Após conquistar o primeiro ouro do Brasil no Rio 2016, Rafaela Silva não conteve as lágrimas. Aos prantos, desabafou ao lembrar da derrota em Londres 2012, quando acabou desclassificada por um golpe ilegal, a catada de perna, na luta contra a húngara Hedvig Karakas.
– Eu treinei muito depois da derrota em Londres. Eu não queria realizar o mesmo erro. Depois daquela derrota todo mundo me criticou, falaram que o judô não era para mim e que eu era a vergonha da minha família – afirmou. – Hoje eu pude fazer todos os brasileiros felizes com essa medalha aqui dentro da minha casa. Eu só posso falar que o macaco que tinha que estar na jaula em Londres hoje é campeão olímpico dentro de casa. Hoje eu não fui uma vergonha para a minha família.
Leia mais
Rafaela Silva vence no judô e conquista o primeiro ouro do Brasil
"Falaram que o judô não era para mim e que eu era a vergonha da família", desabafa Rafaela Silva
Rio 2016 por todos os ângulos: os primeiros dias de competição
Já com a medalha de ouro, a judoca deu entrevista ao Jornal Nacional. Ao lembrar de Londres, Rafaela falou que a derrota a fez pensar em desistir, mas que, no fim, serviu como um estímulo para se esforçar mais:
– Depois de Londres, eu pensei em desistir. Comecei um trabalho com uma técnica para pensar de forma mais positiva e ser mais focada nos meus objetivos
Após a derrota em Londres, a judoca foi vítima de racismo e duramente criticada pelos torcedores. Então, no Twitter, respondeu com palavrões:
– Vai se f... filho da p... Perdi, sim, sou humana como todos. Errei e sei que tenho capacidade de chegar e conquistar uma vaga para 2016. Você veio aqui? Ah, não tem capacidade de conquistar uma vaga e representar seu pais por uma bandeira no peito, babaca. – escreveu.
No Rio 2016, Rafaela Silva enfrentou sua algoz, Hedvig Karakas, na segunda luta. O combate durou alguns segundos, sem chances a húngara.
Veio a semifinal, e a carioca derrotou a romena Corina Carprioriu com um wazari. Na última luta, diante da mongol Sumiya Dorjsuren, a judoca brasileira aplicou o wazari logo no início do confronto e levou o resultado até o final da disputa.
Oriunda de um projeto social, o Reação, idealizado pelo medalhista olímpico e hoje global Flávio Canto, Rafaela saiu da Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, para vencer no esporte.
– Eu acho que a minha vida é o judô. Se não fosse o judô eu não sei onde estaria. Graças a Deus eu encontrei o esporte e estou aqui – completou. – Acho que ninguém treinou mais do que eu para estar aqui.
No Jornal Nacional, a judoca valorizou a importância de seu primeiro treinador, Geraldo Bernardes, ex-técnico da seleção brasileira e idealizador do projeto que revelou a jovem para esporte:
– Ele representa tudo. Ganhava as competições desde pequena, mas minha família não tinha dinheiro para ir para o exterior. O professor pegava o cartão e bancava.
*ZHESPORTES