Silvio Caporal ficou quase dois dias nas estradas do Brasil de moto para chegar à Caxias do Sul para assistir os seus dois filhos na disputa das Surdolimpíadas. O paulista deixou Ribeirão Preto no dia 8 de maio, no Dia das Mães, um domingo, para chegar no Rio Grande do Sul no final da tarde de segunda para ver Felipe e Fernanda, 31 e 24 anos, respectivamente, no basquete masculino e no handebol feminino.
Segundo os mapas, as cidades são separadas por 1.272km, mas nem essa distância foi suficiente para fazer com que o pai deixasse a oportunidade de ver os filhos em um evento desse porte em território brasileiro — foi a primeira vez que a a América Latina recebeu as Surdolimpíadas.
— Ver ele aqui é motivo de satisfação e orgulho. A Fernanda, a primeira vez que ela foi para a Seleção foi com 16 anos, ela compete desde os nove anos. O Felipe a mesma coisa. Esses quase 1300km não são nada. Eu enfrento qualquer coisa. Não meço esforços para ver eles. Depois do jogo do handebol feminino na quinta, conversei com as meninas e disse que queria levar uma medalha de volta para a minha cidade. Eu disse que viria, mas eles duvidavam um pouco — contou Caporal em contato telefônico com a reportagem de GZH.
A viagem de moto foi longa, mas propiciou para o professor de educação física a oportunidade de contemplar cenas da natureza nunca antes vistas por ele. Apesar da distância e da demora para chegar, o pai aproveitou o momento.
— Eu tracei um roteiro pelo Google no trajeto mais curto, só que eu peguei uma estrada para Curitiba e fui pelo Rastro da Serpente, uma famosa estrada para motociclista e tem 1,2 mil curvas. Isso atrasou muito a minha viagem, mas a viagem em questão de paisagem foi fabulosa, foi uma grata surpresa.
Tanto Felipe, quanto Fernanda são surdos desde a infância. A surdez do menino foi descoberta antes, quando ele engatinhava pelos chãos das casas. Ainda que os pais tenham consultado uma série de médicos, todos falavam que havia sido um caso isolado. No entanto, quando a menina nasceu (sete anos depois), Silvio insistiu para que todos os exames de audição fossem feitos.
— Nunca tinha tido na minha família nenhum caso de surdez. Quando o Felipe tinha um ano de idade, ele ficava muito na casa da minha sogra e minha sogra ia na casa da bisavó do Felipe. Ela tinha uma irmã que era professora e um dia o paneleiro veio abaixo e o Felipe estava engatinhando no chão, estava perto e não teve nenhuma reação, e ela falou com a gente, procuramos um médico e foi constatado —explicou sobre o filho, completando sobre a filha:
— Quando a Fernanda nasceu, pedi para que fosse feito um teste de audiometria. Deram o diagnóstico que ela era ouvinte aos três, aos seis e aos nove meses. Próximo do primeiro ano dela, vimos que ela respondia às vezes e outras não, isso nos gerou insegurança. Em Bauru, detectaram que ela tinha surdez. Foi constatado que é um problema genético.
A equipe de Felipe já foi eliminada no basquete masculino, mas a torcida da família Caporal seguirá por mais alguns dias aqui em Caxias do Sul. Isso pois Fernanda irá disputar a medalha de bronze no sábado, quando as brasileiras irão duelar contra Quênia, às 10h, no ginásio da UCS.