As revelações da Operação Penalidade Máxima e seus desdobramentos expõem diferentes tipos de comportamentos de jogadores sondados para participar do esquema de manipulação no futebol. Além dos atletas que aceitaram se envolver, conscientes da ilicitude ou não, há os que receberam propostas e rejeitaram. Porém, chama atenção que jamais houve denúncia do fato antes de Hugo Jorge Bravo, presidente do Vila Nova, suspeitar de algo diferente e contatar o Ministério Público de Goiás.
Citado em conversas interceptadas da operação, o meia Nathan, do Grêmio, negou envolvimento com os casos de manipulação, no entanto, admitiu que foi abordado. Conforme nota divulgada pelo atleta, ele foi "procurado pelos aliciadores, porém não aceitou as propostas diante de sua ética profissional e seriedade com o futebol". O mesmo aconteceu com o meia Mauricio, do Inter. Citado em uma conversa, ele admitiu que sofreu o assédio, mas rejeitou e ignorou a pessoa que lhe fez a abordagem.
Diante destas situações, surge a dúvida: o que um jogador que é procurado deveria fazer na hora do assédio?
Para este fim, a corregedoria do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) criou um uma ouvidoria exclusiva para tratar do tema, pelo e-mail ouvidoriamanipulacaoderesultado@stjd.com.br.
Neste canal, quem for assediado poderá denunciar e, desta forma, o Tribunal pretende desmantelar o esquema e tornar mais eficiente a apuração das supostas partidas manipuladas.
— A primeira coisa é rejeitar qualquer tipo de contato ou aliciamento. Caso aconteça, entrar em contato com o jurídico do clube e também fazer uma denuncia ao STJD, que abriu uma ouvidoria exclusivamente para isso. A denúncia pode ser anônima. O jogador não vai ser identificado — afirmou Andrei Kampff, advogado especializado em direito esportivo e compliance.
Uma plataforma similar é utilizada pelo Sindicato de Atletas Profissionais do Rio Grande do Sul (Siapergs), que também criou um espaço exclusivo em seu site oficial, chamado Denúncia na Rede, para que os atletas do Estado façam denúncias anônimas.
Ao alertar o clube ao qual está vinculado sobre o assédio, o jogador poderá receber apoio e assistência, além de estar ciente da situação para tomar medidas apropriadas, se necessário. Conforme advogados especialistas em direito esportivo, agindo de forma proativa, o atleta demonstrará que não está conivente em relação à situação, prevenindo ser acusado de omissão.
— O atleta até pode responder por omissão, mas é difícil de enquadrar. O mais importante é não estimular a conversa, acabar com o diálogo logo no início da abordagem — destacou Kampff.
Em países como Espanha e Alemanha, os jogadores de futebol são instruídos a baixar o aplicativo "Red Button", do Fifpro (sindicato mundial). O botão vermelho, na tradução para o português, é um canal de denúncia anônima para realização de denúncias de tentativas de aliciamento ou alguma movimentação suspeita. Elas são recebidas por delegados de integridade e direcionadas para órgãos de investigação da polícia e do governo.
Por outro lado, existe um temor no ato de denunciar. Jogadores que são assediados e se calam, podem agir assim por medo de represálias dos aliciadores. Conforme o presidente do Siapergs, Gabriel Schacht, a maior dificuldade das denúncias recebidas é de elas serem acompanhadas de provas.
— Sempre existe esse receio de formalizar a denúncia, mesmo tendo um canal exclusivo para isso. Chegam muitos rumores, mas não conseguimos atuar se não houver uma prova. No caso de manipulação, é um caso pesado, é uma máfia. Por isso entendemos os atletas, apesar de sermos contrários. A gente estimula que eles denunciem. O MP trabalha praticamente dentro dos telefones, então um print já é suficiente — destacou Schacht.