Gabriel Araújo é o primeiro medalhista de ouro do Brasil nos Jogos Paralímpicos de Paris. Ele venceu nesta segunda (29) a disputa do 100m costas da classe S2 (limitações físico-motoras).
Na natação o chamam de Gabrielzinho, o pequeno Gabriel, mas apesar de seus 1m21cm de altura, o talentoso brasileiro é um gigante da natação paralímpica. Por isso, foi porta-bandeiras na cerimônia de abertura.
Gabriel dos Santos Araújo, de 22 anos, conquistou sua quarta medalha olímpica. Há três anos, em Tóquio, ele ganhou duas medalhas de ouro e uma de prata.
— Me chamo Gabrielzinho e vou ganhar três medalhas de ouro nos Jogos Paralímpicos de Paris — disse o jovem nadador, com um grande sorriso, antes de receber um beijo na testa do presidente Lula em uma cerimônia oficial realizada no mês passado, em Brasília.
Além dos 100m costas da classe S2, Araújo vai entrar na piscina nos 50m costas (31 de agosto), os 150m medley (1º de setembro), os 200m livre (2 de setembro) e os 50m livre (6 de setembro).
História do nadador
Gabriel nasceu com um condição que compromete o desenvolvimento natural de braços e pernas. Quando não está nadando na piscina de Juiz de Fora, em Minas Gerais, cultiva sua popularidade no Instagram, onde tem 50 mil seguidores.
Mas como não tem mãos nem braços, ele navega pela tela do seu telefone com os dedos dos pés.
Também é assim que o brasileiro utiliza o controle do seu videogame, principalmente de futebol, sua outra grande paixão.
Para comer, ele se abaixa para pegar a comida do prato com a boca, e depois das refeições coloca uma escova de dentes elétrica entre os dedos dos pés.
— Perdi a conta dos obstáculos que tenho que superar a cada dia, mas isso me faz mais forte — explicou à AFP.
— O que mais me impressionou no início foi sua destreza fora da piscina. Ele tem uma grande coordenação motora e é muito inteligente, o que lhe permite superar todos esses obstáculos diariamente — afirmou o treinador treinador, Fabio Pereira Antunes.
Focomelia
A focomelia, uma malformação causada pela parada do desenvolvimento de um ou mais membros durante a gravidez. Sua mãe, Ineida, descobriu no quinto mês da gestação.
— Descobri no quinto mês de gravidez. Obviamente, foi um choque, mas depois comecei a ler sobre o assunto para estar preparada para cuidar dele da melhor forma possível — comentou Ineida Magda dos Santos, professora aposentada.
— Queríamos que ele tivesse uma infância normal, então o levamos a um clube com piscina. Aos quatro ou cinco anos já sabia nadar, embora não tivesse braços. Acredito que seja um dom que ele recebeu de Deus — destacou a mãe.
Para nadar, Gabrielzinho ondula na água como um golfinho, com movimentos pélvicos. Uma técnica desenvolvida durante longas sessões de treinamento seis vezes por semana, de segunda a sábado.
Na piscina, mas também ao ar livre, ele treina com exercícios de musculação, principalmente das vértebras lombares, dos músculos abdominais e do assoalho pélvico.
O início de Gabriel Araújo
Gabrielzinho descobriu a competição aos 13 anos, em 2015, durante um torneio escolar. Um professor o inscreveu, mesmo sem consultar a mãe, e ele ganhou cinco medalhas. Desde então, não parou mais.
O brasileiro alcançou a glória nos Jogos de Tóquio com 19 anos, demonstrando uma extraordinária força mental pouco depois de sofrer uma terrível notícia. Dias antes de sua participação na competição, quando já se treinava no Japão, ele soube da morte de seu avô, ao qual estava muito unido.
"Estava na reta final e foi um duro golpe, mas depois me disse que ele havia decidido acompanhar a competição de lá de cima, e que estava orgulhoso de mim", lembra Gabrielzinho.
Sua rota de medalhas em Tóquio com a prata, por seu segundo lugar nos 100 metros costas S2 (em Paris ele já levou o ouro nesta competição). Curiosamente, seu avô era chamado de "pratinha".