Aos 30 anos, e com três medalhas de bronze conquistadas em Olimpíadas, Mayra Aguiar se prepara para mais um ciclo olímpico, o quinto da carreira. No Dia Internacional da Mulher, a judoca gaúcha lembrou das dificuldades enfrentadas na preparação aos Jogos de Tóquio, disse se sentir mais madura visando os desafios que terá em Paris, em 2024, e revelou a renovação de contrato com Sogipa pelos próximos três anos. Confira a entrevista abaixo:
De onde tirar inspiração e vontade para encarar mais um ciclo olímpico?
A motivação é algo importante. O esporte é muita repetição. O judô tem uma rotina bem dura. O que mais me ajuda é estar feliz no momento. Ter brechas que me tragam felicidade. Fazer piada com alguém, brincar com alguma coisa, ou seja, se divertir. É um ambiente muito tenso, então a descontração ajuda. Montar meus objetivos também ajuda. A maior motivação não é a medalha olímpica em si. O que me inspira são os pequenos objetivos diários. Faço objetivos curtos, que eu consiga controlá-los. Pois eu não consigo controlar daqui a três anos. Eu consigo controlar o agora. Isso me inspira. É o pequeno objetivo que lá na frente vai dar o resultado da medalha.
O ciclo para a Olimpíada de Tóquio acabou sendo curto?
Com certeza. Foi um baque a cirurgia. Ela chegou no pior momento, que foi oito meses antes. Eu precisava de seis meses para ficar com o ligamento bom. De verdade, eu só me senti bem na semana das Olimpíadas. Eu mentia para mim. Eu colocava na minha cabeça que estava bem para me motivar. Isso me motivou a tornar mais importantes os pequenos objetivos. Quando veio o resultado, eu vi a importância de focar nos pequenos objetivos. É uma construção. A busca pela medalha de Paris começa agora. Estou muito focada desde já.
Quais são teus medos faltando três anos para Paris?
Não sei se é um medo, mas eu tento sempre não esquecer do meu foco. Eu penso que hoje foi um dia ruim, mas amanhã vou fazer o meu melhor. É não se desesperar com isso. Eu me cobro demais. Então, nesses momentos, tento me tranquilizar e colocar a cabeça no lugar. É manter o equilíbrio. O planejamento também tem de ser muito bem feito.
Desde 2007, no Pan do Rio, o que te fez chegar até aqui, como uma das principais atletas do país? Eu sou muito insistente. Sou muito chata. Desde pequena eu sou assim. Essa motivação, essa confiança, foi o que me levou a conquistar o que eu tenho. Tem também muito das pessoas que me cercam. Eu tenho uma família que me apoia muito. O meu clube também, a Sogipa, que me apoiou sempre. Essa estrutura que tive, a confiança e essa vontade, foram o que me trouxeram até aqui.
Tens a dimensão do que tu representas para outras mulheres, para outra gerações?
Não tenho muito. São pequenos momentos. Quando o olho de uma criança brilha ao me ver, eu me lembro que existe isso. Mas é muito difícil. Cada competição que eu ganho, eu guardo com carinho, mas me esqueço rápido. Mas tem esses pequenos momentos que são uma loucura.
Hoje tu és a principal atleta da Sogipa. Tens noção de tudo o que conquistou até aqui?
Eu não me vejo assim. Eles (João Derly e outros atletas da Sogipa) são exemplos para mim. Ainda bem que essas pessoas estavam ali para eu ver como se faz para ser bicampeão do mundo. Eu vi a trajetória dele. Eu sei que consigo dar exemplo, mas não consigo enxergar. É algo estranho. Tenho muita admiração. Os meus ídolos são as pessoas que estão perto de mim. Eu me inspiro naquilo ali. Temos muitos atletas bons. Essa troca é muito boa. Essa troca entre os atletas é muito gostosa.
Já sabe o que vai fazer depois de Paris?
Não sei ainda. Eu estou feliz, aproveitando muito o esporte. Tóquio foi a competição mais difícil da minha vida, mas eu curti estar ali. A minha primeira Olimpíada foi traumatizante, pois senti muito pressão. Hoje não tem tanto essa pressão. Eu consegui equilibrar isso. Consegui aproveitar também, independentemente do resultado. É delicioso participar de uma Olimpíada.
Tu estás mais madura?
Isso é o que mais me deixa feliz. Eu tenho muito a melhorar, ainda quero muito, mas estou feliz com tudo o que já fiz. Essa tranquilidade está sendo a minha melhor fase. Estou focada em Paris e quando chegar lá vou ver se acabou ou não. Vou ver como estará a minha cabeça, para ver se será possível continuar ou não.
Tu se enxergas como uma mulher inspiradora?
Eu sei o quanto as crianças copiam. É uma responsabilidade. É bom saber que estão se inspirando em um, mas é pesado. Isso me assusta às vezes. Eu senti isso muito em Tóquio, diferente de todas as outras. As pessoas me acompanharam. Esse carinho é maravilhoso.
É verdade que tens um anúncio importante para fazer?
Estou fechada com a Sogipa por mais três anos. Estou superfeliz. A palavra que mais me marca é tranquilidade. Fechar por três anos, o ciclo olímpico inteiro, me dá confiança. Eles confiam em mim. E eu também confio nesta equipe. Essa união é muito importante. Permanecerei por mais três anos neste meu porto seguro, com as pessoas que amo. Vamos todos juntos buscar mais uma medalha em Paris.