Houve uma manhã, durante a Olimpíada de Londres, em que estava indeciso sobre qual competição assistir. Meio que por acaso, sem maiores pretensões, resolvi ver como se sairiam os judocas brasileiros. Cheguei ao ginásio momentos antes da luta da gaúcha Maria Portela com a colombiana Yuri Alvear. Em menos de dez minutos, iria testemunhar uma das cenas mais comoventes da competição.
Maria foi derrotada rapidamente. Derrotas são da rotina do esporte, mas, pela forma quase catatônica como ela se retirou do tatame, percebi que ficara bastante abalada. Assim, saí da minha posição e caminhei ao seu encontro. Ela parou para conversar. Na segunda ou terceira pergunta, simplesmente desabou. Chorava aos arranques de soluço. Repetia sem parar:
_ Estou decepcionada comigo... Estou muito decepcionada... Eu não podia perder. Não podia!
Leia mais:
Após quase desistir do judô, Rafaela Silva projeta Tóquio 2020: "Quero sentir essa sensação de novo"
Mariana Silva perde para holandesa e não conquista o bronze no judô
O desespero de Maria me tocou, até porque conhecia sua história. Filha de empregada doméstica, ela havia se mudado de Santa Maria para Criciúma a fim de lutar judô. Para ter o que comer e onde morar, trabalhou como babá – assim podia dormir na casa dos patrões. É por isso que ela dizia que “não podia” perder: porque a Olimpíada era a sua chance de se tornar vitoriosa no judô.
_ O judô é a coisa que mais amo na vida _ soluçava Maria.
Apesar de tanto amor, ou talvez justamente por isso, ela parou de lutar, depois do trauma de Londres. Voltou para Santa Maria, para o aconchego da família e lá permaneceu até a alma sarar.
_ Dei um tempo _ contou-me agora, nesta Olimpíada, ao chegar à Vila dos Atletas. _ Precisava parar. E como foi difícil voltar...
Mas ela voltou. Compreendeu que seu problema não havia sido técnico ou tático, mas emocional.
_ A cabeça comanda o corpo _ concluiu.
Com o que, Maria passou a tratar da cabeça. Procurou ajuda da psicóloga da Confederação Brasileira de Judô, o que, segundo ela, “foi muito importante”.
_ Agora tento não me cobrar muito _ aprendeu. _ Agora, encaro a derrota com normalidade.
Só que Maria não pretende ser derrotada nesta quarta, quando estreará nos Jogos do Rio contra a marroquina Assmaa Niang.