O Ministério Público de Goiás (MP-GO) investiga um esquema de manipulação de apostas esportivas em partidas do Campeonato Brasileiro das Séries A e B de 2022 e partidas do Paulistão e do Gauchão deste ano. Jogadores cooptados por grupos criminosos recebiam até R$ 100 mil para provocar cartões amarelos e vermelhos ou realizar outras ações dentro de campo. Ao todo, sete jogadores estão na mira das autoridades.
Em abril, o MP, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), deflagrou a segunda fase da Operação Penalidade Máxima — a primeira foi realizada em fevereiro e mirava apenas jogos da Série B.
Confira, abaixo, perguntas e respostas sobre a Operação Penalidade Máxima:
Que fraude está sendo investigada?
A operação investiga a atuação de uma organização criminosa na manipulação de resultados de jogos de futebol, inclusive da Série A e B do Brasileirão de 2022, além de campeonatos estaduais de 2023. A investigação descobriu que os criminosos tentavam cooptar jogadores de futebol com ofertas entre R$50 mil e R$100 mil para que interferissem em eventos dos jogos. A interferência beneficiaria os apostadores em detrimento das casas de apostas.
Como acontecia a manipulação?
Aliciadores entram em contato com alguns jogadores de diversas competições do futebol brasileiro visando fechar um acordo para que estes realizem algumas ações ao longo de determinada partida. Em troca, os atletas recebem grandes quantias de dinheiro, mas somente se cumprir com o combinado. Tomar cartão amarelo ou vermelho, cometer pênalti, sofrer gol ou fazer gol contra, são algumas ações que garantiam dinheiro aos jogadores.
As competições podem parar? Campeonatos já encerrados podem ser anulados?
Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, afirmou que o Brasileirão da Série A e da B, competições que contam com jogadores investigados, não serão paralisados. Em entrevista ao portal Uol, Rodrigues afirmou que até o momento somente jogadores estão sendo alvo das investigações e, por isso, não haveria motivos para congelar as competições.
O presidente explicou que a entidade articula com a Fifa um modelo de investigação mundial relacionado à manipulação de resultados. A Fifa tem uma normatização de fair play, e as penalidade são individuais a quem foi corrompido, atleta, árbitro, treinador.
Qual a posição da CBF?
A CBF informou que o presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues, enviou ofício à Presidência da República e ao Ministério da Justiça solicitando que a Polícia Federal entre no caso, com o objetivo de centralizar todas as informações a respeito dos casos em investigação. A entidade também disse estar à disposição para dar todo o apoio necessário. Além disso, disse que não foi, até o momento, oficialmente informada pelas autoridades sobre os fatos.
A confederação ressaltou que "tão logo estejam comprovados os fatos, (esperamos) que as sanções cabíveis por parte do STJD sejam tomadas de forma exemplar. Mais uma vez, a entidade reforça que o campeonato não será suspenso, mas defende que a punição de atletas e demais participantes do esquema de fraudes aconteça de forma veemente".
Quem são os jogadores denunciados até agora e por quais motivos? Como foi a participação deles?
O Ministério Público de Goiás denunciou 16 jogadores das Séries A e B do Brasileirão com envolvimento em manipulação de apostas esportivas, investigados na segunda fase da Operação Penalidade Máxima. Na primeira etapa da investigação, oito atletas foram denunciados. Quatro jogadores descobertos no esquema admitiram envolvimento e não foram denunciados.
EDUARDO BAUERMANN (SANTOS)
- Santos x Avaí (Brasileirão, 5/11/2022): "Pagamento em montante ainda não precisado, porém certo que pelo menos R$ 50 mil foram efetivamente entregues a Eduardo Bauermann antes mesmo da realização do jogo, para que Eduardo, jogador do Santos, fosse punido com cartão amarelo na partida (o que não ocorreu)".
- Botafogo x Santos (Brasileirão, 10/11/2022): "Bauermann, apesar de ter aceitado valores na rodada anterior, não "cumpriu" sua parte no acordo ao não ser punido com cartão amarelo. Por isso, na rodada imediatamente seguinte e ainda com a posse da quantia recebida, novamente aceitou a promessa de valores indevidos para, agora, ser expulso na partida".
Bauermann e Romarinho, investigados pelo Ministério Público, conversaram diretamente antes da partida contra o Botafogo, pelo Brasileirão de 2022.
PAULO MIRANDA E GABRIEL TOTA (JUVENTUDE)
- Juventude x Fortaleza (Brasileirão, 18/9/2022): "Promessa de pagamento de R$ 60 mil, dos quais R$ 5 mil foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, mediante pagamento na conta de Gabriel (Tota), jogador do Juventude, para posterior repasse ao atleta Jonathan (Paulo Miranda), para que este, também jogador do Juventude, fosse punido com cartão amarelo na partida, o que foi efetivamente providenciado pelo jogador."
- Goiás x Juventude (Brasileirão, 5/11/2022): "Promessa de pagamento de R$ 50 mil, dos quais R$ 10 mil foram efetivamente entregues antes mesmo da realização do jogo, mediante pagamento providenciado por Romario Hugo dos Santos para a conta de Gabriel (Tota), para posterior repasse a Jonathan (Paulo Miranda), para que este, também jogador do Juventude, fosse punido com cartão amarelo na partida, oque foi efetivamente providenciado pelo jogador."
IGOR CARIÚS (CUIABÁ)
- Ceará x Cuiabá (Brasileirão, 16/10/2022): "Promessa de pagamento em montante total ainda não precisado, porém certo que R$ 5 mil foram efetivamente entregues a Igor Aquino da Silva antes mesmo da realização do jogo, para que Igor, jogador do Cuiabá, fosse punido com cartão amarelo na partida, o que foi efetivamente providenciado pelo jogador".
- Palmeiras x Cuiabá (Brasileirão, 6/11/2022): "Pagamento de R$ 60 mil para que Igor Aquino da Silva (Igor Cariús), jogador do Cuiabá, fosse punido com cartão amarelo na partida".
FERNANDO NETO (OPERÁRIO)
- Sport x Operário (Série B, 28/10/2022): "Promessa de pagamento de R$ 500 mil, dos quais R$ 40 mil foram efetivamente entregues a Fernando José da Cunha Neto antes mesmo da realização do jogo, para que Fernando, jogador do Operário, fosse punido com cartão vermelho".
VICTOR RAMOS (CHAPECOENSE)
- Guarani x Portuguesa (Paulistão, 8/2/2023): "Promessa de pagamento de R$ 100 mil para que Victor Ramos Ferreira, jogador da Portuguesa, cometesse uma penalidade máxima. Posteriormente, em razão de Bruno, Ícaro e Zildo (três dos denunciados) aparentemente não terem encontrado outros jogadores para manipulação de resultado na mesma rodada, os denunciados não efetuaram pagamento antecipado ao atleta e posteriormente não fizeram a aposta na partida".
MATHEUS GOMES (SEM CLUBE)
- Responsável por realizar o repasse de R$ 40 mil para Fernando Neto, que recebeu promessa de R$ 500 mil para levar cartão vermelho na partida entre Sport x Operário-PR, pela Série B do Brasileirão de 2022. O esquema não foi concluído.
Outros atletas também foram denunciados pelo MP-GO:
- Allan Godói (zagueiro, Operário-PR)
- André Luiz (volante, ex-Sampaio Corrêa)
- Gabriel Domingos (volante, Vila Nova)
- Joseph (zagueiro, ex-Tombense)
- Paulo Sérgio (zagueiro, ex-Sampaio Corrêa, hoje no Operário)
- Romário (meia, ex-Vila Nova)
- Mateusinho (lateral-direito, ex-Sampaio Corrêa, hoje no Cuiabá)
- Ygor Catatau (atacante, ex-Sampaio Corrêa, hoje no Sepahan, do Irã).
Quem são os jogadores que fizeram acordo com a Justiça?
- Moraes (lateral-esquerdo do Atlético-GO): Recebeu R$ 30 mil para levar cartão amarelo na partida entre Palmeiras x Juventude, pela Série A do Brasileirão de 2022.
- Kevin Lomónaco (zagueiro do Bragantino): Recebeu R$ 70 mil para levar cartão amarelo na partida entre Bragantino x América-MG, pela Série A do Brasileirão de 2022.
- Nikolas Farias (volante do Novo Hamburgo): Recebeu R$ 80 mil para cometer um pênalti na partida entre Novo Hamburgo x Esportivo, pelo Campeonato Gaúcho de 2023.
- Jarro Pedroso (atacante do Inter-SM): Recebeu R$ 70 mil para cometer um pênalti no primeiro tempo da partida entre Caxias x São Luiz, pelo Campeonato Gaúcho de 2023.
Quem são os jogadores citados, mas sem comprovação de participação no esquema?
- Vitor Mendes (Juventude, atualmente no Fluminense)
- Nathan (Fluminense, atualmente no Grêmio)
- Richard Coelho (Ceará, atualmente no Cruzeiro)
- Nino Paraíba (Ceará, atualmente no América-MG)
- Jesus Trindade (Coritiba)
- Pedrinho (Athletico-PR)
- Bryan Garcia (Athletico-PR)
- Mauricio (Inter)
- Alef Manga (Coritiba)
- Diego Porfírio (ex-Coritiba, hoje no Guarani)
- Max Alves (Colorado Rapids-EUA)
- Leonardo Realpe (Bragantino)
- Rafael Vaz (ex-Avaí, hoje no São Bernardo)
- Sávio (ex-Goiás, hoje no Rio Ave)
- Thonny Anderson (ex-Coritiba, hoje no ABC)
- Auremir (ex-Goiás, hoje no CRB)
- Sidcley (ex-Cuiabá, hoje no CSKA Sofia-BUL)
- Zeca (hoje no Vitória)
- Matheus Vargas (hoje no Sport)
- Nathan (ex-Avaí, hoje no Lyga Riteriai-LIT)
- Raphael Rodrigues (Avaí)
- Denilson Alves (Cuiabá)
- Pará (ex-Juventude, hoje no Santo André).
O que os clubes gaúchos que tiveram jogadores citados dizem sobre o caso?
Sobre Nathan, o Grêmio disse que o jogador "informou que foi procurado por aliciadores envolvidos com apostas esportivas, porém rechaçou a aproximação e, em momento algum, cogitou participar da manipulação de jogos". Por meio de sua assessoria de imprensa, o meio-campista divulgou nota. O ex-meia de Atlético-MG e Fluminense negou participação no esquema de pagamentos por interferências na partidas e "se coloca à disposição das autoridades para colaborar com as investigações".
O Inter também se manifestou sobre a citação a Mauricio nas conversas. O clube colorado afirmou que Mauricio "apresentou os elementos e provas robustas que demonstram a sua não participação em quaisquer fatos irregulares que estão sendo veiculados". O documento ainda ratifica a "confiança no atleta diante de tudo que foi preliminarmente depurado".
Com jogadores envolvidos também no esquema, o Juventude disse ser "inadmissível, e por todas as formas condenável, condutas ilícitas, antiéticas, imorais e antidesportivas, inaceitáveis em qualquer nível". Além disso, o clube reiterou o seu "firme posicionamento de colaborar com as autoridades responsáveis pelas investigações".
Como Gabriel Tota, um dos denunciados defende atualmente o Ypiranga, o time de Erechim emitiu posicionamento a respeito do caso. "O clube ressalta que o atleta não participou de nenhuma partida pelo Ypiranga, e que o YFC nada tem de responsabilidade na presente ação. O nosso departamento de futebol juntamente com o departamento jurídico da instituição estão acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, ouvindo o atleta e seus representantes, preservando sua integridade profissional neste momento", diz trecho da nota.
Inter-SM, atual time de Jarro, e São Luiz, clube no qual o jogador disputou o Gauchão, também repudiaram o caso.
Quem são os jogadores afastados?
Até o momento, sete jogadores foram afastados mediante anúncios oficiais. O primeiro jogador afastado foi Eduardo Bauermann, do Santos, após conversas entre o zagueiro e apostadores serem divulgadas pela revista Veja. O clube anunciou a retirada do atleta do elenco na manhã de terça-feira (9).
Além do zagueiro, mais seis jogadores sofreram sanções dos clubes. O zagueiro Vitor Mendes (Fluminense), o meio-campista Richard (Cruzeiro), o lateral-esquerdo Pedrinho e o meia Bryan Garcia (ambos do Athletico-PR), o lateral-direito Nino Paraíba (América-MG) e o volante Fernando Neto (São Bernardo).
Alef Manga e Jesús Trindade, ambos do Coritiba, também estão na lista divulgada pelo jornal O Globo e, por isso, foram afastados pelo clube. Contudo, a decisão é apenas para o confronto contra o Vasco, nesta quinta-feira, às 19h.
Por que o caso está concentrado no Ministério Público de Goiás?
A operação está alocada no estado goiano pois as investigações começaram depois que o presidente do Vila Nova de Goiás, o policial Hugo Jorge Bravo de Carvalho denunciou a tentativa de manipulação de apostas. Um dos jogadores da equipe teria sido cooptado pelo esquema da quadrilha.
O que significa a Polícia Federal entrar na investigação?
O ministro da Justiça, Flávio Dino, informou na última quarta-feira, pelo Twitter, que a Polícia Federal vai instaurar inquérito para apurar as fraudes no esporte. As operações, até agora, são conduzidas pelo Ministério Público de Goiás com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Com a presença da Polícia Federal, a tendência é de aumentar o poder de investigação.
Qual o papel dos sites de apostas no caso?
Até o momento, clubes e casas de apostas são consideradas vítimas do esquema de manipulação de apostas.