A BC Sports Management, utilizada para fazer o pagamento de propina a jogadores aliciados no esquema de manipulação de resultados no futebol, atua no agenciamento de atletas e intercâmbio no Exterior.
A empresa é propriedade de Bruno Lopez de Moura e da esposa dele, Camila Silva da Motta. Ele é apontado pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO) como líder do grupo de apostadores que pagava valores a atletas para que cometessem pênaltis e recebessem cartões amarelos e vermelhos em jogos dos campeonatos brasileiros das séries A e B de 2022, além de Estaduais de 2023. Lopez (que aparece na imagem abaixo como jogador de futsal, sendo assessorado pela própria empresa) e seus comparsas, a partir das combinações com os profissionais, faziam apostas múltiplas, modalidade em que eventos devem se encadear em um mesmo palpite, para maximizar seus ganhos em sites de palpites esportivos.
A conta da BC Sports Management no Instagram teve a última postagem feita no dia 17 de abril: tratou-se de um anúncio de que a empresa detinha quatro vagas para incluir jogadores no FC Neded, clube da Eslováquia. A promessa era de moradia, alimentação, salário e um ano de contrato. Os interessados deveriam entrar em contato.
Em novembro de 2022, outra postagem sobre o futebol da Eslováquia continha a informação de que as remunerações variam entre 200 euros e 250 euros, o que chega a ser menos do que um salário mínimo no Brasil. Levar jovens sonhadores e jogadores sem nenhum cartaz para clubes pequenos, semiprofissionais ou amadores da Europa é uma das atividades da empresa de Lopez, que está preso preventivamente.
Além do futebol de campo, ele fazia também negociações envolvendo atletas para times de futsal, sendo um deles o Mação FC, de Portugal. A BC Sports Management anuncia ser “parceira comercial” do Mação, que, em maio de 2023, sagrou-se campeão de um torneio distrital em Portugal ao vencer um jogo por 60 a zero. O insólito placar foi construído contra um adversário que tinha apenas o goleiro e dois jogadores de linha. Pelo menos um atleta empresariado por Lopez já foi incluído no plantel do Mação.
Usando linguagem de encorajamento para a realização do sonho de tornar-se jogador, a BC Sports ofertou a jovens vagas em pequenos clubes ou a realização de testes na Croácia, Alemanha, Albânia, Polônia, Portugal e Bósnia. Em alguns casos, os salários dos atletas são modestos. Um anúncio para jogar na segunda divisão da Bósnia continha a promessa de remuneração de 70 euros por semana, cerca de R$ 372 pela cotação atual. A empresa também mirava jovens: um anúncio recrutava meninos de 14 a 19 anos para estudar e fazer testes em times da Polônia, com a promessa de moradia, alimentação e uma bolsa de 50 dólares. Jogadores enviados para países como a Croácia gravaram vídeos agradecendo a Lopez e mostrando as acomodações em que estavam.
No Instagram, o empresário surge em fotografias ao lado de futebolistas assinando contratos ou em portões de embarque de aeroportos. Nenhum dos atletas profissionais aliciados no esquema de manipulação de resultados no Brasil consta como agenciado pela BC Sports e por Lopez. Conforme informações do CNPJ, o endereço da empresa remete a uma casa localizada em um bairro popular de São Paulo.
Nas duas denúncias da Operação Penalidade Máxima, liderada pelo MP-GO, foram apresentados comprovantes de transferências bancárias da conta da BC Sports para jogadores aliciados. Parte das operações era feita por Camila, esposa do acusado de liderar a organização.
A primeira acusação do MP-GO chama atenção para o que definiu como “movimentações atípicas” em conta bancária vinculada a Camila. No período de nove meses, ao longo de 2022, ela fez transações que superaram R$ 1 milhão. Os promotores destacaram a identificação de “transferências suspeitas mediante depósitos em espécie em caixas eletrônicos, com pulverização das operações”.
Para o MP-GO, a prática é um indicativo de “utilização da conta bancária para movimentação de valores oriundos de manipulação de resultados e apostas”.
Lopez já foi alvo de duas denúncias do MP-GO e tornou-se réu sob acusação de associação criminosa e de ter infringido o artigo 41-D do Estatuto do Torcedor: dar ou prometer vantagens com o objetivo de falsear o resultado de uma competição desportiva. As penas previstas são de reclusão de três a oito anos pela organização criminosa e de dois a seis anos pelo delito de manipulação de evento esportivo. Camila foi alvo apenas da primeira denúncia, pelo delito de integrar organização criminosa.
O acusado de liderar o grupo que manipulou resultados já foi jogador de futsal do São Bernardo. Nas redes sociais, ele aparece em vídeos fazendo pelo menos dois gols em tiros livres.