A equipe de Esportes do Grupo RBS promove uma série de matérias chamadas Jogos do Futuro. Além de apresentar entrevistas para discutir o cenário de incertezas para o esporte olímpico no mundo pós-pandemia, também contará a história de atletas que treinam no Rio Grande do Sul e que ou estarão em Tóquio ou brigam para estar. Nesta sexta-feira (24), apresentamos Aléxia Castilhos e Ketleyn Quadros, judocas da Sogipa que duelam por uma vaga nos Jogos Olímpicos do ano que vem.
Duas histórias diferentes, duas gerações distintas, a mesma briga: a vaga nos Jogos de Tóquio na categoria até 63kg do judô. Ketleyn Quadros e Aléxia Castilhos estão separadas por 581 pontos, com vantagem para a primeira, no ranking que definirá os classificados para o Japão. Conforme os critérios da corrida olímpica, as 14 mulheres mais bem colocadas em cada faixa de peso garantem presença no evento previsto para começar em 23 de julho de 2021. Mas cada país pode classificar apenas um judoca por categoria.
Além de defenderem a seleção brasileira em competições mundo afora, Ketleyn e Aléxia dividem o mesmo tatame da Sogipa, clube de Porto Alegre.
Cinco eventos no circuito mundial de judô definirão quem irá representar o Brasil em Tóquio, ainda que elas defendam pontuações do ano passado, o que muda a dinâmica do ranking. Na letra fria da regra, a porcentagem de chances para uma ou outra seria de 50% para cada, mas nem isso elas parecem concordar.
— Em uma reta final para 2020, com certeza as minhas chances eram muito maiores, não eram 50/50. Uma vantagem muito grande, numa reta final, onde não perderia pontos nenhum e ela teve boas pontuações, mas no início do ano e ainda ela perderia ponto e ainda teria que tirar essa diferença. Com esse adiamento de 12 meses, o que eu acho? Melhorou pra ela, mas não piorou pra mim — afirma Ketleyn, natural de Ceilândia (DF).
— Acho que fica 50/50 em questão de chance, porque nós duas temos as mesmas chances, estamos dentro das mesmas competições. Mas dentro do tatame cada uma trabalha da sua maneira e é isso que vai levar a gente pra Olimpíada — ressalta Aléxia, nascida em Porto Alegre.
Os caminhos das atletas se cruzaram em 2018. Ketleyn, então com 30 anos e já medalhista olímpica (bronze em Pequim 2008), procurou Antonio Carlos Pereira, o Kiko, técnico da equipe adulta da Sogipa, para treinar no clube, que já contava com Aléxia na mesma categoria. A partir dali, as colegas de seleção se tornaram parceiras diárias, cada uma em seu canto. Curiosamente, aquela foi a melhor temporada da gaúcha. Foi a atleta mais consistente do ano no judô brasileiro. Na seleção feminina, ninguém ganhou tantas medalhas. Iniciou 2018 na 146ª posição do ranking e, após um ouro e cinco bronzes, terminou a temporada como a 26ª melhor judoca do mundo no peso meio-médio. Ali, se aproximou de Ketleyn no ranking e começou a travar uma disputa doméstica pela vaga olímpica. A juventude de Aléxia, 25 anos, passou a confrontar a experiência da judoca de 32 anos Distrito Federal, mas ambas garantem que não há rivalidade entre elas.
— A gente não fica disputando aqui dentro do tatame, a gente não treina juntas, a gente não faz shiai, que é a competição de treino pra competição. Então acho que somos mais colegas de treino mesmo. Ela fazendo o trabalho dela, com os parceiros dela, e eu fazendo o meu — diz Aléxia.
— A gente se respeita muito dentro do tatame. Nunca tivemos problema de atrito, pelo contrário, a gente treinava muitas vezes antes, mas agora, nessa reta final, cada uma fica no seu cantinho treinando e respeitando a individualidade de treino — comenta Ketleyn.
A retomada do calendário de competições do judô ainda não têm data definida. Até por isso, ambas foram para Portugal na semana passada, no projeto idealizado pelo Comitê Olímpico do Brasil chamado "Missão Europa", que visa retomar a preparação para os Jogos. Quando tudo voltar ao normal, a briga será praticamente ippon por ippon.
*Colaboraram Paula Menezes e Lucas Bubols