Único brasileiro a conquistar ouro na ginástica artística na história dos Jogos Olímpicos, Arthur Zanetti, 28 anos, tem motivos de sobra para se despedir de 2018 com a sensação de dever cumprido. E não só pelos resultados obtidos dentro dos ginásios de competições.
Depois de quatro anos, o paulista de 1m56cm e 63kg voltou ao pódios em Campeonatos Mundiais, com a prata conquistada em novembro em Doha, no Catar. Foi a quarta medalha do ginasta na história da competição — ele já havia conquistado um ouro, em 2013, e outras duas pratas, em 2011 e 2014. Ainda em novembro, Zanetti entrou para o time dos casados.
Duas semanas depois de faturar a prata de Doha, o ginasta celebrou a união com Jéssica Coutinho, com quem havia começado a namorar no último semestre de Educação Física, em 2016. Além disso, ele inaugurou neste mês uma academia fitness em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Para fechar uma temporada de realizações, na última terça-feira (18), o atleta recebeu o troféu de melhor ginasta do país no Prêmio Brasil Olímpico, em evento organizado pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Zanetti fez um balanço da temporada, revelou sua motivação pessoal para os Jogos de Tóquio e falou sobre a rivalidade com o grego Eleftherios Petrounias, que superou o brasileiro no Mundial e também nos Jogos do Rio 2016. O atleta indicou ainda que a Olimpíada de 2020 será sua última grande competição na carreira. Confira:
Não dá para reclamar de 2018, né? Você voltou ao pódio, casou-se, inaugurou academia... À exceção de 2012, foi seu melhor ano?
(Risos) Com certeza, foi. Esse ano foi bem atípico. São conquistas profissionais e pessoais. Isso está sendo maravilhoso para mim.
Se conseguir mais uma medalha em Tóquio, e espero estar na Olimpíada de 2020, vou me tornar o primeiro ginasta a conquistar três medalhas olímpicas nas argolas
ARTHUR ZANETTI
Você está no terceiro ciclo olímpico. O que mudou em relação à preparação para os Jogos de Londres 2012 e do Rio 2016?
Me vejo um atleta totalmente diferente agora. No primeiro ciclo, eu tinha de demonstrar (que poderia vencer). Consegui trazer um resultado ótimo para Brasil (medalha de ouro). A partir de então, muitos me diziam: "Você não precisar provar mais nada para ninguém". Eu comentava, antes de 2016, que precisa provar, sim, que poderia segurar a pressão em uma Olimpíada em casa. A vontade de continuar dando resultado fez com que trabalhasse e, no Rio, conseguisse mais uma medalha (prata). Para esse terceiro ciclo, a motivação é pessoal. Se conseguir mais uma medalha em Tóquio, e espero estar na Olimpíada de 2020, vou me tornar o primeiro ginasta a conquistar três medalhas olímpicas nas argolas. Vai ser um feito não só na ginástica brasileira, vai ser na ginástica mundial. Essa é a motivação que me faz colocar lenha e ir para o ginásio treinar.
E você enxerga esse ciclo olímpico como o último na sua carreira?
Sim. Depois de Tóquio, vou me aposentar. Não me enxergo fazendo outro ciclo. Estou me programando para a aposentadoria, já estou abrindo meus negócios para encerrar minha carreira de ginasta em 2020. Vou seguir minha vida fora da ginástica, mas ao mesmo tempo dentro da ginástica. Fora como atleta, mas ainda no meio do esporte (à frente de uma academia).
Campeonato Mundial e a Olimpíada viraram espetáculos. E as disputas também.
ARTHUR ZANETTI
Como você avalia a rivalidade com o Petrounias, que desperta o interesse dos fãs da ginástica artística?
Hoje o esporte virou um show. Antigamente, os ginastas entravam perfilados no ginásio com todas as luzes acesas. Agora não, cada ginasta entra com música, com show de luzes. O Campeonato Mundial e a Olimpíada viraram espetáculos. E as disputas também. Todo mundo quer ver uma final entre mim e o Petrounias. Qualquer vacilo de um, o outra ganha, e vice-versa. Isso eleva a ansiedade do público. Eu quero ganhar dele, e ele, de mim.
Essa rivalidade fez vocês evoluírem na ginástica artística?
Sim. Eu costumo me encontrar com ele só em competições, mas é um dos ginastas com quem mais converso. A gente fala sobre isso. Evoluí muito minha ginástica por causa dele, ele também já disse que evoluiu por minha causa. É uma rivalidade boa, que me motiva bastante a continuar treinando.
Como você vê a queda do investimento no esporte depois da Olimpíada do Rio? É o pior ciclo que você já acompanhou nesse sentido?
Antes de Londres, eu ainda não era campeão olímpico. Logo depois de 2012, consegui vários patrocinadores, que mantive até 2016. Dos Jogos do Rio até agora, vem sendo bem ruim. Em questão de patrocinadores, tenho só Adidas e a Caixa, que é pela confederação (Brasileira de Ginástica, CBG), e ainda tem o apoio da Força Aérea (atleta-militar, o sargento Zanetti recebe salário da FAB), do Ministério do Esporte (Bolsa Atleta) e do clube, o São Caetano. Mas antes o investimento era muito maior. Perdi sete, oito patrocínios.
*O repórter viajou a convite do COB