Um ex-feirante, ex-ajudante de cozinha, ex-vendedor de picolé e de limão nas sinaleiras de Salvador é o primeiro campeão olímpico da história do boxe brasileiro. Robson Conceição, medalha de ouro na categoria até 60kg, é o símbolo do Brasil que acorda cedo para trabalhar e ainda convive injustamente com o rótulo de ter um povo preguiçoso.
Nesta terça-feira ele levou à loucura o Pavilhão 6 do Riocentro e transformou-se em mais um exemplo de superação de dificuldades desta Olimpíada, junto com Rafaela Silva e Isaquias Queiroz.
– Não quero acordar nunca mais deste sonho – disse um Robson que não conseguia tirar o sorriso do rosto ao passar pela área de entrevistas.
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Pudera. Sua trajetória é tão improvável quanto a da judoca de ouro da Cidade de Deus e a do canoísta consagrado com a prata. Hoje, Robson dorme tranquilo sabendo que a filha Sophia, que completará dois anos na sexta-feira, tem condições melhores do que as de sua infância. Na época, ajudava a vó, que tinha uma barraca em uma feira na capital baiana. Depois, trabalhou de ambulante. Fazia o possível para conciliar estudos, trabalho e treino, já que o interesse pelo boxe veio cedo – aos 17 anos, já era campeão brasileiro.
– Esse título olímpico significa ainda mais pela infância que eu tive, e também pelas derrotas em Pequim e Londres – afirmou, referindo-se às doídas eliminações nas estreias das duas últimas Olimpíadas.
Na campanha do Rio de Janeiro, a batalha não foi tão difícil para vencer os dois primeiros adversários. Passou por cima de Anvar Yunusov, do Tajiquistão, e Hurshid Tojibaev, do Uzbequistão, garantindo a medalha que prometeu à filha antes da Olimpíada. Tirou, também, o peso das costas ao superar as frustrações de suas experiências olímpicas anteriores.
O adversário na semifinal seria um velho conhecido: o cubano Lázaro Álvarez, campeão olímpico e tri mundial da categoria. Foi quem o inflingiu uma das derrotas mais sofridas da carreira, na final do Mundial de 2013. A desforra veio em luta polêmica, em que a comissão técnica cubana contestou a decisão dos juízes e houve confusão e provocações entre as equipes dos dois países.Para Robson, pouco importava. Trabalhara tanto que sua persistência o levara à sonhada final.
Na decisão, controlou as ações desde o início. Empurrado por uma torcida barulhenta, ajudada pelo volume ensurdecedor que as arquibancadas temporárias do Riocentro produzem ao serem pisoteadas pelo público, não deu chances ao francês Sofiane Oumiha.
Em um dado momento do segundo round, um golpe fez com que o adversário tivesse que apoiar as duas mãos na lona para recuperar o equilíbrio. Parecia um gol no Maracanã de tão forte que foi a comemoração dos torcedores. A luta estava controlada.O novo herói brasileiro esperou o zero do cronômetro para subir nas cordas, os braços levantados em sinal de comemoração. O sonho de Robson – este do qual não quer acordar – havia começado.
*ZHESPORTES