A terça-feira (3) foi cheia de emoções para os judocas gaúchos Mayra Aguiar e Daniel Cargnin, que retornaram a Porto Alegre depois das medalhas de bronze conquistadas nas Olimpíadas de Tóquio. Por volta das 10h30min, o saguão de desembarque do aeroporto Salgado Filho já recebia cerca de 50 pessoas à espera dos atletas. Ao meio-dia, eles cruzaram o portão e foram para os braços dos familiares que aguardavam desde cedo.
As horas seguintes foram de homenagens públicas. Do Salgado Filho, desfilaram por cerca de uma hora e meia até o Paço Municipal, onde receberam de Sebastião Melo a chave da cidade. Depois, conversaram e posaram para fotos com o governador Eduardo Leite. E foi no Palácio Piratini que os dois pararam para conversar com a imprensa.
Mais experiente, a bicampeã mundial e três vezes medalha de bronze nos Jogos foi sempre a primeira a se manifestar. E também a que mais falou. Com o ciclo olímpico alongado em um ano por conta da pandemia, Mayra diz que Tóquio 2020 foi uma competição diferente – ela também subiu ao pódio em Londres 2012 e na Rio 2016.
— Foi uma Olimpíada diferente de todas. Mas aquilo de passar o filme na cabeça, de cair a ficha, acho que foi a mais rápida que já tive. Tanto que chorei muito depois que terminou a luta. Vieram todas as lembranças, tudo o que doeu física e mentalmente. Deixei a emoção transparecer — recordou.
Se Mayra reconheceu a dimensão do seu feito ainda no tatame, Daniel, 23 anos, precisará de mais tempo para entender o tamanho da conquista obtida no outro lado do mundo.
— Acho que quando eu chegar em casa e parar um pouco é que vou ter dimensão disso. Treinei muito, pensava todos os dias. Quando se concretizou, na hora eu ficava tocando no meu rosto e pensando "o que está acontecendo?" — conta o gaúcho.
De volta ao Estado, pôde reencontrar a mãe, uma das tantas pessoas que desde cedo esperava os atletas da Sogipa desembarcarem. Daniel revelou que sua maior motivação durante o período no Japão foram os familiares. Depois da medalha, a primeira coisa que fez foi ligar para casa e comemorar. Agora, pretende abraçar um por um para agradecer o apoio.
— Sempre sonhei em ir para os Jogos com meus familiares. Mas quando saí (do tatame), vi as arquibancadas vazias e sabia que as pessoas que se importam comigo estavam presentes mentalmente. Sabia que estavam comigo — contou.
Além do orgulho para os familiares, os dois sabem que hoje servem de modelo para futuras gerações. Mayra é a primeira atleta brasileira a conquistar três medalhas olímpicas em competições individuais, e acredita que os Jogos tenham o papel de aproximar o esporte das pessoas, sobretudo as crianças.
— A gente tem mulheres muito fortes em todas as profissões no Brasil. No esporte, não poderia ser diferente, temos mulheres que inspiram — disse. — O esporte não é só medalha, é algo que muda uma vida. O que vem do esporte é o espírito de união, de companheirismo, empatia, garra, determinação. Quanto mais crianças puderem estar neste meio, isso é muito bom para a sociedade — defendeu ela.
E Mayra sabe o que está dizendo. Seu companheiro na rotina de treinamentos, de seleção brasileira e hoje de homenagens, Daniel tinha apenas 14 anos quando ela conquistou o bronze em Londres. A conquista da hoje amiga serviu de motivação para o jovem judoca.
— Eu assisti à Mayra ganhando a primeira medalha dela, e para mim foi muito importante. Poder estar na mesma equipe que ela foi uma honra — disse.
Os próximos dias serão de descanso para Mayra e Daniel, que atravessaram o planeta para poder receber nesta terça-feira o carinho dos amigos e familiares. Mas, ainda que Tóquio 2020 não tenha terminado, os dois já têm as Olimpíadas de Paris, em 2024, no horizonte.
— Meu corpo está com vontade, minha cabeça está muito animada. Conquistar uma medalha dessas me faz ter vontade de continuar. O próximo ciclo é curto, são três anos, e a medalha é construída desde já. Já estou com a cabeça em Paris — afirmou Mayra.
Daniel planeja passos mais curtos, mas o objetivo é o mesmo.
— Vou criar metas curtas para conseguir ir avançando aos poucos. Foi assim no ciclo anterior também. Mas vou retomar com ainda mais confiança agora que tenho uma medalha — apostou.
Pelo que mostraram nos tatames de Tóquio e também pelo discurso adotado, não é difícil apostar que a dupla da Sogipa estará presente também na Olimpíada da França. Enquanto Daniel tentará a segunda medalha, Mayra buscará se isolar ainda mais como a principal medalhista de esportes individuais do Brasil. Aos torcedores, resta aguardar – e agradecer.