As mesmas distâncias — nas piscinas e nas pistas —, o mesmo sonho. A partir desta sexta-feira (11), as gaúchas Jaqueline Weber (atletismo) e Viviane Jungblut (natação) terão as derradeiras oportunidades de conquistar a inédita classificação para os Jogos Olímpicos. Ambas são atletas que acompanho desde 2018 na série Missão Tóquio, na qual ZH apresenta gaúchos ou representantes de clubes do Rio Grande do Sul com chances de participar da primeira Olimpíada da carreira nos Jogos japoneses.
Para Viviane, será de fato a última chance de garantir a vaga em Tóquio. No Parque Aquático Maria Lenk, no Rio de Janeiro, a nadadora de 24 anos cairá sozinha na água em busca do índice olímpico em duas provas de longa distância. Na tarde desta sexta-feira, Viviane nadará os 1.500m livre. No sábado (12), será a vez da tomada de tempo nos 800m livre. Em cada prova, o Brasil poderá levar dois representantes aos Jogos.
Não fosse o coronavírus, talvez a atleta do Grêmio Náutico União já estivesse agora envolvida com os preparativos finais para a viagem ao Japão. Em abril, porém, dias antes da seletiva brasileira da natação, Viviane testou positivo para covid-19 e não pôde participar da competição que definiria os representantes do país.
Mas uma salvaguarda aprovada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA) possibilitou a nadadores infectados pelo vírus uma nova chance de qualificação, marcada para os dias 11 e 12 de junho na mesma piscina e nos mesmos horários das provas realizadas há quase dois meses. Além dela, outros três nadadores vão tentar o índice — nenhum deles nas provas da gaúcha.
A especialidade de Viviane são os 1.500m. Até a seletiva de abril, ela era a recordista brasileira, mas a paulista Beatriz Dizotti cravou 16min22s07 e estabeleceu a melhor marca do país por 41 centésimos. Ana Marcela Cunha conquistou a outra vaga do Brasil na distância. Só que a multicampeã na maratona aquática já declarou que vai se dedicar à preparação nas águas abertas e cederá seu lugar na equipe. Por enquanto, a também gaúcha Betina Lorscheitter, ex-colega de Viviane no União e hoje atleta do Corinthians, está qualificada com 16min27s73.
Portanto, esse é o tempo que Viviane precisará superar para integrar o time olímpico. Em tese, não seria um grande obstáculo. Seu melhor desempenho é cinco segundos mais rápido e ela já baixou dessa marca em outras oportunidades. Mas o caráter atípico da tomada de tempo no Maria Lenk é um ponto de atenção, já que Viviane não terá como referência outras competidoras nas raias ao lado.
— Nadar sozinho é uma desvantagem, certamente. Por outro lado, existe a vantagem de saber o tempo que ela precisa fazer — avalia Christiano Klaser, treinador de Viviane.
Nos 800m feminino, prova em que a nadadora conquistou o bronze no Pan de Lima 2019, não há atletas do Brasil classificados para os Jogos. O desafio da gaúcha, nesse caso, é nadar como nunca antes na distância. A melhor marca da carreira de Viviane é mais de um segundo acima do índice olímpico.
— Acredito que, se a Viviane conquistar a vaga nos 1.500m, também vai conseguir se classificar nos 800m no dia seguinte — aposta o técnico.
Ranking
Já a matemática de Jaqueline em busca do sonho olímpico é um pouco mais complexa. A meio-fundista também sonha com a vaga nos 800m e nos 1.500m, só que nas pistas. Nessas duas provas, ela não tem e dificilmente alcançará o índice olímpico, assim como nenhuma de suas concorrentes domésticas (cada país pode levar até três representantes por prova no atletismo). Mas a World Athletics (antiga Iaaf, a federação internacional da modalidade) abriu uma nova porta para os Jogos neste ciclo olímpico, o ranking por pontos. A ideia é premiar a regularidade dos atletas ao oferecer uma chance extra para quem não atinge índice.
— Existe uma remota possibilidade. É bem difícil. Mas estou na minha melhor forma física e acredito que posso melhorar ainda mais, tanto nos 800m quanto nos 1.500m — afirma Jaqueline, que representa a Associação Medalha de Ouro (AMO), sediada em Santa Cruz do Sul.
A gaúcha de 26 anos ganhou novo ânimo durante o Sul-Americano de Guayaquil, no Equador. No dia 29 de maio, Jaqueline fechou a prova dos 1.500m em quarto lugar, com 4min18s67, baixando em sete segundos sua melhor marca. Nova líder do ranking brasileiro na distância, ela calcula que terá chances de se qualificar para Tóquio se cravar tempos na casa dos 4min15s – e dos 2min3s nos 800m (já correu em 2min6s) – nas duas competições que participará em junho.
A primeira é o tradicional Troféu Brasil de atletismo, que começou nesta quinta-feira (10) em São Paulo. Sem forçar, ela venceu sua bateria nos 800m e avançou para a final a ser disputada às 15h40min desta sexta-feira (11). Na tarde de domingo (13), Jaqueline disputará os 1.500m. E no dia 23 de junho, a uma semana do prazo final de qualificação para a Olimpíada, a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) organizará um meeting na capital paulista.