Árbitro do quadro da Fifa, o mineiro Igor Benevenuto revelou ser gay. Ele é o primeiro juiz da entidade a fazer este tipo de manifestação publicamente. A declaração foi feita ao ge.com. Benevenuto, de 41 anos, fez um depoimento em que conta toda a sua trajetória no futebol, desde os tempos em que era um garoto até o momento em que começou a apitar nos grandes palcos do futebol.
"O futebol é um esporte que eu cresci odiando profundamente. Não suportava o ambiente, o machismo e o preconceito disfarçado de piada. Para sobreviver na rodinha de moleques que viviam no terrão jogando bola, montei um personagem, uma versão engessada de mim", revelou no início de sua declaração ao podcast "Nos Armários dos Vestiários".
Na declaração, Benevenuto relata sua relação com a homossexualidade. Conta que desde cedo já sabia da sua orientação sexual, porém que tentou driblar seus instintos e chegou a namorar meninas.
"Até hoje, nunca havia sido eu de verdade. Os gays costumam não ser eles mesmos. Limitando nossas atitudes para não desapontar a expectativa do mundo hétero. Jogadores e técnicos jamais me ofenderam. Isso partiu todas as vezes de dirigente e torcida. E toda vez que isso acontece eu relato na súmula. Uma luta, mas não desisto", explica em uma parte do depoimento.
O interesse pela arbitragem surgiu durante a Copa do Mundo de 1994. Naquele ano, os árbitros deixaram de usar apenas uniformes pretos. As camisas de cores mais chamativas pescaram a atenção dele.
"Os gays no futebol estão em uma caixa de pandora. Jogadores, árbitros, torcedores… E nós somos muitos! Já não há espaço dentro desse armário apertado."
IGOR BENEVENUTO
Árbitro de futebol
Ele também relata que a arbitragem lhe dá uma sensação de poder que ele necessitava, mas é mais do que isso, segundo ele. "Me posicionei como o dono do jogo, o cara de autoridade, e isso remete automaticamente a uma figura de força, repleta de masculinidade", explica.
Benevenuto também conta como é a relação dos gays dentro do mundo da arbitragem e dentro de campo. Segundo ele, sua homossexualidade sempre foi sabida, mas ele era orientado a não tocar no assunto. Jogadores e técnicos sempre o respeitaram. As ofensas, de acordo com seu relato, partiam de torcedores e dirigentes.
Ele ainda revela que existem muitos gays no futebol. "Tem árbitro, jogador, técnico, casados, com filhos, separados, com vida dupla... Tem de tudo", explica.