Se você acompanha esportes eletrônicos (eSports) ou lives de games, já deve ter ouvido falar de Alexandre Borba, o Gaules. Mas, se você não é ligado nesse mundo, nós o apresentaremos. Ele é o streamer mais assistido no Brasil. Ex-jogador e técnico profissional de Counter-Strike (CS), ele começou a fazer lives em 2017 e, desde então, quebra paradigmas e recordes. Gaules é o convidado de estreia do G-Start, o podcast de games de GZH.
O CS foi o jogo que deu a ele o mundo — foi campeão mundial de CS 1.6 como treinador do time Made in Brazil (MIBR), em 2007 — e também manteve seu desejo de continuar vivo. O streamer passou por forte quadro de depressão e chegou a pensar em suicídio. Após procurar ajuda profissional e, com o apoio de amigos, ele se curou e, a cada dia que passa, utiliza suas streams para ajudar quem precisa.
O jeito irreverente e único fez Gaules se tornar a pessoa mais assistida do Brasil e a segunda do mundo. Durante o Major de CS:GO (espécie de Mundial do game), disputado em maio na Antuérpia, Gaules quebrou o recorde brasileiro de audiência em uma live: foram 707.648 mil aparelhos eletrônicos ligados na partida entre os brasileiros da Imperial contra a Cloud9, organização norte-americana.
— Foi a coroação de um trabalho que vem sendo feito há mais ou menos cinco anos. No período de pandemia, em que as pessoas ficaram por muito tempo em casa, muita gente começou a acompanhar outras formas de conteúdo na internet e a seguir os eSports. A comunidade brasileira de CS cresceu, tivemos a criação do The Last Dance na Imperial (união de três dos maiores campeões da história brasileira do jogo). Então, foram várias coisas nessa grande receita — explicou o streamer em entrevista ao G-Start.
Ainda muito envolvido nas lives e nas coberturas dos campeonatos, o streamer diz ainda não ter a real noção do tamanho de sua influência dentro do mundo dos esportes eletrônicos, mas diz que, quando se aposentar, olhará para trás com muito orgulho de tudo que construiu e conquistou.
— A gente está indo para um caminho legal. Mas a real proporção disso eu só saberei lá na frente. Os eSports ainda vão crescer muito. Estamos no holofote agora, mas ainda longe de chegar no patamar que temos potencial para atingir — projetou.
A importância da Tribo
A receita para essas conquistas, segundo Gaules, é a união. E ele faz questão de lançar aos holofotes os que querem fazer algo a mais pela comunidade e buscam oportunidades dentro desse mundo. Desde que iniciou suas lives, a ideia sempre foi criar uma comunidade onde todos se sentissem pertencentes daquilo, sem espaço para julgamentos.
— Hoje em dia, a gente sabe que é tudo muito rápido. As relações mudaram. O consumo mudou. E você ter um lugar onde você se sente parte é uma coisa que eu sempre busquei dar para as pessoas. Isso é questão de saúde mental. Eu sei que hoje tem gente que vive muito melhor porque faz parte da tribo. Esse é um grande diferencial — afirmou.
Ter um lugar onde você se sente parte é uma coisa que eu sempre busquei dar para as pessoas
GAULES
streamer
Gaules revolucionou a forma de transmitir jogos de Counter-Strike e carrega esse feito como uma de suas principais conquistas na carreira. Ainda como Alexandre, antes de se tornar um streamer, ele detestava o fato de que as transmissões de eSports eram iguais às dos esportes tradicionais.
— Eu olhava isso e ficava maluco. Nós somos o novo. Vamos pegar um formato antigo, que é mais conservador e trazer para dentro dos eSports? Nós temos de criar algo mais novo. E quando eu vejo que muita gente tenta fazer as transmissões dos esportes tradicionais da maneira que eu faço no CS, isso me deixa muito orgulhoso. Você vê que criou algo que fica marcado para os esportes eletrônicos — comemorou.
Major no Rio de Janeiro
A mais recente conquista de Gaules, na verdade, é de todos os apaixonados pelo CS:GO. Pela primeira vez, o Brasil será a sede do Major, que ocorrerá de 31 de outubro a 13 de novembro. Todo o cenário competitivo estará observando o país e a comunidade brasileira de eSports. O evento será na Jeunesse Arena, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro.
— O Major no Brasil será uma grande festa. Estar lá, dentro da Arena, para as pessoas que conseguiram ingresso, será uma responsabilidade de representar muito bem a nossa comunidade — projetou.
Os ingressos foram todos vendidos no mesmo dia em que começaram a ser comercializados. De acordo com a ESL, organizadora do evento, as entradas esgotaram em uma hora após o início das vendas, o que causou revolta em muitas pessoas que não conseguiram comprar e pediram que o evento acontecesse em um lugar maior.
— É um problema bom o fato de termos conseguido esgotar os 18 mil lugares em uma hora. A nossa comunidade é muito grande e existe o problema de estrutura no Brasil. Muita gente pediu para fazer em um estádio, mas o esporte eletrônico é diferente. É preciso, no mínimo, uma semana para você organizar um evento desse tamanho em um estádio e você ainda vai concorrer com o futebol — analisou Gaules, que já foi dono de Arena de eSports.
Como todo brasileiro, Gaules torce pelo título de uma equipe nacional no Major do Rio. Além disso, se diz feliz com o momento atual dos times do Brasil no cenário. O Brazilian Storm, como ele diz em suas lives para se referir ao ótimo momento brasileiro no CS, é real e tem muitas chances de dar o terceiro título Mundial de CS:GO para o Brasil.
— Temos cinco times no top 30. Antigamente, tínhamos um ou dois, no máximo três. Eu sou corintiano e, lá no passado, eu vi uma entrevista do presidente do Corinthians, antes de sermos campeões da América, dizendo que era preciso aprender que a Libertadores não era Copa do Mundo e que era permitido disputar todos os anos. Se você ir uma vez a cada quatro anos, você terá chances remotas de conquistar. Antigamente, o cenário brasileiro tinha uma ou duas grandes equipes. A referência que faço é que o Brasil está descobrindo que não é proibido ter mais que uma equipe de qualidade. Hoje, o Brasil se coloca pela primeira vez no CS:GO em um lugar onde você tem vários times competindo em um alto nível. E isso vai fazer com que, em algum momento, esses times sejam campeões. Você não tem a oportunidade de apenas um time estar no Major, você pode ter muitos times e, com isso, a sua chance vai aumentar — finalizou.