito bem, sabe equilibrar. "Dá pra eu comer mais hoje? então vou sair e comer", "Não dá pra comer hoje? então vou segurar, ficar em casa". Hoje em dia ela tem total noção e faz isso muito bem.
Segundo Hellen, a luta contra a alemã que tirou Mayra da disputa pelo bronze foi perdida "no detalhe", já que a irmã lutou bem. O que faltou não foi tranquilidade ou concentração, e sim "um pouco de gás" já que a atleta vinha de lesão e teve pouco tempo de fazer a preparação física.
— É uma vida em que tem que saber lidar com pressão e ela sabe lidar muito bem. A questão de cobranças às vezes pesa mais. Principalmente perto de campeonatos mais importantes, tanto cobrança de técnicos como de público, pesa um pouco mais. Mas na competição ela está 100% ali, é aquele o objetivo. Ela não olha mais para os lados, é aquilo ali.