A equipe de Esportes do Grupo RBS promove uma série de matérias chamadas Jogos do Futuro. Além de apresentar entrevistas para discutir o cenário de incertezas para o esporte olímpico no mundo pós-pandemia, também contará a história de atletas que treinam no Rio Grande do Sul e que ou estarão em Tóquio ou brigam para estar. Nesta terça-feira (21), Fernanda Oliveira, velejadora, medalhista em Pequim em 2008 e participante de cinco Olimpíadas é a apresentada pelo projeto.
Assim que entrar nas águas de Enoshima, uma pequena ilha localizada na baía de Sagami, local onde vai ser realizada as regatas em Tóquio em 2021, Fernanda Oliveira disputará a sexta — e possivelmente a última — Olimpíada da carreira. Aos 39 anos (terá 40 no evento do ano que vem), a velejadora do Clube dos Jangadeiros e a parceira de barco Ana Barbachan garantiram a vaga ao ficarem entre as 10 melhores duplas no Mundial da classe 470 na Espanha, ainda em 2019.
Sua vida, tanto profissional quanto pessoal, é dividida em ciclos olímpicos. Em Atenas 2004, já estava formada em Administração. Depois de Pequim 2008, se casou. Após Londres 2012, engravidou de Roberta, a filha mais velha. Passados os Jogos do Rio 2016, teve Arthur, o caçula. Assim, sempre apoiada pelo marido Diogo, consegue conciliar família e uma atividade profissional que exige viagens e longos períodos de afastamento.
— Graças ao meu amor pelo esporte que eu tive essa coragem de desempenhar essa duas tarefas tão árduas. Sempre quis construir uma família e sempre tive muito certo a paixão e amor pela vela, e a dificuldade que teria para abandonar isso. Então, a maneira com que encontrei foi tentar conciliar tudo isso. Isso não seria possível se todas as partes ao meu redor não tivessem comprado esse desafio junto comigo — relata a gaúcha.
Mas essa divisão de atenções deve acabar logo após o fim dos Jogos no Japão. Isso porque uma iniciativa da Federação Internacional de Vela para equiparar o número de representantes masculinos e femininos em Olimpíadas vai desfazer a parceria depois de 2021 — a classe 470 passará a ser mista. Assim, impedida de competir com a amiga Ana, Fernanda deverá voltar suas atenções ainda mais à família e já cogita encerrar a carreira na vela olímpica. Ainda assim, se o adiamento dos Jogos adiou o sonho de muitos atletas, prolongou a parceria de ambas por mais um ano.
— Esse fim um dia teria de existir, a gente também não é eterno, nem no esporte, nem em lugar nenhum. Mas vai ser muito duro para a gente, primeiramente essa função nossa como dupla em si, esse convívio tão estreito, uma amizade e um sonho dividido tão grande permanente. Vai ser muito difícil a gente se adaptar as nossas vidas com um dia a dia completamente diferente, sem estar uma com a outra — disse Fernanda.
Mas essa questão vai ficar só para depois do ano que vem. Fernanda vive e convive com os Jogos desde Sydney em 2000, quando terminou em 19º lugar. A partir de então, marcou presença em todas as edições. Em Tóquio, a timoneira igualará o feito de Torben Grael (vela), Rodrigo Pessoa (hipismo) e Hugo Hoyama (tênis de mesa), todos com seis participações olímpicas. Só ficará atrás do também velejador Robert Scheidt e de Formiga, meio-campista da Seleção de futebol feminina — ambos vão para sétima presença consecutiva no evento. O ponto alta de Fernanda foi em Pequim 2008, quando conquistou a primeira medalha da vela feminina brasileira, ao lado de Isabel Swan: o bronze na classe 470.
O pódio na China foi a consolidação de um trabalho iniciado em 1997, quando a gaúcha ainda estava no terceiro ano do Ensino Médio e conciliava um curso pré-vestibular com os treinamentos da vela. Naquele ano, Fernanda comprou seu primeiro barco. No ano anterior, tinha participado de alguns campeonatos, mas ainda não se sentia parte do mundo profissional. Aos 16 anos, resolveu mergulhar na rotina de aulas, treinamentos, academia, tudo em busca de disputar os Jogos de 2000:
— Foi uma rotina supercansativa, mas era meu primeiro ano de campanha olímpica, que eu queria três anos depois estar numa Olimpíada. E a rotina que eu tinha, claro, mudou um pouquinho porque hoje eu tenho outras atribuições pessoais, mas a minha rotina de treino já era muito parecida com o que ela é hoje, no mesmo barco, no mesmo local de treino que é o Jangadeiros.
Agora, 21 anos depois de sua primeira Olimpíada, Fernanda busca subir outra vez no pódio olímpico, ainda que prefira não estabelecer a cor de medalha. O principal objetivo é ter boa participação no evento. Pela sexta vez e, talvez, última vez em sua vitoriosa carreira.
*Colaboraram Paula Menezes e Lucas Bubols