Se o Rio Grande do Sul é conhecido por revelar grandes talentos no futebol, nos esportes eletrônicos não é diferente. Em 2014, com apenas 17 anos, Ricardo Prass, o Boltz, surgiu para o mundo do Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) como um dos principais talentos e revelações dos eSports. O gaúcho é o convidado do novo episódio do Geração Start, o podcast sobre o universo dos games de GZH.
Natural de Canoas, Boltz tem uma carreira marcada por conquistas, passagens por grandes organizações e algumas frustrações. Campeão de grandes torneios como DreamHack Open Summer (2016), defendendo a Immortals, Blast Pro Series (2017), Epicenter (2017) e ESL Pro League 6 (2017), defendendo a SK, o gaúcho também carrega consigo um doído vice-campeonato do Major da Cracóvia, na Polônia, em 2017, também pela Immortals.
— Já tive muitos altos e muitos baixos. A carreira no CS é assim. São muitas fases e tudo passa muito rápido. Na Boom (equipe que Boltz defendeu em 2020), por exemplo, estávamos em um ótimo momento, ganhando tudo e conseguindo a classificação para o Major do Rio, que acabou não acontecendo por causa da pandemia. Aí fui para um 2021 terrível no quesito resultados. Mesmo assim, é legal ver tudo que passei e recordar essa trajetória — comentou o jogador em entrevista ao G-Start.
Atualmente, Boltz está defendendo a Imperial. Convidado pelos seus ex-companheiros de SK, Gabriel “Fallen” Toledo, Fernando “Fer” Alvarenga e Lincoln “Fnx” Lau, o jogador entrou para o projeto do Last Dance brasileiro, após um 2021 com resultados abaixo da expectativa e que quase fizeram com que ele largasse a carreira profissional para focar nas streams.
— Em 2021, durante o projeto MIBR, eu já não me via tendo bons resultados e me questionava se era isso mesmo que eu queria continuar fazendo. Por isso, pensei em largar o CS profissional. Eu não via muita melhora no rendimento, a gente (MIBR) não saía do mesmo lugar, mesmo com mudança de lineup (elenco) e tudo mais. Então, já não era onde eu queria estar. Por isso, eu estava pensando se eu continuaria jogando ou se eu iria parar — recordou Boltz, explicando o quão importante foi receber o convite para participar do projeto que, até aquele momento, era embrionário.
De uma quase “aposentadoria”, Boltz e a Imperial foram para o Major da Antuérpia, na Bélgica, sob muita desconfiança dos comentaristas europeus. O Last Dance era considerado um dos azarões da competição por todo mundo que vive do outro lado do Atlântico.
— Surgiram os rumores dessa reunião, mas eu não tinha sido consultado sobre nada. Assim que surgiu o convite, eu mudei de ideia (sobre parar de jogar profissionalmente). Sabia que seria um projeto muito legal de fazer parte. Eu queria encarar. Tanto que, mesmo antes de ser convidado, eu comentava com pessoas próximas que, caso aparecesse algo, era esse o projeto que me faria querer continuar jogando. Porque eu estava praticamente decidido das minhas ideias — completou.
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Já no Brasil e no continente americano, a história era bem diferente. Com expectativa alta sobre o que Gabriel "Fallen" Toledo, Ricardo "Boltz" Prass, Fernando "Fer" Alvarenga, Lincoln "FNX" Lau e Vinicius "VINI" Figueiredo — contratado após ser dispensado pela Furia — poderiam fazer na competição, a comunidade apaixonada pelo CS acompanhou a participação da equipe de ponta a ponta e a campanha da Imperial no Major foi um verdadeiro conto de fadas.
— Foi mágico. Só de estarmos lá, já estávamos felizes. Tínhamos pouco tempo de treinamento como equipe. Quando começamos a campanha no Major e passamos da primeira fase, algo que ninguém esperava da gente, ficamos ainda mais satisfeitos. Além disso, tivemos o recorde de audiência absurdo (707 mil pessoas assistindo na live do Gaules) na vitória contra a Cloud9, time que acabou de ser campeão da IEM Dallas, e que é o atual quarto melhor time do mundo. Então, para nós, o Major foi incrível — relembrou.
A vitória sobre a Cloud9 deu a Boltz um gostinho de revanche que ele vem esperando desde 2017. A organização norte-americana comprou os jogadores da Gambit, time russo que estava proibido de participar das competições de CS por conta da invasão à Ucrânia, e dentre os atletas está Hobbit, um dos jogadores que em 2017 venceram a Immortals de Boltz, Hen1, Lucas1, Steelega e KNG na final do Major da Cracóvia.
O gaúcho ressaltou que a vitória serviu para dar uma espécie de troco no adversário, já que com a derrota para a Imperial, a Cloud9 de Hobbit deu adeus ao Major da Bélgica, assim como em 2017 a Immortals perdeu a oportunidade de ser campeã na Polônia. Mesmo assim, Boltz garante que a lembrança da derrota em 2017 ainda não foi totalmente superada.
— Dói porque hoje a gente vê o quão difícil é ser campeão do Major. Na época, a gente era muito novo. Em 2017 eu tinha 20 anos e já era capitão da Immortals, chegando na final do Major. Hoje, se você olhar para trás, é bizarro pela grande dificuldade que era. Só que, naquela época, a gente não se ligava nisso, só ia jogando. A gente vê que hoje em dia é muito difícil repetir essas coisas. Chegamos tão perto e, por isso, machuca muito — lamentou.
A derrota se transformou em experiência e Boltz se vê muito mais pronto para exercer papéis de liderança em suas equipes hoje em dia. Além disso, segundo ele, tem evoluído cada vez mais na análise dos adversários e compreensão sobre o que ocorre durante as partidas.
— Eu me sinto, hoje em dia, muito bem no quesito de entendimento do jogo. Estou muito perto do auge de saber o que tá acontecendo no jogo, de estudar o adversário e de saber como as outras equipes estão jogando. Só que os resultados não estão aparecendo — analisou Boltz, que finalizou respondendo se está mais pronto agora para ser campeão do Major, do que em 2017.
— Agora na Imperial estamos em um estágio inicial. São apenas quatro meses de time. Então, quem sabe a gente não chegue no Major do Rio em uma posição melhor no ranking e, aí sim, estejamos mais perto de ganhar. Mas é muito difícil mensurar o quão pronto estamos como indivíduo ou equipe para ganhar. Sabemos que temos qualidade e experiência e estamos trabalhando para sermos campeões. É um sonho.