A rodada do final de semana no futebol brasileiro ficou manchada por três novos relatos de injúria racial. Os casos envolvem Brasil-Pel, mais uma vez, Criciúma e São Paulo.
A situação com o Brasil-Pel aconteceu no domingo (17) no Bento Freitas. Na disputa para fugir do rebaixamento, o Xavante goleou o Atlético-CE por 4 a 1, pela 15ª rodada da Série C. Zé Carlos, lateral-esquerdo do clube cearense, relatou ter ouvido ofensas racistas vindas de torcedores da equipe gaúcha quando voltava do intervalo. O torcedor, que teria imitado um macaco, foi identificado e detido. O ocorrido foi relatado em súmula e o Brasil-Pel terá de responder sobre o caso no STJD.
Com o reinício do jogo, Zé Carlos passou a ser vaiado pelos torcedores pelotenses. O jogador acabou substituído e deixou o gramado chorando. Após a partida, ele registrou boletim de ocorrência.
O árbitro Rafael Salgueiro Lima descreveu em súmula que "o atleta relatou que o torcedor fez gestos racistas em sua direção imitando um macaco". Confira o relato completo de Lima.
" O reinício da partida no segundo tempo atrasou 6 minutos, tendo em vista que o jogador nº 06, o sr. José Carlos Gomes Pereira, da equipe do Athlético Cearense, me procurou relatando ter sofrido injúria racial por parte de torcedor do Brasil de Pelotas, junto à arquibancada próxima ao túnel de acesso ao vestiário da equipe visitante. O atleta relatou que o torcedor fez gestos racistas em sua direção imitando um macaco. após o relato do jogador, entramos em contato com o sgt. Farias da Brigada Militar (Polícia Militar do RS) para identificar o torcedor que supostamente fez os gestos. Tendo feito a identificação, a Brigada Militar autorizou início do segundo tempo. Enquanto transcorria a partida, a Brigada Militar retirou o suposto torcedor da arquibancada e levou para a delegacia da cidade. Assim que substituído no segundo tempo, o atleta de nº 06, o sr. José Carlos Gomes Pereira, foi encaminhado à delegacia para registro de BO e identificação efetiva do torcedor."
— É inadmissível que aconteça ainda no Bento Freitas. Inadmissível. Parece que as pessoas não aprendem. Temos que nos incomodar para isso em um domingo que era para ser um domingo alegre — lamentou Arthur Lannes, vice de futebol xavante.
Este é ao menos o terceiro caso de injúria racial envolvendo torcedores do Brasil-Pel. No ano passado, houve relato do zagueiro Sandro, do Brusque. No Gauchão deste ano, o goleiro Adriel, do Grêmio, também denunciou ofensas racistas disparadas contra ele. Além dessas situações, este ano um torcedor foi retirado do Bento Freitas por ter tatuado no corpo imagens alusivas ao nazismo.
No Morumbi
Enquanto São Paulo e Fluminense faziam um jogo eletrizante no domingo (17), um torcedor do Fluminense tinha pouco a comemorar. Durante o 2 a 2 no Morumbi, pelo Brasileirão, um são-paulino foi flagrado imitando um macaco. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram que os gestos foram realizados em frente a policiais militares.
"Mais (sic) isso tem que acabar. RACISMO É CRIME E INFELIZMENTE AINDA EXISTE", declarou o torcedor em suas redes sociais junto com um vídeo que flagra o ato. Fluminense e São Paulo se manifestaram, através de notas, repudiando a atitude do são-paulino.
Em Santa Catarina
O primeiro caso dos últimos dias envolveu a torcida do Criciúma. Na sexta-feira, o Tigre empatou em 1 a 1 com a Ponte Preta, no Heriberto Hülse. Durante a partida pela Série B, o atacante Da Silva, do clube paulista, afirmou ter sido chamado de "macaco".
O jogador registrou boletim de ocorrência contra os torcedores. Em nota, a Ponte também afirmou que "cuspiram, jogaram objetos e bebida em cima dos atletas pontepretanos que faziam aquecimento".
O jogo chegou a ser interrompido por alguns instantes devido ao comportamento dos torcedores do clube catarinenses. Em um primeiro momento a polícia não conseguiu identificar a origem das ofensas. O Criciúma se prontificou a ajudar na identificação dos envolvidos, o que acabou ocorrendo. O clube, em nota, externou o "seu repúdio a qualquer ato de discriminação e afirma que jamais será omisso diante de um fato tão grave". E diz que "o fato (identificação) só reforça a importância da luta diária por um futebol sem ódio".
O ato foi registrado em súmula pelo árbitro Caio Max Augusto Vieira:
"Aos 46 minutos do 1º tempo, paralisei a partida por volta de 3 minutos, após ser informado pela 4ª árbitra Charly Deretti, que o atleta que se encontrava em aquecimento, sr. Rondinelli da Silva Vieira, nº 28, da equipe Ponte Preta relatou ter sofrido injúria racial por um torcedor que se encontrava junto a torcida do Criciúma. O atleta informou que foi chamado de 'macaco'. Informo também, que o atleta ainda relatou que foi arremessado em sua direção um copo com líquido não identificado, sendo atingido pelo mesmo líquido. Foi solicitado ao policiamento presente que identificasse o infrator, porém até o fechamento dessa súmula não foi possível, pois o indivíduo se evadiu do local do jogo. Nenhum dos membros da arbitragem pôde identificar tais atos, sendo assim após a chegada do policiamento para tomar as devidas providências, dei continuidade na partida".