Mayra Aguiar merece um capítulo à parte na história do esporte brasileiro. Afinal, não é qualquer atleta que tem no currículo três pódios olímpicos em uma modalidade individual. E é por isso que um dia poderemos dizer que vivenciamos a Era da judoca gaúcha, que também tem em sua coleção dois títulos mundiais.
Particularmente, posso dizer que tive o privilégio de transmitir no microfone da Rádio Gaúcha as três medalhas olímpicas de Mayra. E mais: por essas coincidências, estive presente nas últimas quatro edições dos Jogos Pan-Americanos — e, em todas elas, a sogipana se fez presente no pódio.
Lembro da Mayra, ainda adolescente, competindo no Pan do Rio e enfrentando Ronda Rousey na decisão. Aquela prata catapultou a pupila de Kiko Pereira, que ganhou o mundo, derrubando uma a uma suas adversárias e também as lesões que teimaram em atrapalhar sua carreira, mas que foram superadas por ippon.
Neste período, a porto-alegrense que completará 30 anos no dia 3 de agosto se reinventou e jamais deixou de estar entre as melhores do mundo. Por isso, apesar do ceticismo sobre suas chances em Tóquio, quem a conhece sempre acreditou que ela mais uma vez estaria no pódio.
Antes da viagem, ainda em Porto Alegre, acompanhei o treinamento dos cinco atletas da Sogipa que vieram para Tóquio e conversei com a Mayra Aguiar. Lembro de dizer que ela me parecia muito mais tranquila do que em outros momentos, e a resposta foi afirmativa. Na despedida, disse a ela: "Narrei as duas medalhas anteriores. Será que vou ter esse privilégio de novo?" E a resposta foi: "Vamos contar essa história juntos".
Claro que ela não ganhou nenhuma de suas medalhas olímpicas pela minha presença, mas a coincidência nos une nessa brincadeira de dar sorte. Tanto que hoje, em meio à entrevista/comemoração, ouvi dela "vamos para mais uma, tu vais ter que ir junto, porque o amuleto da sorte tem que ir junto".
Se estarei em Paris daqui três anos, não sei. Mas que Mayra Aguiar estará no pódio, não tenho dúvida alguma — assim como sei que estarei torcendo por ela, como milhões de gaúchos e brasileiros fizeram nesta quinta.
Gigante
Foi num bate-papo com a Alice Bastos Neves para a RBS TV que a Mayra disse se sentir "gigante", após sua terceira medalha olímpica. E esse gigantismo pôde ser percebido minutos antes, durante a protocolar entrevista coletiva das medalhistas, quando ela foi reverenciada pelas outras três atletas que ao lado dela foram ao pódio.
Vice-campeã, a francesa Madeleine Malonga fez questão de ressaltar o significado das três conquistas da gaúcha, que foi aplaudida pelas adversárias ao encerrar uma de suas respostas.
Capitã
Maria Portela ainda não digeriu a eliminação discutível, após a decisão da arbitragem da categoria médio. Em uma rápida conversa, após o pódio da Mayra, pude ouvir dela que o foco estava na disputa por equipes porque o time precisa dela.
Esta competição inédita acontecerá no sábado, e o Brasil é candidatíssimo ao pódio. Consciente, a "Raçudinha dos Pampas" ainda pode deixar Tóquio com uma merecida medalha.