Com vaga para Tóquio já assegurada ou ainda em busca da classificação para os Jogos, com ou sem experiência olímpica, atletas gaúchos ou que representam clubes do Estado se mostraram aliviados com a decisão do Comitê Olímpico Internacional (COI) de adiar o megaevento esportivo para 2021 em decorrência do avanço da covid-19.
Um dos maiores nomes do esporte brasileiro, Mayra Aguiar, 28 anos, foi uma das primeiras atletas a validar a medida. Em vídeo, a bicampeã mundial e dona de dois bronzes olímpicos (Londres 2012 e Rio 2016) destacou que a prioridade mundial no momento é combater a pandemia do coronavírus.
— Acredito que tenha sido a melhor decisão para este momento. A luta agora é outra. A gente tem de priorizar a nossa saúde, nos manter em casa e cuidar dos mais próximos. Vamos combater esse vírus o mais rápido possível. Ano que vem a gente comemora e curte a Olimpíada. Agora vamos nos cuidar. No momento isso é o mais importante — disse a meio-pesado (-78kg) gaúcha, que já estava com a vaga garantida para sua quarta participação nos Jogos.
Outro medalhista olímpico do judô, o também sogipano Felipe Kitadai chegou a manifestar na véspera do anúncio do COI, também por vídeo, um apelo pela mudança da data da Olimpíada.
— Estava torcendo por isso, é a saúde mundial que está em jogo. Não tinha sentido fazer uma festa em um país que receberia atletas e torcedores de todo o planeta, com grande risco de transmissão da doença — disse o atleta paulista a GauchaZH.
— Tenho o sonho de ser campeão olímpico, mas acima do meu sonho está a luta para conter essa pandemia —completou.
Bronze em Londres 2012, o judoca de 30 anos ainda disputava a única vaga na categoria até 60kg. Segundo Kitadai, o adiamento será uma oportunidade de aprimorar a formas física e técnica para a Olimpíada:
— Quando fui para Londres, era muito jovem. Queria que tudo fosse rápido, mas, quando cheguei lá, só pensava que gostaria de mais tempo para ter me preparado melhor. Agora, teremos este tempo.
— Provavelmente será minha última Olimpíada. Estava apreensiva. Como iríamos nos preparar treinando em casa? — questionou a peso médio (-70kg) Maria Portela, 32 anos, classificada para os Jogos pela terceira vez.
— Foi uma decisão assertiva do COI. Agora, meus sonhos e objetivos continuam vivos, e terei um ano a mais para me preparar — afirmou a judoca.
Os Jogos Olímpicos são o maior objetivo e desafio na carreira de um atleta profissional. Estamos vivendo um momento novo na história, o evento até então só havia sido adiado por conta das Guerras Mundiais. Muitos atletas ainda estão na briga por vaga nos Jogos. O adiamento nos dá mais tempo para nos prepararmos
VINÍCIOS DELAZERI
Atleta gaúcho de Remo
Velejadores gaúchos que já tinham garantido a vaga para Tóquio 2020 também veem no adiamento a oportunidade de melhorar a preparação para os Jogos — até porque, com o cancelamento das competições que antecedem a Olimpíada e a necessidade de isolamento social, nenhum atleta está conseguindo treinar com qualidade a quatro meses do evento.
De acordo com Samuel Albrecht, que compete na Nacra 17 ao lado da carioca Gabriela Nicolino, o cenário só iria piorar daqui para frente. Diante das incertezas em relação ao futuro, comemorou a decisão do COI.
— Nós, atletas, temos metas claras. Ninguém treina sem ter um objetivo definido. Até poucos dias atrás ainda estávamos conseguindo treinos, mas o ânimo era zero. Se tivesse Olimpíada, seria um desastre — disse o gaúcho de 38 anos, que já participou de duas edições dos Jogos.
Para Fernanda Oliveira, 39 anos, que faz parceria com Ana Barbachan, 30 anos, na classe 470 feminino desde Londres 2012, o evento no Japão seria sua sexta Olimpíada na carreira. Mas a medalhista de bronze em Pequim 2008 diz que o sucesso esportivo está em segundo plano agora.
— Não existia o menor clima. Os Jogos Olímpicos são uma celebração de todos os povos, mas não tem como celebrar nada neste momento. É uma questão de respeito à humanidade. Para os atletas, foi dada a chance de mais tempo de preparação.
Vice-campeão mundial indoor no salto triplo, Almir Júnior, 26 anos, adotou o mesmo tom em relação ao adiamento dos Jogos, pelos riscos à saúde e pelos prejuízos à preparação dos atletas. Mesmo assim, o atleta da Sogipa, que já tinha obtido o índice olímpico, demonstrou preocupação com o futuro:
— A decisão foi correta, é indiscutível, claro, pelo bem-estar da população e dos atletas. A grandiosidade dos Jogos Olímpicos não merecia isso (a manutenção das datas mesmo com a pandemia). Mas a frustração pessoal é inevitável. Era o ano da minha vida, dediquei 100% do meu tempo para me preparar. Não tive Natal nem Ano-Novo, fiquei longe de amigos, da família. De estar classificado para os Jogos, agora é só tenho incertezas. Será que vou me preparar tão bem outra vez? Dá até medo.
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