A cerimônia de abertura da Olimpíada de Pequim demonstrou que ditaduras, de fato, funcionam. As autoridades chinesas mandavam e todos obedeciam. Ponto. Havia possibilidade de algum atentado? Os ditadores chineses resolveram o problema empregando uma medida simples, prática e inexequível numa democracia: ordenaram que todas as pessoas que morassem no perímetro de um quilômetro em volta do Ninho do Pássaro se mudassem para hotéis.
Na noite da cerimônia, percorri as ruas em volta do estádio. Chegava a ser assustador. Parecia que estava num daqueles filmes em que uma guerra nuclear acaba com a civilização humana, deixando só os prédios inteiros.
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Outro problema de Pequim é a poluição. Uma capa de sujeira tapa o céu o dia inteiro: Pequim é uma cidade sem estrelas. O cheiro do ar é pior do que o da água de Porto Alegre. Como melhorar essa situação constrangedora para a chegada de estrangeiros com narizes sensíveis? Fácil: os governantes determinaram que todas as fábricas da cidade fechassem um mês antes dos jogos e só reabrissem depois do encerramento.
Os chineses são muito objetivos em suas soluções. E muito supersticiosos. Temem cerca de 10 mil demônios que os importunam durante o dia e a noite em circunstâncias as mais comezinhas: quando atravessa a rua, por exemplo, um chinês pode ser empurrado para debaixo das rodas de um carro por um desses demônios irritantes.
Até um número aziago pode incomodar um chinês. Sobretudo o 4, considerado o "número da morte". Já o 8 é considerado o número da sorte. Assim, a cerimônia da Olimpíada foi aberta precisa e ditatorialmente às 8 horas, 8 minutos e 8 segundos do dia 8 do mês 8 do ano de 2008.
Finalmente, houve uma questão estética: a menina de linda voz que cantaria uma das canções da cerimônia era feinha, pela avaliação dos governantes. Sem estresse. Eles mantiveram a voz dela em uma gravação e a substituíram na hora do show por uma outra, mais bonitinha, que "cantou" em playback.
Depois de todas essas providências, restou uma cerimônia linda, destacando-se a apresentação de dois milhares de soldados batendo em tambores de bronze com a sincronia de robôs. Retos, perfeitos, infalíveis. Robôs, de fato. Como sonham as ditaduras.
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*ZHESPORTES