Maria Carolina Santiago escreveu seu nome na história do esporte paralímpico brasileiro ao se tornar a mulher do Brasil com mais ouros na história dos Jogos Paralímpicos.
Com as três medalhas de ouro conquistadas na Arena La Defense, em Paris, a nadadora do Grêmio Náutico União chegou a seis e superou Ádria Santos, do atletismo, isolando-se na liderança do quadro paralímpico do país.
A dimensão de uma conquista desse porte tem sido absorvida aos poucos por Carol.
— Agora, acho que a ficha está começando a cair. Consegui ver o quanto que o paralímpico chegou na casa das pessoas. E eu fico muito feliz mesmo com esse resultado que a gente teve, porque é um resultado que foi muito bom — afirmou a nadadora em entrevista exclusiva ao "Show dos Esportes", da Rádio Gaúcha.
Aos 39 anos e mesmo em férias, a pernambucana já vem pensando em como será o próximo ciclo, visando os Jogos de Los Angeles, em 2028.
— A próxima... Eu sei que vocês estão querendo tirar de mim. Eu vou anunciar nos destaques do União como é que vai ser para o próximo ano, para as próximas temporadas. Mas com certeza a gente participando desse programa seria um pouco mais enxuto — ressaltou, aos risos.
Depois de cumprir dois dias de agenda com autoridades e patrocinadores, Carol retorna à São Paulo nesta quinta-feira para aí sim desfrutar de merecidas férias após a Paralimpíada de Paris.
Confira a entrevista completa
Queria saber se tu já tens a dimensão do teu tamanho no esporte depois de se tornar a brasileira com mais títulos paralímpicos?
Agora, acho que a ficha está começando a cair. Assim como em 2021, quando a gente conversou, eu te falei que eu só tive a dimensão de tudo que a gente fez quando a gente chegou aqui no Brasil. Foi mais ou menos isso também em relação a Paris. Consegui ver o quanto que o paralímpico chegou na casa das pessoas. Eu poder ver o quanto que as pessoas torceram para a gente, o quanto a gente estava sendo reconhecido mesmo. Em todo lugar que a gente estava andando. E eu fico muito feliz mesmo com esse resultado que a gente teve, porque é um resultado que foi muito bom. E que vem só dizer que a gente estava no caminho certo, que o programa deu certo pra Tóquio, melhor ainda pra Paris. Toda a comissão técnica e eu também, a gente ficou muito feliz.
Eu fico muito feliz mesmo com esse resultado que a gente teve.
Como é que vocês fazem para escolher o programa das provas nas competições? E para Los Angeles, como é que está? A tendência é diminuir, dar uma acalmada. Enfim, como é que está essa expectativa?
Aumentar, com certeza não. A ideia é realmente se especializar também. Não tem mais como fugir. Eu acho que o esporte paralímpico realmente evoluiu. E agora ele está cobrando. Ele está cobrando você realmente se dedicar a uma determinada prova. Só voltando um pouquinho na outra pergunta. Eu diria que o meu programa é muito escolhido na minha possibilidade de trazer medalhas para o Brasil. Então a gente sabe o que é que a gente pode ser competitiva porque a gente está ali competindo o tempo todo em nível mundial.
E temos o ranking mundial. Onde eu poderia ser competitiva e pudesse trazer uma medalha para o Brasil? Eu ia competir. Então a gente estava mais focado nisso nos Jogos. A próxima... Eu sei que vocês estão querendo tirar de mim. Eu vou anunciar nos destaques do União como é que vai ser para o próximo ano, para as próximas temporadas. Mas com certeza a gente participando desse programa seria um pouco mais enxuto.
Acho que tua idolatria vai muito além de uma atleta de alto rendimento, né? Tu és um exemplo para as crianças que talvez nem pensem ou talvez pensem em chegar no alto desempenho, mas que através do esporte certamente vão ser pessoas melhores. E só por isso o esporte já faz valer a pena.
Com certeza, com o resultado, é inevitável, e eu percebi isso depois de Tóquio, que você vira referência. E eu estava muito preocupada, porque eu queria que a medalha não fosse só uma medalha, não fosse só algo que eu fui lá em uma competição e busquei e trouxe para casa.
Que ela pudesse, já que ela chegou na casa das pessoas, e que as pessoas se sentiram parte desse resultado, que ela pudesse virar algo mais, inspirar alguém, motivar alguém. Acho que toda a trajetória, tudo que a gente viveu, tudo que a gente conquistou, vem com essa responsabilidade. De a gente deixar um caminho, algo que a criança possa olhar e se sentir inspirada a buscar o seu próprio sonho. Não necessariamente no esporte, pode ser em qualquer outra área.
Tu chegaste a falar sobre o carinho que o gaúcho tem contigo. Especialmente neste ano, que o RS sofreu com as enchentes, como foi representar o Estado?
Olha, foi muita responsabilidade. Eu confesso que o que a gente viu aqui foi uma escola. Foi um aprendizado de um povo muito forte, que consegue enfrentar as piores coisas. E tirar algo e se reinventar, reconstruir. E isso foi muito marcante para mim.
Eu fui com isso para os Jogos, né? Eu fui com isso de que eu ia voltar para cá, com o que a gente conquistasse lá, para comemorar. Porque eu tinha pegado muita força daqui. E foi isso. Desde que a gente terminou, eu já estava "olha, quando é que eu posso ir para aí?" "Quando é que a gente vai para aí?" E eu estava com muito medo, por causa dos dias que a gente estava marcando. Mas deu tudo certo, a gente veio.
Como é a tua sequência de treinamentos? Quais são as próximas competições?
Agora a gente está numa agenda bem cheia, né? Esse retorno é muito importante. Tanto para o clube, como para mim como atleta. Então a gente está com essa agenda bem cheia. Mas o meu técnico disse que eu estou de férias. Desde o primeiro segundo após a minha última prova. É justo, né, gente? E aí eu estou descansando bem mesmo. Foram três anos muito intensos. A gente vai ter Natal e Ano-Novo esse ano. A gente ainda tem Campeonato Brasileiro esse ano. Vai competir pelo clube. E depois a gente vai encerrar esse ano.
Hoje a gente tem uma seleção muito forte. E isso é fruto de um trabalho muito bem feito.
O Brasil conquistou 26 medalhas só na natação em Paris. Sete de ouro, três tuas e três do Gabrielzinho, um fenômeno. Como é que é compartilhar de momentos com ele e outros grandes nomes?
É, o Gabrielzinho é aquilo ali, gente. Ele é aquilo mesmo. Não é personagem. Ele é daquele jeito, é um excelente atleta. Se você vê, extremamente dedicado. Ele estava na sua melhor forma física. Sabia o que ele ia buscar. E foi lá e pegou o que ele foi buscar. Minha família mesmo diz, cara, a gente gosta de você. Mas a gente gosta mais de Gabrielzinho. Não tem problema. Porque eu também amo o Gabrielzinho. É incrível poder dividir seleção com ele.
Hoje a gente tem uma seleção muito forte. E isso é fruto de um trabalho muito bem feito pela comissão técnica do Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro.
Como é que foi trazer tanta medalha na bagagem? Pagou excesso?
Eu encontrei o Gabrielzinho lá. E ele estava falando sobre isso. “Carol, como é que a gente vai levar as medalhas?” O problema não são as medalhas, são as caixas. Como é que não vai levar a caixa? Não tem caminho. Eu não ia, mas a caixa ia. Trouxe três numa sacola. Parecia aquelas pessoas que compram um monte de coisa