Ascendeu à elite como um foguete o menino prodígio dentre os clubes do Rio Grande do Sul. Criado em novembro de 2021, o Monsoon, de Porto Alegre, venceu o Pelotas na final da Divisão de Acesso e, além de guardar mais uma taça no armário, ficou com uma das duas vagas no Gauchão 2025.
O clube tem sede na zona sul da Capital, mas não tem local próprio para receber os jogos oficiais. Em 2024, a equipe perambulou pelo estádio do Sesc e pelo Passo D'Areia, do São José, por exemplo. Torcida, por enquanto, não há de forma expressiva. O que existe, contudo, é muito investimento e foco nos objetivos a serem alcançados.
O vice-presidente de futebol do Monsoon e ex-atleta com passagens pela dupla Gre-Nal em 2003 e 2004, Jurandir da Silva, prefere não precisar números, mas garante que o clube esteve entre os três maiores investimentos da Divisão de Acesso. O dirigente promete que a equipe entrará forte novamente no próximo ano. O objetivo é conseguir uma vaga na Série D do Brasileirão, distribuída aos três melhores colocados do estadual, com exceção dos times que jogam as divisões superiores.
— O objetivo era, em três anos, estar na primeira divisão. Conseguimos até antes. A gente sabe da responsabilidade. É outro nível de competição. Viemos realmente para fazer história no Rio Grande do Sul. A gente não é melhor, nem pior. A gente veio para fazer a diferença no futebol. Vamos fazer um grande elenco para brigar pela classificação. — afirma Da Silva.
O primeiro passo nessa evolução com vistas ao Campeonato Gaúcho será a definição de uma casa. As tratativas estão avançadas e faltam detalhes burocráticos para o anúncio. Da Silva prefere manter o mistério por enquanto, mas antecipa:
— Vocês vão ter uma surpresa. É uma casa muito bonita. Os meninos (jogadores) também vão gostar.
O treinador Bruno Coutinho, segundo o vice de futebol, segue para a próxima temporada. No segundo semestre deste ano, o clube disputa o Gauchão Sub-20.
"A gente não é melhor, nem pior. A gente veio para fazer a diferença no futebol."
DA SILVA
Vice-presidente de futebol do Monsoon
Time de empresários?
De fato, o Monsoon é um ponto que destoa das demais estruturas do futebol gaúcho, em que a maior parte dos clubes são centenários ou quase. O presidente, Lucas Pires, e o CEO, o indiano Sumant Sharma, ambos empresários, moram em Miami, nos Estados Unidos. Em Porto Alegre, Da Silva está à frente das atividades ao lado de Maicon Santana, também vice de futebol, do supervisor Romeu Vieira e de duas funcionárias administrativas.
O time gaúcho é um dos braços do Monsoon VP International, grupo de investimentos em futebol. A iniciativa surgiu em um aeroporto da China, onde Pires e Sharma se encontraram durante a produção de um filme, rodado na Tailândia. O presidente tem participação em grandes eventos e na produção de cinema. Já o CEO é do ramo de tecnologia. Até o famoso ator belga Jean-Claude Van Damme está envolvido, indiretamente, na história.
— Eu trabalhava na produção de grandes filmes de Hollywood, estava viajando para um filme do Van Damme e acabei conhecendo o Sumant nessa ocasião. Seis meses depois encontrei com ele e, dois anos mais tarde, começamos a fazer negócios. Eu já fazia alguns trabalhos indiretos com o futebol. Negociava e conseguia bons contratos para atletas, mas a ideia de comandar um time nunca esteve presente na minha cabeça — contou Lucas Pires ao UOL, em 2023.
Conforme divulgado pelo jornal Lance, em 2022, Sumant Sharma, participou da criação e venda da Acme Packet (líder no fornecimento global de tecnologia de controle de fronteiras de sessão) para a Oracle (renomada multinacional de tecnologia e informática) pelo valor 2,7 bilhões de dólares.
"A gente entende que a maioria dos clubes, principalmente os que ficaram para trás, levaram 100 anos ou mais para ter a gestão que a gente tem."
DA SILVA
Vice-presidente de futebol do Monsoon
Críticas
Nos bastidores do futebol, principalmente com os dirigentes e torcedores mais nostálgicos, o Monsoon é alvo de críticas por "não ter torcida" ou por ser "um clube de empresários". Da Silva responde.
— A torcida se adquire com resultado. A gente entende que a maioria dos clubes, principalmente os que ficaram para trás, levaram 100 anos ou mais para ter a gestão que a gente tem. Só estamos fazendo o nosso trabalho — comenta.
Para contratações, o dirigente explica que há prospecção de atletas em todo o Brasil. Os jovens, com potencial de crescimento, são alvos do clube. Nomes como João Victor, lateral-direito emprestado ao Juventude; Victor Lima, meia que será emprestado até o final de 2025 ao Volta Redonda, do Rio de Janeiro; Gustavo Ulguim, atacante do sub-20 do Bahia; e Luan, goleiro de 16 anos vendido ao Inter, para a base, são citados como exemplos de que o modelo de negócios tem dado certo.
— Os nossos jogadores não são só do Rio Grande do Sul. Buscamos jogadores em todo o Brasil. Tem atletas que estão comigo desde a disputa da Terceirona — explica.
De acordo com o Da Silva, Monsoon significa "ventos fortes e tempestades". Resta saber, agora, o impacto que esse fenômeno, não climático, mas desportivo, ainda causará no futebol gaúcho.
Temporadas do Monsoon
- 2022 — Campeão invicto da Terceirona Gaúcha em 2022. Na final, derrotou o Bagé.
- 2023 — Eliminado na semifinal da Divisão de Acesso pelo Guarany de Bagé.
- 2024 — Campeão da Divisão de Acesso após derrotar o Passo Fundo na semifinal e o Pelotas na final.