A delegação do Flamengo de São Pedro já está em Caxias do Sul, local de concentração, para o jogo deste domingo (12) diante do Juventude. A partida pela primeira fase do Brasileirão Feminino A-3 ocorre às 15h, no estádio Homero Soltadelli, em Flores da Cunha. A seguir, estão os detalhes da viagem acompanhada no ônibus da delegação pela reportagem de GZH.
Com população de mais de 13 mil habitantes, o movimento em frente ao terminal rodoviário da Tenente Portela chamava a atenção no início da tarde deste sábado: 30 minutos antes do embarque previsto, as primeiras atletas já chegavam portando malas para a viagem.
O prefeito Rosemar Sala se fez presente para prestigiar e dar o último incentivo antes do embarque. O governo local disponibiliza o valor de R$ 8 mil mensais para o clube. Durante sua explanação, foi anunciado o processo de melhoria do estádio local do distrito de São Pedro. A intenção é para que o clube possa mandar seus jogos mais próximo da comunidade e reduzir as viagens. Atualmente, as partidas como mandante ocorrem em Três Passos, no CTF Futebol com Vida, a pouco mais de 32 quilômetros.
— Nós precisamos criar melhores estruturas de vestiários, do teto. Temos condição de ajudar. Queremos possibilitar que não se precise ir até Três Passos para jogar quando mandantes. Provavelmente, já na semana que vem, vamos dar início à reforma. Ano que vem, com certeza (disponibilidade de uso do estádio), quiçá alguma rodada do Gauchão — apontou o prefeito.
Primeira parada para receber os biscoitos da sorte
Com alguns minutos de atraso, o ônibus deixou o terminal ferroviário às 13h12 para percorrer 437 quilômetros até Caxias. Parte dos bancos ainda eram vagos para as atletas que iriam embarcar durante o trajeto. No interior do veículo, a seguinte divisão: comissão técnica nos primeiros assentos, atletas mais experientes no meio, e as mais jovens nos últimos lugares.
Às 13h22min, houve a primeira parada ainda no pórtico de entrada/saída de Tenente Portela. O time não poderia ir para uma partida sem os biscoitos da sorte. Uma caixa transparente de bolachas feitas à base de polvilho e manteiga foi entregue por dona Mirna Braucks. A diretora do Hospital Santo Antônio faz o mesmo gesto em todas as viagens do time.
— Elas são nossas bolachas da sorte. Estão conosco desde o início — conta Tamaris, extrema direita do Flamengo.
Trilha de sucesso
Muitas das jovens que ocupavam os últimos lugares estavam indo para o primeiro jogo com o time. Luana, das categorias de base, é um exemplo. Antes do momento maior de concentração para o jogo era necessário descontrair.
A relação de músicas preferidas tocava na caixinha de som apoiada no bagageiro superior para dar maior volume. Era do "fundão" que vinha a trilha sonora: dos sucessos dos aplicativos passando por funk, pagode, sertanejo até a pisadinha — ritmo musical vindo da Bahia, derivado do forró.
A reza
O grupo conhecido pela força, dedicação e vontade também é regido pela fé. Em todos os jogos fora de casa há um momento de reza puxado por Ildo Scapini. É o momento de dar as mãos e todas as vozes se unirem para cantar em oração: Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome. Venha a nós o teu reino, seja feita a tua vontade...
Tratamento de recuperação alternativo
Por precisarem dividir a rotina de treinos e jogos com as profissões do dia a dia, o tratamento de lesões é de forma alternativa em muitas ocasiões. A goleira Lais, que não foi relacionada para este primeiro jogo, é formada em massoterapia e está com a delegação para auxiliar no combate às dores. Durante uma parte do trajeto, foi montada uma estrutura improvisada no chão do ônibus para que Daia Bueno, capitã, pudesse receber atendimento.
O incentivo do filho
Quando embarcou no terminal rodoviário, Giza Proença deixou o filho Oliver, de 11 anos. Enquanto a mãe viaja para uma partida decisiva, ele ficará sob a guarda da avó. A família mora na Reserva da Guarita. A atacante foi umas primeiras atletas indígenas a disputar um torneio de futebol feminino estadual, e fez história ao entrar em campo com rosto, braços e pernas com pinturas típicas de sua etnia caingangue.
Acomodada entre as poltronas 23 e 24, Giza revela que apesar do exemplo em casa, Olivier não é muito ligado ao futebol, mas ajuda a divulgar o talento da mãe.
— Quando eu vou jogar assim, ele vai chamar todo mundo para olhar. Passa em cada casa para dizer que vai ter jogo.
Rede do futebol
O jogo de estreia no Brasileirão Feminino A-3 também marca o início de algumas atletas no clube. A goleira Cláudia Kurek, que defendeu o Elite na temporada passada, conheceu o projeto através da zagueira Laine, que já estava no time. Essa é a primeira viagem da jogadora de 32 anos, formada em Agronomia.
A amizade que já dura há mais de 12 anos uniu a dupla no setor ofensivo. Entre tantas histórias e campeonatos, uma é lembrada aos risos pela arqueira. Durante um torneio, Cláudia poderia ter terminado como a goleira menos vazada, mas justamente a amiga acabou marcando contra o próprio gol.
— Eu não tinha levado nenhum gol e ela marcou contra mim — conta Cláudia.
A competitividade logo na chegada
Depois de mais de oito horas de viagem, jogadoras e comissão técnica chegaram a Caxias do Sul congelados pela temperatura de 4° na noite da Serra. Enquanto todos aguardavam para fazer o check-in, Luana avistou uma mesa de sinuca no hall do hotel. Foi pra já que o espirito competitivo começou. Ao lado de Laine, elas formaram uma dupla e competiram com dois hóspedes do hotel. É só o início de uma noite que antecede uma partida decisiva.