O dia 24 de julho de 2020 deveria marcar a abertura das Olimpíadas de Tóquio. Em virtude pandemia do coronavírus que vem assolando o mundo desde o começo do ano, ainda em março,três meses antes do início, o Comitê Olímpico Internacional tomou uma decisão até então inédita e anunciou o adiamento dos Jogos para 2021. Assim, Tóquio 2020 passou a ter uma nova data para iniciar: 23 de julho do ano que vem.
Faltando 363 dias para o começo das atividades esportivas na capital japonesa, os próximos meses serão de muitas perguntas. A maior delas é se vale despender uma enorme estrutura para fazer os Jogos ainda em meio a uma pandemia em que inúmeros países e atletas foram prejudicados com a proibição de atividades esportivas. Por outro lado, a execução de um evento do porte de uma Olimpíada seria basicamente um marco para mostrar que o mundo dá pequenos passos para acabar com o “novo normal” e voltar a uma realidade com menos restrições, ainda que com máscaras. O clima de incerteza da realização ou não dos Jogos ronda a cabeça do COI, do governo japonês, das entidades esportivas envolvidas e da maioria dos atletas que ou já conquistaram vaga olímpica ou que ainda buscam seu lugar no Japão.
A dúvida que paira principalmente na cabeça do presidente do COI, o alemão Thomas Bach, medalhista olímpico na esgrima em 1976, é sobre a necessidade ou não da existência de uma vacina para que os Jogos de Tóquio sejam realizados em 2021. Caso a imunização não seja fornecida até um prazo aceitável para o órgão, alternativas vão ter que ser providenciadas, buscando encontrar uma maneira segura de seguir com a competição em tempos de pandemia do coronavírus. Aventou-se a possibilidade da realização do evento sem a presença de torcedores, com as instalações olímpicas com portões fechadas, mas Bach, recentemente, descartou essa alternativa.
— Os Jogos Olímpicos a portas fechadas são claramente algo que não queremos. Portanto, estamos trabalhando para uma solução para os Jogos Olímpicos, que por um lado salvaguarde a saúde de todos os participantes e por outro lado também reflita o espírito olímpico.
A governadora de Tóquio Yuriko Koike acredita que pode ser preciso um acordo internacional de viagem para o Japão receber com segurança atletas e torcedores de todo mundo e não descarta um período de quarentena se for necessário. A realidade é que algumas autoridades do governo de Tóquio já cogitam que os Jogos precisarão ser simplificados para economizar custos. Diminuir o revezamento da tocha e as cerimônias de abertura e encerramento estão sendo estudados.
— Os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 são um evento importante que todos vêm aguardando.O adiamento custa muito e, mais do que tudo, não sabemos como estará a situação do coronavírus em julho do próximo ano. Temos algumas incertezas aqui. Custa muito para começar, precisamos da compreensão da população de Tóquio para isso. Não devemos gastar muito. Temos que tornar os Jogos seguros para atletas e espectadores — disse Koike em entrevista ao canal de notícias norte-americano CNN no começo do mês de junho.
Preparação desigual
Em meio a sequência de competições que não voltaram ainda no mundo esportivo, existem nichos do mundo esportivo que veem com preocupação o fato de alguns países já estarem treinando, enquanto outros ainda sofrem com o fato da prática esportiva, caso do Brasil, por exemplo. Isso poderia provocar um desnível técnico durante a realização dos Jogos de Tóquio, o que, segundo Lars Grael, medalhista olímpico por duas vezes e consultor esportivo, pode prejudicar um dos pilares das Olimpíadas: o fair play.
—Se o COI permitir que essa condição de assimetria aconteça, isso afetará um dos pilares do Jogos Olímpicos que é o fair play e se não houver o fair play a Olimpíada fica seriamente ameaçada. A posição de comitês chave nesse caso será determinante para a tomada de decisão — argumenta Lars.
A paralisação não prejudicou apenas quem já tinha vaga garantida em Tóquio, mas também quem ainda buscava um lugar nas Olimpíadas. Hoje, o COB já preencheu 177 vagas de um total de 270 a 280 atletas que integrarão a delegação brasileira no Japão — os critérios de classificação serão respeitados para o evento em 2021. Modalidades como natação (provas individuais), judô e boxe, entre outras, terão até o dia 21 de junho de 2021 para definirem seus representantes. O que, de certa forma, aumenta a ansiedade dos atletas para as competições do ano que vem.
— Nós temos um enfrentamento ao coronavírus diferentes em diversas partes do mundo. Tem alguns países que já estão em um processo mais adiantado, nós temos países como por exemplo Brasil e Estados Unidos que estão vivendo o auge do enfrentamento à pandemia e o atleta tá ansioso, porque ele vê que os Jogos se aproximam, muito dos seus adversários estão retornando aos treinamentos e em muitos momentos ele está em casa, esperando para poder voltar a treinar, então acho que são esses dois processos do ponto de vista emocional que mais impactam os atletas — afirma Rogério Sampaio, diretor-geral do COB.
A entidade buscou ajudar os atletas e embarcou, no último dia 17 de julho, 70 atletas de seis modalidades (boxe, ginástica artística, ginástica rítmica, judô, nado artístico e natação) para o projeto chamado “Missão Europa”, que levou para o continente europeu esportistas brasileiros para treinamentos. Essa foi a primeira delegação que tem como objetivo retomar a preparação visando os Jogos. O movimento deve ocorrer constantemente entre os meses de julho e dezembro e levará os atletas para Portugal.
Dentre os 70 esportistas, 11 deles treinam no Rio Grande do Sul. Luís Porto, da ginástica artística, e Vitória Guerra, da ginástica rítmica, ambos do Grêmio Náutico União, e nove judocas da Sogipa, Nathália Brígida, Aléxia Castilhos, Ketleyn Quadros, Maria Portela, Mayra Aguiar, Daniel Cargnin, David Lima, João Pedro Macedo e Leonardo Gonçalves serão os representantes do RS nessa primeira fase da missão. Além dos atletas, embarcam também nesta sexta o preparador físico da Sogipa Wagner Zacanni e o fisioterapeuta do clube Daniel Carrasco. Em agosto, outros atletas irão para o continente europeu, casos do triplista da Sogipa Almir Júnior, junto com o seu treinador José Haroldo Loureiro Gomes, o Arataca, e Viviane Jungblut, nadadora do União, também com seu treinador Christiano Klaser.
— Essa viagem vai ser muito positiva, porque vamos poder retomar os treinos de judô, já que no Brasil a gente não tem previsão alguma. A gente já está na nona semana de treinos físicos, vamos conseguir focar nos treinos de kimono. Sair um pouco daqui, estamos presos em casa sem poder fazer o que a gente mais gosta. A questão psicológica vai fazer a diferença também — afirma Maria Portela, judoca da Sogipa e praticamente garantida em Tóquio.
Com sede no Rio de Janeiro, o COB, desde o dia 20, reabriu o Centro de Treinamentos do Time Brasil, permitindo o acesso de treinadores, equipes multidisciplinares e funcionários do COB, além dos atletas, todos testados previamente para a covid-19.O CT estava fechado desde 18 de março. Para a reabertura, o COB redigiu um documento, chamado de Guia para a Prática de Esportes Olímpicos no Cenário da covid-19, que foi lançado em junho pela entidade. Neste primeiro momento no máximo 40 atletas poderão entrar na instalação. O primeiro grupo a utilizar o espaço é formado por atletas que residem no Rio e que já garantiram vaga para os Jogos Olímpicos de Tóquio ou estão próximos da classificação olímpica e não integram a Missão Europa.