Principal esperança de medalha do atletismo brasileiro, Darlan Romani fez uma escala no Rio Grande do Sul, em 2021, na preparação para os Jogos Olímpicos. Uma escala forçada, é verdade. E que levou o especialista no arremesso de peso a entrar em uma corrida contra o tempo para chegar na melhor forma possível a Tóquio, no fim de julho, quando brigará por um lugar no pódio em uma das provas de maior nível técnico da atualidade.
Recordista sul-americano e ouro no Pan de Lima, em 2019, o catarinense de 30 anos encerrava o período de treinamentos da última temporada quando, em dezembro, sentiu uma lesão nas costas. Como as dores persistiam, o gigante de 1m88cm e 140kg procurou o ortopedista e traumatologista André Guerreiro, coordenador médico da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt). A preocupação, claro, era a aproximação da Olimpíada.
Foi então que o gaúcho de Pelotas convidou o atleta para fazer o tratamento em sua clínica no município da Região Sul. No final de fevereiro, Darlan arrumou as malas, deixou Bragança Paulista (SP), onde treina no Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo, e voou para o RS.
Durante 45 dias, o foco foi a reabilitação física. Como seu técnico, o cubano Justo Navarro, estava impossibilitado de sair da ilha caribenha, e a equipe que o assistia – além de Guerreiro, acompanhavam sua recuperação o fisioterapeuta Ederson Vergara e o educador físico Jeferson Garcia – estava sediada em Pelotas, o atleta decidiu prolongar sua estada na cidade depois de ser liberado para os treinamentos na pista.
– É claro que, pelo tempo que falta para a Olimpíada, não será uma preparação igual às anteriores. Mas Darlan está confiante, não sente mais dores. Ele está conseguindo fazer todos os movimentos e vai poder treinar normalmente – afirma Guerreiro.
Atleta militar (é sargento da Aeronáutica), Darlan contou com o apoio de outra instituição das Forças Armadas, o Exército, para manter sua preparação em Pelotas. Para oferecer ao catarinense as melhores condições de treino, o 9º Batalhão de Infantaria Motorizada reformou suas instalações de atletismo, em especial a área de arremesso, aquele espaço circular onde o atleta gira o corpo antes de lançar o peso o mais longe que puder – no caso do brasileiro, a 22m61cm de distância, marca registrada em 2019, que lhe garantiria o ouro no Rio 2016.
O problema para Darlan é que, além das dores que atrasaram sua preparação na largada do ano olímpico, a régua do arremesso de peso subiu muito desde a última edição dos Jogos. No evento carioca, o americano Ryan Crouser venceu a prova com 22m52cm, à frente do compatriota Joe Kovacs (prata com 21m78cm) e do neozelandês Tomas Walsh (bronze com 21m36cm). Em sua primeira Olimpíada, o catarinense foi à final e terminou em quinto lugar (21m02cm).
Recorde
No Mundial de 2019, em Doha, Darlan fez um arremesso que o tornaria campeão em qualquer uma das nove edições do campeonato neste século. Mas sua marca, 22m53cm, não foi suficiente nem para levá-lo ao pódio (terminou em quarto lugar). Na última das seis tentativas, Kovacs conquistou o título mundial com 22m91cm, um centímetro a mais do que Crouser (prata) e Walsh (bronze).
No ano passado, já em meio à pandemia, Crouser também cravou 22m91cm. Em 2021, os dois americanos já arremessaram na casa dos 22m70cm. A meta da dupla e também de Walsh, que foi campeão mundial em 2017, é superar a barreira dos 23m, feito só alcançado por dois atletas na história: Randy Barnes (EUA), dono de um dos recordes mais longevos do atletismo (23m12cm, em 1990), e Ulf Timmermann, que registrou 23cm06cm em 1988, quando representava a antiga Alemanha Oriental.
Na semana que vem, o atleta volta a Bragança Paulista, onde dará sequência à preparação até a viagem a Tóquio. Para brigar por medalha, ele sabe que terá de superar adversários de peso no Japão.