Arthur Nory chegou ao topo do mundo em 2019, quando ganhou o ouro no Mundial de Ginástica Artística, em Stuttgart, na Alemanha. Desde então, porém, vinha convivendo com frustrações e atribulações. O ginasta encarou pandemia, lesões, incluindo fratura do nariz durante treino, burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional), depressão e um AVC da mãe nos últimos dois anos até ter de novo o gosto de conquistar uma medalha.
Em Liverpool, brilhou na barra fixa e levou o bronze, que teve sabor de ouro para quem tinha lidado com tantos insucessos.
— É uma medalha de reconstrução, de volta ao pódio depois de tantas adversidades — define Nory em entrevista ao Estadão.
O contexto e a dificuldade para faturar o bronze deram mais peso à medalha para o paulista de Campinas, bronze no solo na Olimpíada do Rio, em 2016, e prata no individual geral nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019.
— Esse bronze veio para mostrar que estou no caminho certo. É poder me reconstruir, lutar, continuar acreditando. Pelo ano de 2021 e o que construí depois para chegar de novo entre os melhores, eu acho que essa medalha de bronze tem gosto de ouro— diz ele, aliviado.
Para se reerguer e se reconstruir, Nory passou - e continua passando - por acompanhamento psicológico. Cuidar de sua saúde mental, então debilitada, foi determinante para a retomada dos bons resultados.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, ele relatou ter sofrido esgotamento mental, foi xingado nas redes sociais em razão de um episódio antigo, mas que ainda ecoava em sua carreira, o ato racista direcionado ao companheiro de seleção, Angelo Assumpção, em 2015. Também disse que sentiu medo naquele momento. Os problemas foram cruciais para uma performance ruim no Japão, onde ficou fora da final olímpica.
— Foi muita terapia, muito acompanhamento psicológico para sair um pouco do ginásio e me reconhecer. Entendi que não sou máquina, sou um ser humano que passa por todos esses problemas. Não tenho que ficar me cobrando tanto e me sabotando. É fazer meu processo e curtir todo o desenvolver. Foi bem difícil essa fase— relata.
O atleta do Pinheiros entende que as quedas que já sofreu foram e continuarão sendo importantes para seu desenvolvimento como atleta e ser humano.
— A gente erra muito, cai muito, de cara muitas vezes. Acho que é sobre como a gente se levanta e dá a cara tapa de novo, como a gente evolui a partir das quedas. É para o esporte e para toda a vida —projeta.
Com Nory, a equipe masculina brasileira terminou a sua participação em sétimo lugar no Mundial de Liverpool, um posto a mais do que o sexto lugar que a equipe alcançou nos Jogos do Rio, melhor posição da história. A ideia é superar essa marca nos próximos anos.
—Dá para sermos a quinta ou quarta melhor equipe do mundo. Isso será trabalhado e a evolução faz todo mundo crescer junto— acredita
Em breve, a prioridade passará a ser o Mundial de 2023, na Antuérpia, Bélgica, visto que a competição dará vaga à Olimpíada de Paris. Até lá, diz Nory, o importante é "se desafiar mais" em busca da evolução que pode lhe colocar em sua terceira Olimpíada.