A 100 dias dos jogos, a chama olímpica desembarca no Rio de Janeiro nesta quarta. Entretanto, ela ainda segue para eventos na Europa e desembarca de vez no Brasil no próximo dia 3 de maio, em Brasília.
A partir daí, inicia a peregrinação de 95 dias por mais de 300 cidades até chegar ao Rio no dia 4 de agosto, véspera da abertura dos Jogos. Na Serra gaúcha, o símbolo vai passar por cinco municípios. A tocha chega a Canela no dia 8 de julho. No mesmo dia, passa por Gramado, Nova Petrópolis e vai pernoitar em Caxias do Sul. Dia 9, ela segue para Bento Gonçalves, a penúltima cidade que irá percorrer no Estado.
Em Caxias, 60 pessoas terão a responsabilidade e o privilégio de conduzir o símbolo olímpico por um trecho de 13 quilômetros, que inicia no Monumento ao Imigrante e encerra nos Pavilhões da Festa da Uva, onde a chama deve permanecer à noite.
Nos próximos dias, a prefeitura deve divulgar os eventos de 8 de julho. Aos poucos, os nomes dos condutores da tocha começam a ser conhecidos. Entre eles, estão Tiago Frank, técnico da seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas, Tite, técnico do Corinthians, Maria Terezinha Mandelli Grasselli, professora, e Felipe Biasuz Bossle, aluno do IFRS. Os dois últimos foram os primeiros a falar sobre a emoção de carregar a tocha.
'A emoção é enorme',
Maria Terezinha Mandelli Grasselli – ou a profe Tere como é conhecida – é um exemplo de militância pelo esporte e condutora da chama olímpica em Caxias. Ela não esconde o nervosismo e a emoção por este momento.
– Eu fico imaginando qual vai ser o meu percurso... Aonde irei passar? Quem vai me passar a tocha? Eu vou passar para quem? Porque a gente não conhece os demais participantes – afirma.
Tere é conhecida no esporte caxiense. No seu currículo, foi jogadora de vôlei, professora de Educação Física e organizadora de jogos olímpicos: as Olimpíadas do Fair Play, que ocorreu no último fim de semana na UCS. Evento que reúne cerca de 200 adolescentes, entre 11 e 17 anos, competindo em sete modalidades, onde o grande ensinamento são os valores do esporte.
– Resgatamos os três valores olímpicos: A excelência, que é dar o máximo de si em cada jogo; o repeito, que tu tem contigo mesmo e com o teu oponente; e a amizade, que são as relações e as interações que acontecem durante o jogo – ressalta Tere.
Todo este engajamento desperta o sorriso e a emoção da professora quando o assunto é o esporte. Ao se falar em Olimpíadas estas emoções afloram.
– A emoção é enorme, porque representa os valores olímpicos. Também o que essa chama traz aos países por onde passa: um momento de paz, confraternização e esperança – destaca.
'As Olimpíadas podem levantar um pouco a nossa autoestima'
Aos 16 anos, Felipe Biasuz Bossle é outro caxiense a conduzir a tocha olímpica na cidade. Bossle venceu um concurso de redações sobre o evento, no Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS). Aluno do curso técnico de polímeros, a sua redação falou de como o esporte é capaz de inverter valores em uma sociedade cheia de problemas e injustiças.
– Uma coisa que eu coloquei no texto foi sobre as Olimpíadas de 1936, em Berlim. Já existia o nazismo e era um tempo de muito preconceito contra negros e judeus. Teve um atleta, o Jesse Owens, que conseguiu ganhar quatro medalhas de ouro. Ele começou, ali, um movimento contra o racismo, uma coisa única. Seria impensável que um evento esportivo poderia iniciar algo tão grande socialmente – relata Bossle.
Dentro deste espírito olímpico, o garoto, que sempre esteve envolvido com esportes como natação, handball e, atualmente, o taekwondo, sabe que os primeiros Jogos Olímpicos no Brasil são importantes, até para amenizar os vários problemas enfrentados pelo país.
– Eu acho que as Olimpíadas podem levantar um pouco a nossa autoestima. Tem muito brasileiro que fala mal do nosso país, quem sabe o patriotismo não se eleva um pouco? – questiona.
Por certo, o simples fato de a tocha olímpica passar por Caxias do Sul e poder conduzi-la pelas ruas da cidade já mexeram com as emoções do jovem, que já demonstra um certo nervosismo com este momento único.
– Bah! Eu nem sei o que falar, uma oportunidade dessas nunca mais vai vir na minha vida. Eu fiquei muito feliz – afirma Bossle.