Tradição, pompa e Mr. Bean. Recorro à memória e ao Youtube para rever a abertura de Londres 2012. As cerimônias desse tipo são, na verdade, duas. Uma é a que se vê do estádio. Outra é a da TV – bem mais completa, podem acreditar.
A emoção de estar lá é única. Mas há diferenças brutais entre fazer parte e ver o todo. Uma questão estética e econômica.
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Cabem 80 mil pessoas num estádio. Em frente à televisão, são bilhões. A festa é pensada para quem está em casa. Londres não teve vergonha de assumir. Típico humor britânico: a sequência da chegada de James Bond ao Palácio de Buckingham. Elizabeth II é escoltada por Daniel Craig até saltar de paraquedas sobre o estádio. Era uma dublê, óbvio. Mas a colagem do vídeo com a vida real foi convincente. Em casa, se viu tudo com clareza. No estádio, nem tanto.
Vale o mesmo para a memorável participação de Mr. Bean tocando Carruagens de Fogo ao piano durante a apresentação da Orquestra Sinfônica de Londres. Os cortes de câmera e as ilustrações contaram a história com perfeição para quem via na China, no Equador ou na Sérvia. Os de Londres acompanharam mais de longe.
Teve ainda Paul McCartney, homenagens ao sistema nacional de saúde britânico, às forças armadas e uma encenação gigante da revolução industrial, sem esconder os problemas e as soluções que a invenção das máquinas trouxe à sociedade de então.
Antes que falem mal do Rio, na manhã da abertura dos Jogos o trânsito de Londres parou. Eu estava em um ônibus. Depois de meia hora, o motorista nos aconselhou a descer e terminar o percurso a pé. Colapso total.
Lá, o comentário, de canto de página, foi mais ou menos assim: inevitável com tantos chefes de governo e de Estado circulando pela cidade. Aqui, certamente, vai virar manchete para confirmar o nosso subdesenvolvimento. E tem mais: se eles tiveram uma rainha caindo de paraquedas na cerimônia, nós teremos o Michel Temer. #choraUK.
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*ZHESPORTES