Após meses de negociações para a formação de uma liga do futebol brasileiro, o que se tem no momento é uma grande tratativa dividida em, agora, três blocos pelos direitos de transmissão. A construção de um campeonato organizado pelos clubes ainda enfrenta obstáculos. No momento, se os direitos forem negociados com investidores diferentes, a CBF seguirá como a organizadora do Brasileirão.
Até dias atrás, eram dois grupos de clubes, divididos em Libra (Liga do Futebol Brasileiro) e LFF (Liga Forte Futebol do Brasil). Agora, Botafogo, Cruzeiro e Vasco, insatisfeitos com a Libra, devem negociar seus jogos de maneira individual.
As divergências estão ligadas à distribuição do dinheiro, embora as diferenças tenham diminuído com o passar do tempo. Para buscar angariar maior número de equipes, a Libra tem remodelado as suas ofertas. Com investimento do fundo Mubadala Capital, foi oferecida a distribuição de R$ 4,75 bilhões caso mais de 33 clubes assinem a proposta. O valor é referente a 20% do montante a ser arrecadado pelos direitos de transmissão dos jogos dos clubes da liga, além da participação na organização do torneio.
Se a quantidade de participantes for entre 18 e 33, será feita a distribuição de R$ 4 bilhões. Sem Botafogo, Cruzeiro e Vasco, são 15 adesões no momento.
— Uma liga unificada não pode ter os desentendimentos que estão acontecendo entre os clubes — ponderou John Textor, dono da SAF do Botafogo.
Na tentativa de seduzir mais equipes, uma nova oferta foi apresentada. Aos afiliados serão distribuídos R$ 2,35 bilhões por 12,5% do valor dos direitos de transmissão. Nessa proposta, a Libra abre mão de organizar o torneio, formando, na prática, um bloco comercial de negociação, além de oferecer R$ 3 milhões de adiantamento para os integrantes do grupo.
A oferta da LFF é de R$ 4,85 bilhões, com investimentos do fundo americano Serengeti. Ela conta com a adesão de 26 clubes, sendo oito da Série A. A Libra, embora tenha menos integrantes, conta com nove equipes da elite. Os acordos a serem firmados terão validade de 50 anos. A primeira negociação será para a transmissão dos jogos do Brasileirão a partir de 2025.
Ainda na busca por persuadir mais clubes, a Libra estendeu a todos os seus integrantes a cláusula de proteção que antes era aplicada somente a Flamengo e Corinthians. O termo define que caso a arrecadação em 2025 seja menor ou igual a deste ano, a divisão do dinheiro será igual à atual para todos.
A principal diferença está na distribuição dos valores. A LFF defende um equilíbrio mais imediato da divisão das cotas, enquanto a Libra propõe uma modificação na distribuição mais gradual para que se chegue de 3,5 vezes entre quem arrecada mais e quem arrecada menos.
A Libra também defende que mudanças estatutárias devam ser tomadas apenas com aprovação por unanimidade. No outro lado, são necessários 2/3 dos votos para a modificação.
— Tentamos votar o fim dessa unanimidade, que seja por maioria. O presidente do Flamengo foi contra, mas por que tudo tem que ser do jeito que o Flamengo quer? — questionou, em entrevista coletiva, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, integrante da Libra.
Grêmio e Inter estão em trincheiras diferentes. Os gremistas estão vinculados à Libra, enquanto os colorados à LFF. O Conselho Deliberativo colorado solicitou que a Libra apresentasse sua proposta aos conselheiros, para que eles tenham mais elementos para votar a adesão à LFF em 3 de julho. Até o momento, a solicitação não foi atendida.
Há o entendimento que exista espaço para uma convergência. Mesmo que os acordos estejam na iminência de serem selados, é possível que o diálogo entre as partes possa ocorrer no futuro para que os clubes assumam as rédeas do futebol brasileiro.
Quem faz parte da Libra
Bahia, Corinthians, Flamengo, Grêmio, Guarani, Ituano, Mirassol, Novorizontino, Palmeiras, Ponte Preta, Bragantino, Sampaio Corrêa, Santos, São Paulo e Vitória
O que a Libra oferece
Primeira oferta: R$ 4,75 bilhões por 20% dos direitos de transmissão caso mais de 33 clubes assinem a proposta
Segunda oferta: R$ 4 bilhões por 20% dos direitos de transmissão caso a participação seja entre 18 e 33 clubes
Terceira oferta: R$ 2,35 bilhões por 12,5%, sem participação na organização do Brasileirão
Quem faz parta da Liga Forte
ABC, Athletico-PR, Atlético-MG, América-MG, Atlético-GO, Avaí, Brusque, Chapecoense, Coritiba, Ceará, Criciúma, CRB, CSA, Cuiabá, Figueirense, Fluminense, Fortaleza, Goiás, Inter, Juventude, Londrina, Náutico, Operário, Sport, Vila Nova-GO e Tombense.
O que a LFF oferece:
Oferta de R$ 4,85 bilhões por 20% dos direitos de transmissão
Independentes
Botafogo, Cruzeiro e Vasco
Principais divergências
A LFF quer uma divisão mais igualitária de imediato; que o clube que mais arrecada receba,
no máximo, 3,5 vezes mais do que o que menos arrecada;
A Libra tem uma cláusula de unanimidade para modificações importantes. A da LFF necessita de 2/3 dos votantes para fazer mudanças