A equipe de Esportes do Grupo RBS promove uma série de matérias chamadas Jogos do Futuro. Além de apresentar entrevistas para discutir o cenário de incertezas para o esporte olímpico no mundo pós-pandemia, também contará a história de atletas que treinam no Rio Grande do Sul e que ou estarão em Tóquio ou brigam para estar. Nesta quinta-feira (23), apresentamos Viviane Jungblut, nadadora do Grêmio Náutico União, que ainda busca uma vaga em Tóquio.
— Foram oito décimos. Não foi nem um segundo. Entre a primeira (colocada) e a 13ª, foram apenas cinco segundos de diferença.
O tempo que você demorou para ler a frase acima foi maior do que levou Viviane Jungblut, nadadora do Grêmio Náutico União, a mudar os planos para os Jogos de Tóquio, adiados para 2021 em decorrência da pandemia de coronavírus. A competição mencionada pela gaúcha se refere foi o Mundial de Gwangju (Coreia do Sul), em 2019, disputa na qual poderia ter garantido a vaga na Olimpíada.
Para isso, ela precisaria ter finalizado a disputa da maratona aquática de 10km entre as 10 primeiras, mas por menos de um segundo não conseguiu a classificação na prova. Decepção superada, inclusive com duas medalhas de bronze no Jogos Pan-Americanos de Lima 2019 — uma nos 800m nado livre e a outra na maratona aquática — dias depois, o foco saiu das águas abertas e foi para a piscina. O que revela a versatilidade da atleta.
Aos 24 anos, a nadadora tem uma relação com o mundo aquático. Ainda criança, era levada pela mãe para buscar os irmãos mais velhos no clube. Assim, por diversão, se aproximou das piscinas. Em dado momento, disse aos pais que gostaria de começar a treinar também.
— Entrei pra escolinha com sete anos de idade, mas antes disso já brincava direto na piscina, desde que era bebê. Chegou uma época em que falei para os meus pais que queria entrar pra escolinha e começar a treinar como meus irmãos — conta Viviane.
A primeira medalha não demorou para chegar — mas levou um pouco mais de tempo para ser colocada no peito. Aos oito anos, Vivi chegou em segundo lugar em uma competição, mas resolveu ir para casa antes de subir ao pódio para receber a premiação. Só no dia seguinte, quando chegou ao União, seu treinador lhe entregou a medalha de prata, conquistada na véspera.
Da menina que acompanhava a família no clube à jovem que está às portas de sua primeira Olimpíada, muita coisa se passou. São 17 anos de treinamentos, premiações, de uma rotina intensa de uma atleta de alto desempenho. A participação a Tóquio agora depende de duas tomadas de tempo nas seletivas. Caso queira se classificar nos 800m livre, precisará nadar abaixo dos 8min33s36. Nos 1.500m, a marca a ser batida é 16min32s4. Se vencer estes índices estabelecidos pela Federação Internacional de Natação (Fina) e chegar entre as duas primeiras, a nadadora do União garante seu lugar entre os atletas brasileiros em Tóquio. No segunda prova, em competições anteriores, a gaúcha já fez um tempo bem abaixo do índice olímpico (16min22s48) e, na primeira, seu recorde pessoal é próximo ao necessário (8min34seg92), o que a deixa bastante confiante para conseguir chegar ao Japão.
— Nos 1.500m livre, já fiz algumas vezes esse tempo. Preciso repeti-lo na hora da seletiva. Minha meta é 16min30s. Cada competição é uma competição, cada prova é uma prova. A gente tem de estar 100% no dia certo, na hora certa. Mas saber que é uma coisa que já fiz, com certeza me dá confiança para fazer de novo — ressalta.
A seletiva da natação é o Troféu Maria Lenk, que deveria ter ocorrido em abril e depois foi remarcada para junho até ser cancelada, às vésperas dos Jogos — antes marcados para começar em 24 de julho deste ano. Só que, daqui até 2021, tudo passa em um piscar de olhos, como se fosse a fração de segundos que fez a nadadora gaúcha ficar de fora dos 10km da maratona aquática.
— A maratona foi bem pertinho. Uma prova de 10 quilômetros, quase duas horas, e foi tudo decidido na chegada. Fiz o meu melhor, foi por pouco tempo. Depois, tentei ver o lado positivo, o que fiz de bom durante a prova, e levar isso para as provas de piscina — finalizou.
*Colaboraram Paula Menezes e Lucas Bubols