Os resultados recentes não animam. Principal fonte de medalhas do país, o judô brasileiro desembarcará em Tóquio ostentando um cartaz menos reluzente do que nas últimas edições do Jogos. No atual ciclo olímpico, as equipes feminina e masculina do país conquistaram menos ouros e medalhas no geral em Campeonatos Mundiais, o principal termômetro do nível de competitividade de cada país entre uma Olimpíada e outra.
Entre Londres 2012 e Rio 2016, nossos judocas subiram no pódio 13 vezes, duas delas no topo. De 2017 até este ano, a seleção brasileira faturou um ouro e uma medalha a menos. Já o número de finais despencou: foram sete no período 2013-2015 contra apenas três nos eventos organizados depois dos Jogos cariocas.
Um fato torna a comparação especialmente desfavorável: em razão da pandemia, o atual ciclo teve um ano e um Mundial adicionais. Em resumo, o Brasil fez menos com mais nos tatames.
O desempenho no último Mundial, encerrado no domingo passado (13) em Budapeste, confirmou essa tendência. O Brasil conquistou apenas três bronzes na Hungria, um na disputa por equipes mistas e dois na mesma categoria, o peso pesado feminino (+78kg). O problema, nesse caso, é que apenas uma das judocas vai para a Olimpíada.
Como o regulamento limita a participação a um único representante por país em cada faixa de peso, só a experiente Maria Suelen Altheman, 32 anos e rumo à terceira participação nos Jogos, foi convocada na quarta-feira (16) pela Confederação Brasileira de Judô (CBJ), enquanto a novata e promissora Beatriz Souza, 23 anos, mesmo sendo a oitava colocada no ranking internacional, terá de esperar por Paris, em 2024, para estrear no evento.
Para além do número modesto de medalhas, outro ângulo de análise reduz a expectativa de sucesso na Olimpíada. Em Budapeste, poucos judocas brasileiros tiveram vida longa no torneio. A maioria nem chegou às quartas de final, fase que permite ao judoca derrotado a chance de brigar pelo bronze na repescagem. Afora os medalhistas, apenas Rafael Silva (derrotado na semifinal dos +100kg) e as sogipanas Ketleyn Quadros (-63kg) e Maria Portela (-70kg) ficaram perto do pódio.
A falta de renovação da seleção é um dos focos de críticas ao judô brasileiro. Os principais nomes da equipe são praticamente os mesmos na última década, e as promessas que surgiram nos últimos anos ainda não se firmaram no circuito. Quatro dos cinco cabeças de chave que o país terá nos Jogos (os oito primeiros colocados no ranking, em tese, terão caminho mais fácil em cada categoria) são atletas com mais de 33 anos.
Em coletiva virtual no anúncio dos 13 atletas convocados, o gestor de alto rendimento da CBJ e chefe da equipe em Tóquio, Ney Wilson Pereira, apresentou dados para contrapor essa avaliação. De acordo com o dirigente, o Brasil terá sete judocas estreantes nos Jogos, contra quatro no Rio. Segundo levantamento da entidade, no atual ciclo olímpico 121 judocas participaram de eventos internacionais representando a seleção em todas as 14 categorias.
Mesmo os pontos fortes do judô brasileiro são acompanhados de asterisco. Na disputa por equipes mistas, novidade nesta edição dos Jogos, a seleção é uma das forças. Subiu no pódio em três dos quatro Mundiais deste ciclo, conquistando uma prata e dois bronzes. Os times serão formados por três mulheres (-57kg, -70kg e +70kg) e três homens (-73kg, -90kg e +90kg) que necessariamente tenham se qualificado nas competições individuais.
Só que o país não classificou a judoca da categoria -57kg, uma vaga que seria naturalmente preenchida por Rafaela Silva caso a atual campeão olímpica não estivesse suspensa por doping. Assim, será necessário improvisar e escalar a novata Larissa Pimenta (-52kg) em uma categoria acima de seu peso.
Maior esperança de ouro do judô brasileiro, Mayra Aguiar viajará a Tóquio na condição de cabeça de chave, mas cercada de incertezas. A bicampeã mundial e dona de dois bronzes olímpicos na categoria até 78kg foi eliminada em Budapeste logo na segunda luta pela holandesa Marhinde Verkerk, adversária que havia derrotado a gaúcha de 29 anos em quatro das seis lutas anteriores. Vale lembrar que o campeonato na Hungria marcou a volta dela depois da longa recuperação da lesão no joelho esquerdo.
– Faltou ritmo de competição. Agora ela terá mais de um mês para se preparar e chegar forte a Tóquio. A Mayra é muito competitiva. Ela chegou de viagem na terça-feira e no dia seguinte já foi treinar no clube – relatou Antônio Carlos Pereira, o Kiko, técnico de judô da Sogipa.
Para alguns atletas, o Mundial deste ano pelo menos serviu para injetar uma boa dose de confiança às vésperas da Olimpíada. É caso de Maria Suelen, que pôs fim a uma freguesia que durava 11 anos e 17 combates com Idalyz Ortiz, dona de três medalhas olímpicas, uma de cada cor. Na disputa pelo bronze, a atleta paulista venceu a cubana pela primeira vez na carreira por ippon no golden score.
Entre mais baixos do que altos, o judô tentará se manter no topo do ranking de medalhas do esporte brasileiro (22 contra 18 da vela).
— Vejo, sim, a possibilidade de fazer uma boa competição olímpica. Temos algumas categorias em que os nossos atletas apresentaram grandes resultados, portanto se candidatam a brigar pela medalha, e outras não. Porém, nos Jogos Olímpicos sempre acontecem surpresas agradáveis, especialmente no judô brasileiro. Nossa meta principal é manter a continuidade de medalhas olímpicas que vem desde 1984, em Los Angeles. Desde então, conquistamos medalhas em todas as edições dos Jogos Olímpicos — disse Ney Wilson.