Existem "elementos contundentes" na versão de uma suposta vítima de abuso sexual cometido na Argentina por dois jogadores da seleção francesa de rugby, Hugo Auradou e Oscar Jegou, presos em Buenos Aires, informou a promotora Daniela Chaler nesta terça-feira (9).
— As lesões são compatíveis com o relato da vítima, que não necessariamente podem ser exclusivas de um abuso sexual— disse Chaler à rádio LV10 de Mendoza, cidade a 1.100 km a oeste de Buenos Aires, província onde ocorreu o incidente.
— O depoimento foi bastante longo, extenso, detalhado e corresponde, em princípio, às conclusões do corpo médico forense. Há elementos contundentes— acrescentou a promotora-chefe da unidade de crimes contra a integridade sexual nesta província.
Os jogadores serão transferidos entre quarta e quinta-feira para Mendoza, onde serão realizadas as perícias correspondentes, disse à AFP o porta-voz do poder judicial da província, Martín Ahumada.
Se forem acusados após os resultados, poderão ser mantidos em prisão preventiva durante o processo judicial, que será realizado a portas fechadas.
Hugo Auradou e Oscar Jegou integraram a seleção francesa que venceu a Argentina em um amistoso no último sábado, em Mendoza.
Segundo a imprensa local, o suposto ataque ocorreu no Hotel Diplomático de Mendoza, onde estavam hospedados jogadores e comissão técnica durante o primeiro treino contra os 'Pumas', como é conhecida a seleção argentina.
A promotora do caso, Cecilia Bignert, solicitou a prisão imediata dos suspeitos, que permanecem detidos em Buenos Aires à espera de uma comissão policial para transferi-los para Mendoza, confirmaram fontes policiais à AFP.
— Agimos rapidamente com medo que eles deixassem o país— explicou Ahumada.
Chaler destacou, por sua vez, que "é necessário que um tradutor vá a Buenos Aires porque estes dois jovens não falam espanhol, por isso devemos garantir que entendam o motivo de sua prisão e transferência para a província de Mendoza".
Acrescentou ainda que "ninguém do Governo de França se comunicou com o Ministério Público" argentino. Se forem considerados culpados, os atletas poderão condenados a penas de até 20 anos de prisão.
"Atrocidade indescritível"
O presidente da Federação Francesa de Rugby (FFR), Florian Grill, declarou na segunda-feira: "Há uma investigação em curso. Ainda não temos todos os detalhes porque acabamos de chegar a Buenos Aires com Jean-Marc Lhermet" (vice-presidente da FFR), disse à imprensa.
— Se os fatos forem comprovados, são incrivelmente graves. Temos que pensar na jovem. É o contrário de tudo o que o rugby é, de tudo o que o rugby faz, de tudo o que o rugby constrói (...) mas devemos deixar que aconteça a investigação, que é necessária— acrescentou.
— Se a investigação confirmar os fatos alegados, constituem uma atrocidade indescritível. Um pensamento para a vítima— escreveu a ministra dos Esportes da França, Amélie Oudéa-Castéra, na rede social X.
Os clubes dos atletas emitiram comunicados dizendo que não comentariam o caso até que "informações mais precisas" estivessem disponíveis e mediante "conclusões iniciais" da investigação.
O escândalo aconteceu um dia depois de Melvyn Jaminet ter sido expulso da seleção francesa após declarações racistas em um vídeo publicado no domingo e pelo qual se disse "envergonhado".
— O primeiro árabe que encontrar na rua, vou bater com o capacete— disse Jaminet (25 anos), que gravou um vídeo curto de si mesmo e sem data, postado no Instagram e que acabou sendo excluído depois.
A FFR condenou com a "maior veemência" os comentários do atleta, que são "totalmente inaceitáveis e contrários aos valores fundamentais" do rugby.
* AFP