Há pouco mais de um ano, a dona de casa e mãe Giza Proença vivia parte da realização de um sonho: jogar futebol por um clube. A primeira oportunidade profissional ocorreu durante a disputa do Gauchão Feminino. Compartilhando da mesma história do Flamengo de São Pedro, de Tenente Portela, estrearam juntos no estadual. Aquela campanha inédita garantiu o caminho para a chegada em uma competição nacional, o Brasileirão Feminino A-3.
O primeiro jogo ocorreu no último domingo (12), diante do Juventude. Na ida, vitória de virada por 2 a 1, no Estádio Homero Soldatelli. Este resultado garante vantagem para a decisão deste domingo (19), em Três Passos, que vale a classificação para a segunda fase, e voos mais altos no futebol nacional.
Para chegar até aqui, o clube foi construindo caminhos de luta, superação e inclusão. Giza, da etnia caingangue, foi uma das primeiras atletas indígenas a disputar uma competição feminina no Rio Grande do Sul. Um feito inédito para a história do Estado e para a Reserva da Guarita, em Tenente Portela. A situação à época, sem qualquer estrutura e investimento escasso, tornava o desafio do grupo ainda mais difícil. Ninguém desistiu. A recompensa veio através do título de terceira melhor equipe do Gauchão de 2021.
— Agora está um pouco mais fácil. O time ganhou visibilidade. Para mim, as coisas melhoraram também. Não que seja mais simples, mas conseguimos treinar, ir na academia, que não tínhamos antes. Foi um feito histórico para nós e para a região — relatou a atacante em entrevista à reportagem de GZH em Tenente Portela.
A evolução no projeto do clube caminha com o protagonismo que as atletas vêm conquistando dentro e fora de campo. Em 2021, quando nem pensava em chegar a uma competição nacional, Giza Proença relatava um outro adversário que precisava enfrentar: o preconceito.
— Já disseram que não chegaria a lugar algum. Hoje, eu respondo jogando futebol — contou Giza Proença no ano passado.
Um ano depois, a resposta veio jogando futebol. Entrando em campo no primeiro jogo diante do Juventude e auxiliando o time a construir uma vitória que pode sacramentar a classificação para a segunda fase do Brasileirão.
— É um momento único e vai ficar guardado para a minha vida inteira. Era um sonho desde criança e olha onde eu estou hoje. É muito satisfatório para mim e para a equipe também. Estou muito feliz. Se Deus quiser, vamos progredir ainda mais — afirmou Giza na saída de campo do Homero Soldatelli.
Para todas as conquistas, há uma torcida especial que vem de casa. O filho Oliver, de 11 anos, é quem sempre mobiliza a comunidade para assistir aos jogos da mãe. Neste primeiro jogo, ele ficou sob a guarda da avó, mas, no domingo (19), ele será um dos torcedores que estará no CTF Futebol Com Vida, em Três Passos.