Foram 11 gols marcados em dois amistosos, nenhum sofrido e 23 jogadores testados. Esse é o saldo final dos 12 dias de preparação na Granja Comary, em Teresópolis, no Rio de Janeiro, para a seleção brasileira iniciar o Torneio Pré-Olímpico em busca de vaga nos Jogos de Tóquio 2020. André Jardine e seus comandados já estão na Colômbia, onde estreiam no domingo (19), às 22h30min (horário de Brasília), contra o Peru. O canal SporTV transmite a competição ao vivo.
Atual campeão olímpico, o time brasileiro chega à competição como um dos grandes favoritos. Não somente pela última medalha de ouro, mas também pelo título do Torneio de Toulon — uma das competições sub-23 mais tradicionais do mundo. A base da equipe é praticamente a mesma que levantou o caneco na França, em 2019. Entre eles, o volante gremista Matheus Henrique e o zagueiro colorado Bruno Fuchs retornam ao time. Mas, desta vez, com a companhia dos também gremistas Phelipe Megiolaro e Pepê. O quarteto será a dupla Gre-Nal na Colômbia em busca da vaga olímpica.
Dos quatro, Matheus Henrique é titular absoluto da equipe de Jardine. Capitão na goleada por 4 a 0 sobre o Boavista, no jogo-treino do último domingo (12), o volante apresentou um lado pouco conhecido pelos torcedores durante seus dias de amarelinha: a liderança no vestiário. Em vídeo divulgado pela CBF TV, no canal da entidade no Youtube, além do belíssimo gol de falta marcado pelo camisa 8 na partida, as imagens de bastidores mostram o discurso feito pelo jogador do Grêmio.
— Eu só tenho um pedido para fazer a vocês: renovar esse espírito de equipe que a gente tem e que começou em Toulon. Acho que a comissão não tem nada do que reclamar desse grupo. Não falta empenho, dedicação e agora é só mostrar dentro de campo. Mostrar porque a gente é isso. Pensamento positivo, vamo! — disse Matheus Henrique ao grande grupo, portando a braçadeira de capitão, sendo seguido de aplausos.
O espaço conquistado pelo gremista no time titular é fruto do velho problema que assombra todas as convocações da equipe sub-23: a liberação de atletas que atuam na Europa. O que mais pesa sob o Brasil de Jardine são algumas ausências consideradas essenciais para a preparação de uma seleção que quer buscar o bi olímpico. Por não ser data Fifa, os clubes europeus não têm obrigação de ceder seus jogadores. Em relação a convocação inicial, por exemplo, Jardine já mexeu na lista duas vezes. Os volantes Wendel, do Sporting e Douglas Luiz, do Aston Villa — esse último escolhido melhor jogador em Toulon —, são dois dos diversos atletas que tiveram negados seus pedidos de liberação.
Outros nomes, no entanto, já nem são mais chamados por Jardine justamente pelo permanente "não" dos clubes. Os casos de Renan Lodi e Rodrygo. Assim como os frequentemente convocados Lyanco, Thiago Maia, Mateus Vital e Pedro. Mas a relação mais ampla de selecionáveis ainda poderia incluir Éder Militão, Lucas Paquetá, Gabriel Jesus, Richarlison, David Neres e Vinícius Júnior. Todos estes possuem idade olímpica, mas sequer foram utilizados por Jardine, ao já integrarem o grupo principal de Tite.
No elenco composto por Jardine, destaque também para vários jogadores bem abaixo do limite de idade dos Jogos Olímpicos. Os atletas convocáveis podem ter nascido a partir de 1997, mas oito deles nasceram a partir de 1999, a maioria destes à disposição do setor ofensivo. Reinier é o caçula da turma, aos 17 anos.
Adversários e torneio
A sorte parece estar ao lado dos brasileiros em um primeiro momento. No sorteio dos grupos do torneio, o Brasil se deu bem. Cabeça de chave junto com a anfitriã Colômbia, a seleção brasileira escapou da Argentina e vai jogar a primeira fase contra Paraguai, Bolívia, Uruguai e Peru. Na outra chave, o Grupo A, estão Argentina, Venezuela, Colômbia, Chile e Equador. A América do Sul não tem um Pré-Olímpico há 16 anos, desde os Jogos de Atenas, em 2004, e costumava utilizar o Campeonato Sul-Americano do ano anterior a Olimpíada como seletiva. Para este ciclo, porém, a Conmebol decidiu voltar a organizar a competição, que começará neste sábado e terminará em 9 de fevereiro — para felicidade brasileira, uma vez que o país encerrou o Sul-Americano na quinta colocação. Classificam-se os dois primeiros, sem repescagem.
O Brasil deu sorte já que, na primeira fase, escapou não só da Argentina, mas também da Venezuela, cuja geração de jogadores nascidos em 1997 e 1998 foi vice-campeã mundial sub-20 em 2017. O Equador, que vem de um título (2019) e um terceiro lugar (2017) nos últimos Sul-Americanos Sub-20, também está na outra chave, contra os donos da casa, a sempre forte Argentina e o Chile.
Após encarar o Peru, o Brasil joga contra o adversário mais forte do grupo, o Uruguai, no dia 22 — a equipe foi quarta colocada no Mundial Sub-20 de 2017. O time de André Jardine folga na terceira rodada e volta a campo para outros dois jogos: contra a Bolívia no dia 28, e frente ao Paraguai no dia 31. Desde 2013 nenhum desses rivais, exceto o Uruguai, chegou ao Mundial da categoria e nenhum deles passou da primeira fase nos dois últimos Sul-Americanos.
Equipes que, apesar de assustar, passam pelo mesmo problema: a liberação de atletas. O técnico uruguaio Gustavo Ferreyra, por exemplo, anunciou uma lista sem estrelas. Os destaques da lista são justamente os jogadores que ficaram fora. Entre eles, o volante Rodrigo Bentancur, da Juventus, e o meia Federico Valverde, do Real Madrid. Os jogadores de maior destaque estão o meia Carlos Benavídez, do Independiente-ARG, além do atacante Diego Rossi, que defende o Los Angeles FC, dos Estados Unidos.
A toda poderosa Argentina segue a mesma linha de problemas. Apesar do técnico Fernando Batista passar as últimas semanas visitando clubes, não foi muito efetivo. Com nenhum nome de peso internacional convocado, o maior destaque do time argentino é o atacante Gaich, artilheiro nos Jogos de Lima no Peru e titular do San Lorenzo. O clube recentemente recusou uma proposta de 13 milhões de euros do futebol europeu por ele.
Caso consiga confirmar o favoritismo e avançar no Pré-Olímpico, o Brasil faz mais três partidas no quadrangular final, nos dias 3, 6 e 9 de fevereiro. França, Alemanha, Romênia, Espanha, Nova Zelândia e Japão, como dono da casa, já estão classificados para Tóquio 2020.