— Viu o Walter? Quem sabe, sabe!
A torcida do Pelotas que compareceu a Boca do Lobo em uma úmida tarde de quarta-feira para acompanhar a estreia do time na Copa FGF saiu feliz com a vitória por 1 a 0 sobre o Novo Hamburgo. Uma alegria temperada com o encantamento por Walter.
Nos 33 minutos em que esteve em campo, o centroavante esbanjou técnica em seus poucos toques na bola — o suficiente, porém, para encher de otimismo os áureo-cerúleos na disputa da Divisão de Acesso, que é o caminho para o retorno do clube à elite do Gauchão.
O autor da declaração inicial deste texto é do torcedor Luís Prestes, 64 anos, que afirmou já ter acompanhado outros bons centroavantes vestindo a camisa do clube, como Sandro Sotilli, Flávio Dias, Bebeto e Flávio Minuano. Porém, nenhum da qualidade técnica de Walter.
— Sabe muito de bola. Viu o jeito que ele dominou aquele chutão do goleiro? Ele tá entrando em forma e vai nos ajudar — disse o funcionário público ao descer as escadas do pavilhão do estádio.
Walter entrou no jogo aos 20 minutos do segundo tempo, quando o Lobo já vencia por 1 a 0. Cobrou uma falta perigosa, defendida pelo goleiro do Novo Hamburgo, e articulou jogadas de ataque como um pivô. O lance que mais chamou a atenção foi a facilidade para dominar uma reposição do goleiro Pablo. O lançamento atravessou o campo e foi "amaciado" pelo centroavante com muita tranquilidade.
Até agora, 38 dias na Boca do Lobo. Os primeiros cinco, só treino e trabalho físico. Desde a estreia, passou exato um mês, com 52 minutos em campo. No segundo jogo, em São Gabriel, marcou um gol de barriga, anulado por impedimento. Os números são discretos para um centroavante que rodou por grandes clubes, mas a performance é de um homem vencedor.
Em maio, quando anunciou Walter, o Pelotas esperava uma contratação de impacto e conseguiu. Cresceram as vendas dos uniformes do clube, principalmente com o número 18, utilizado pelo atacante, e também uma camiseta especial, personalizada com o W18. Esta, já teve 200 peças vendidas. O alcance nas redes sociais também aumentou, furando a bolha regional, com publicações envolvendo o jogador tendo mais de 150 mil visualizações, quando a média era de aproximadamente 15 mil.
Na cidade, o nome de Walter virou tendência. Ele mora a poucos metros do estádio e sempre faz seus deslocamentos a pé. Mesmo no frio, mantém o hábito de usar chinelos para que seus pés, os principais instrumentos de trabalho, possam estar sempre frescos.
A repercussão pode ser explicada pelo julgamento estético, já que Walter tem a vida marcada por uma série de batalhas, entre elas a de se aproximar da forma física ideal para um atleta.
Mas na principal cidade da Zona Sul do Estado há também encantamento pelo fato de um jogador com seu currículo, aos 34 anos, estar em um time da Divisão de Acesso do Rio Grande do Sul e caminhar pelas ruas tranquilamente, sendo atencioso com todos que lhe pedem uma foto ou autógrafo.
Revelado pelo São José, em 2008, ele foi campeão da Libertadores pelo Inter, dois anos depois, e vendido ao Porto na sequência. Também jogou por Goiás, Cruzeiro, Fluminense e Athletico-PR. Quando ele vestia a camisa do Colorado, o torcedor Paulo Júnior era criança. Passados 13 anos, pôde ver o ídolo de perto e ganhar uma camisa autografada.
— Minha admiração começou em 2010, naquela Libertadores. Desde então, virei muito fã. Com essa vinda ao Pelotas, vi que era a oportunidade perfeita para tentar conhecer ele e pedir uma camisa. É um ícone, um nível de jogador que não estamos acostumados — afirmou o estudante.
Walter chegou ao Pelotas com 123kg. Desde então, conseguiu perder seis e baixar o peso para 117kg. Treinando todos os dias para atingir as metas consideradas ideais pela comissão técnica, ele não está satisfeito com apenas entrar nos jogos. Quer mais.
Procura a mobilidade para fazer sua jogada mais marcante: giro sobre o zagueiro adversário e forte finalização ao gol. Quer balançar as redes e ajudar o Pelotas a retornar à Série A do Gauchão e conquistar a Copa FGF. Mas também provar para si que ainda poderá seguir batalhando por sua mãe e sua filha no mundo da bola.
Walter e Dona Edith tiveram uma relação conturbada no passado. No entanto, com o passar dos anos e o amadurecimento do jogador, eles se reaproximaram. Ela mora em Recife-PE e tem restrições de mobilidade em razão de cirurgias nos dois pés, por isso é dependente de contribuições financeiras do filho. Nos últimos dois anos, quando o atacante jogou por Santa Cruz e Afogados, dois clubes de Pernambuco, moraram juntos e estreitaram a relação.
Isso foi visível antes do embarque de Walter para Pelotas, quando ele postou um vídeo se despedindo da mãe, que chorava por mais uma viagem do filho. Catarina Vitória, 13 anos, é filha de Walter e mora em Porto Alegre, com a mãe. Ela esteve presente na apresentação do jogador na Boca do Lobo e tem se encontrado o pai com mais frequência no sul do Estado.