Quando saiu do coma e acordou no Hospital Cristo Redentor, em 16 de junho, Rai Duarte imaginava ter passado por pequeno acidente e que, de imediato, pegaria sua motocicleta e voltaria para casa. Mal sabia que já estava ali havia 46 dias e que o ocorrido era algo maior. Sua moto ficou estacionada na frente da garagem da casa dos pais, no bairro Fátima. E ali ela seguiu todo o tempo, inclusive quando Rai voltou para Pelotas última quarta-feira (24).
Embora tenha recebido alta dos médicos na quarta-feira (24), o torcedor do Brasil-Pel está no final da recuperação, que é lenta e necessita de cuidados especiais. Em 5 de setembro, ele terá de retornar a Porto Alegre para revisão médica. Além disso, nova cirurgia (que seria a 15ª) está prevista. Ao todo, passou por 14 cirurgias pela grave lesão sofrida nos intestinos.
— Pretendo voltar a trabalhar e me recuperar 100%, mas isso vai aos poucos — afirma Rai, que está proibido pelos médicos de realizar grandes esforços e deve manter alimentação regrada (obviamente, ainda não poderá dirigir sua moto).
Rai teve a companhia de sua mãe, Marta Cardoso, desde a madrugada de 1º de maio, quando foi internado – ele veio à Capital para ver o jogo entre São José x Brasil-Pel, pela Série C do Brasileirão.
Durante os quase dois meses em que filho esteve na UTI, ela alugou um apartamento próximo ao hospital. O valor do aluguel foi pago através de doações de torcedores do Brasil-Pel, que se mobilizaram para ajudar o companheiro.
Quando Duarte foi transferido para o leito da enfermaria do Hospital Cristo Redentor, a mãe ocupou o espaço de acompanhante e não arredou o pé, dando suporte ao filho e acompanhando o trabalho da equipe médica. Com a alta, ela também está de volta para casa.
— Acordar na cama de manhã, saber que está em casa e ver a rua é maravilhoso. Não queria nem sair da cama, mas é muito bom não precisar acordar em um hospital — destacou Marta Cardoso a GZH, que acompanhou a família na viagem até Pelotas, na quarta-feira à tarde.
A mãe de Rai trabalha em um hipermercado de Pelotas. Para cuidar do filho na Capital, saiu de férias no primeiro mês. Na sequência, cogitou pedir demissão, pois a empresa lhe negou uma licença não-remunerada. Através de uma decisão liminar na Justiça, porém, ela conseguiu se licenciar e permanecer em Porto Alegre. Agora, está pronta para retornar:
— Agora é seguir a vida, voltar ao trabalho e levando o Rai para revisão. Daqui a três meses vem o Hyantony para completar a família, que vai ser maravilhoso.
Na Zona Sul do Estadopermaneceu Alice Pereira Lopes, esposa de Rai, grávida de Hyantony. Em entrevista a GZH, em 11 de junho, ela revelou ter desenvolvido ansiedade com a gestação distante do companheiro e a angústia pelo fato dele se encontrar em estado grave. Agora, tudo mudou.
— Quando ele entrou naquele portão, foi tudo de bom. A melhor notícia que eu poderia esperar. Foi praticamente toda a gestação sozinha, mas com o pensamento só nele. O nosso filho nos deu a maior força nesse momento. Agora somos nós três — afirmou Aline.
Hyantony tem previsão de nascer em 27 de novembro, durante a Copa do Mundo. Se irá torcer para a Seleção Brasileira não sabemos, porém para o Brasil da família, o Xavante, incentivo não falta. Nos últimos meses, o casal já foi presenteado com várias roupas de bebê personalizadas com o escudo e as cores do time pelotense. A influência de Rai torcer para o Brasil é de seu pai, Clóvis Duarte, que agora tem de volta um parceiro de arquibancadas, excursões e churrascos.
— Em tudo que eu fazia ele estava junto, então com certeza vamos fazer muito mais — destaca Clóvis, que faz questão de cobrar soluções e punições aos que agrediram seu filho:
— Todo mundo sabe quem são os culpados. A Brigada Militar é a responsável por todo esse caos. A gente espera uma resposta do poder público para esse tipo de procedimento. Vamos tentar fazer de tudo para fazer com que eles paguem. Não são todos, mas nos últimos tempos está se tornando muito corriqueiro.
Rai Duarte afirma que foi agredido por policiais militares dentro de um banheiro do Estádio Passo D'Areia. A Corregedoria-Geral da Brigada Militar investiga o caso. O inquérito já ouviu testemunhas e os policiais envolvidos no episódio. Há duas semanas, celulares dos PMs tiveram quebra de sigilo e os dados estão sendo analisados. Conforme o corregedor Vladimir Rosa, a apuração está próxima de um desfecho:
— Depois de ouvir as testemunhas e quebrar sigilo dos celulares, agora estamos na análise dos dados. Esperamos encerrar esse processo no final do mês e entregar o documento final para a Justiça Militar.