Após sediar a Copa do Mundo 2022, o Catar quer receber os Jogos Olímpicos de 2036. Em 2009, a capital da nação árabe, Doha, apresentou candidaturas em 2016, 2020 e 2032, sem sucesso.
As autoridades cataris planejam diversificar sua economia para além da energia e, para isso, contam com o esporte e o turismo, o que seria o motivo para uma nova campanha para os jogos daqui 14 anos.
— O Comitê Olímpico Internacional (COI) não quis e creio que, depois da Copa do Mundo, vai ser exatamente igual — disse Jean-Loup Chappelet, especialista do movimento olímpico da Universidade de Lausanne, na Suíça.
Depois da Copa, encerrada no domingo (18) com o título da Argentina, o Catar quer se reforçar como um "líder mundial no esporte". Porém, o caminho para isso ainda pareça longo e cheio de obstáculos.
O país recebeu várias críticas nos últimos anos durante os preparativos para o Mundial, desde questões relacionadas aos direitos humanos até outras ligadas ao meio ambiente. Do outro lado da balança, pode-se comemorar o sucesso de organização do evento às infraestruturas construídas — com um custo estimado de US$ 300 bilhões (aproximadamente R$ 1,5 bilhão na cotação atual).
— Contra qualquer outra candidatura, o Catar não tem nenhuma chance — estima Chappelet, ressaltando que agora "o COI busca evitar os investimentos que façam os orçamentos dispararem" e demarcar o respeito aos direitos humanos com a cidade anfitriã.
Gol contra
A mudança de data do jogo de abertura da Copa do Mundo a três meses da competição foi para muitos uma mostra de "falta de profissionalismo". Também a mudança de postura sobre a venda de cerveja nos arredores dos estádios a apenas dois dias do início do evento. Para Chappelet, esses são "erros" que podem pesar na hora de avaliar uma candidatura olímpica.
O Catar e a Fifa "marcaram vários gols contra", disse à AFP Michael Payne, diretor de marketing do COI entre 1983 e 2004, embora tenha admitido que a questão do álcool "foi rapidamente esquecida" e que a maioria das pessoas, vendo o que o Catar fez, destaca que a medida não foi ruim.
Como no caso da Copa, realizada no final do ano para escapar das altas temperaturas do verão no país árabe, os Jogos Olímpicos em Doha precisariam de uma mudança nas datas em relação aos habituais meses de julho e agosto. Existem precedentes na história, como por exemplo nos Jogos de Tóquio 1964 (10 a 24 de outubro) e os de Seul 1988 (17 de setembro a 2 de outubro).
Sete dos oito estádios do Mundial de futebol eram climatizados, e o responsável por seu sistema de ar condicionado considera "viável e possível em termos de engenharia" climatizar, por exemplo, o percurso da maratona.
Saud Abdulaziz Abdul Ghana, apelidado de "Dr. Frio", afirmou que ainda não foi contactado em relação a um projeto olímpico.
Candidaturas conjuntas
O Catar não é o único país na região que sonha em ser sede olímpica. A Turquia já tentou cinco vezes, e a Arábia Saudita estuda uma dupla candidatura para a Copa de 2030 e para os Jogos Olímpicos de 2036.
Danyel Reiche, professor da Universidade Georgetown de Doha, afirmou à AFP que o Mundial de 2022 "revitalizou a união árabe e o pan-arabismo", depois do bloqueio diplomático imposto ao Catar por parte de Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito entre 2017 e 2021.
— Mas por quanto tempo? — se perguntou.
Reiche defende "candidaturas conjuntas para os eventos esportivos continentais e mundiais que poderiam ter como dividendo uma paz duradoura".
A primeira incursão de destaque do Catar nos grandes eventos esportivos se remonta aos Jogos Asiáticos de 2006. Será sede da próxima Copa da Ásia de futebol em 2023, do Mundial de natação em 2024 e dos Jogos Asiáticos em 2030. Em 2015, recebeu o Mundial de handebol e, em 2019, o de atletismo.
O Catar também é sede de uma etapa do Mundial de motociclismo desde 2004 e vai receber a Fórmula-1 a partir de 2023. O país também estabeleceu como meta ser "o número 1 no automobilismo", segundo Akbar Al Baker, diretor da Qatar Tourism.
O fundo de investimentos esportivos catari QSI, proprietário do PSG e acionista do Braga de Portugal, lançou este ano um novo circuito profissional de pádel, o Padel Premier.