A pouco mais de dois meses do início, os Jogos Olímpicos de Tóquio ainda passam por um momento de incerteza. Embora o Comitê Olímpico Internacional (COI) mantenha a previsão de abertura do evento para 23 de julho, há no Japão movimentos que pedem o cancelamento da Olimpíada. Além disso, pesquisa feita no último final de semana apontou que mais da metade da população local é contrária à realização dos Jogos.
Especialistas japoneses apontam que o país enfrenta hoje uma quarta onda da covid-19, com números batendo na casa dos 6 mil casos diários há algumas semanas. A Associação de Praticantes Médicos da capital afirma que os hospitais "estão ocupados e quase sem capacidade ociosa". Como medida, o governo adotou estado de emergência em nove cidades, incluindo Tóquio, até pelo menos 31 de maio. Pouco mais de 3% da população local foi vacinada.
Ainda que o COI estime que até 80% dos atletas na Vila Olímpica estarão vacinados, o que não é obrigatório, o temor é que a presença de delegações, árbitros e jornalistas credenciados ajude a levar outras cepas do vírus para Japão. Nesta quarta-feira (19), o alemão Thomas Bach, presidente do COI, reforçou que o Comitê não trabalha com a hipótese de cancelamento.
— Junto com nossos parceiros e amigos japoneses, só posso enfatizar novamente este compromisso total do COI em organizar Jogos Olímpicos e Paralímpicos seguros para todos — disse Bach.
Organizações médicas pedem cancelamento
No último dia 13, o Sindicato Nacional de Médicos do Japão apresentou uma petição que pedia ao governo o cancelamento da Tóquio-2o2o. Em documento enviado ao Ministério da Saúde local, o Sindicato afirmou que a chegada de atletas, jornalistas e árbitros possibilitaria a aparição de novas cepas no país, independentemente de não haver público nas arquibancadas.
Depois, foi a vez a Associação de Praticantes Médicos de Tóquio, que representa cerca de 6 mil profissionais, manifestar-se no mesmo sentid.
— Solicitamos veementemente que as autoridades convençam o COI de que realizar as Olimpíadas é difícil e obtenham sua decisão de cancelamento — dizia a carta.
De acordo com o jornal Nikkei, menos de 30% dos médicos das principais cidades japonesas foram imunizados contra o coronavírus. O maior problema, segundo a publicação, é justamente em Tóquio. O ritmo lento na vacinação dos profissionais de saúde está entre as reclamações feitas pelos grupos que se opõem às Olimpíadas.
Médicos voluntários
Segundo o jornal Japan Times, o Comitê Organizador recebeu 395 inscrições de médicos voluntários para as 200 vagas abertas para atuação nos Jogos. A ideia é de que todos sejam credenciados, e os eventos tenham quase o dobro de profissionais com relação ao plano inicial. Esses voluntários são médicos desportivos com certificado da Associação Desportiva Japonesa e precisam ter licença válida há pelo menos quatro anos. Eles atuarão na Vila Olímpica e nos locais de competições.
Atletas vacinados
Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, Thomas Bach assegurou que pelo menos 75% das pessoas que estarão na Vila Olímpica já se vacinaram ou garantiram a vacinação para antes do início dos Jogos. A ideia é tranquilizar a população local, insegura com o evento.
— Os nossos esforços não param por aí. Temos boas razões para acreditar que esse número ficará bem acima de 80%. O princípio mais importante é muito claro: a Vila Olímpica é um lugar seguro e os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020 serão organizados de forma segura — disse.
População japonesa é contra os Jogos
Pesquisa feita no último final de semana pela Kyodo News, maior agência de notícias do país, revelou que 57% dos japoneses é a favor do cancelamento dos Jogos. O levantamento mostrou também que 87% do público teme que a realização do evento desencadeie um aumento nos casos de covid-19. Em março, o número de pessoas contrárias era de 63%.
O que diz a Sogipa, por meio de Eduardo Maschka Lucas, vice-presidente de esportes
"A Sogipa não trabalha com a possibilidade do cancelamento. Os atletas seguem treinando e se preparando para os Jogos pensando que eles vão ocorrer conforme a programação. Eles vivem em função disso e há toda uma estrutura, que inclui comissão técnica, apoio e até patrocinadores, que estão mobilizados com o objetivo de dar as melhores condições para que a programação até lá siga. O nosso papel é estar pronto para representar o Brasil, o Rio Grande do Sul e a Sogipa nos Jogos.
Sabemos que há dificuldades novas e que o risco de cancelamento existe em razão da pandemia, mas o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) ainda não nos passou nada a respeito dessa situação.
Os atletas estão apreensivos, como todos nós que amamos o esporte, mas todo mundo sabe que o mundo vive uma realidade diferente e que a vida das pessoas deve sempre vir em primeiro lugar. Eles querem competir e se preparam para isso nos últimos cinco anos, mas em geral entendem que o momento impõe obstáculos extras."
O que diz o Grêmio Náutico União, por meio de João Antônio Souza, vice-presidente de esportes
"Basicamente, estamos trabalhando com a hipótese da realização, o evento está agendado, se ocorrer o cancelamento, vamos dar suporte aos atletas. Essa situação é muito triste para os atletas, que, muitas vezes, treinaram e se prepararam uma vida inteira para esse momento. O ciclo olímpico de quatro anos já é longo e, por vezes, alguns atletas podem não ter uma segunda oportunidade de participar dos Jogos. Por outro lado, entende-se a situação de excepcionalidade vivida e a preocupação do povo japonês. Mesmo assim, acreditamos na “bolha” que será criada na vila olímpica e nas instalações das competições e torcemos para a realização dos Jogos, mesmo que sem público.
Talvez, o COB tenha passado algo para os atletas, mas para a gente ainda não. É uma situação muito angustiante para eles. Dentro do contexto, o atleta sabe diferenciar a situação em que estamos, que não é exclusiva para os nossos participantes. Ele não deseja o cancelamento, quer que o evento seja realizado. Caso seja cancelado, estamos aqui para dar todo o suporte para o atleta."