Pouco a pouco os Estados brasileiros começam a discutir a possibilidade de volta dos torcedores aos estádios. Na quarta-feira (21), o Flamengo mandou o jogo de volta das oitavas de final da Libertadores, contra o Defensa y Justicia, para Brasília, já que o Distrito Federal permitiu eventos com público. Assim, com o apoio de 5.518 torcedores no Mané Garrincha, o time comandado por Renato Portaluppi goleou o rival argentino por 4 a 1 e avançou às quartas.
Uma das preocupações de especialistas em relação ao retorno das pessoas aos estádios está no que envolve as aglomerações no entorno. O médico infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre e professor da Universidade Federal do RS (UFRGS), Luciano Goldani teme que não haja controle do lado de fora, mesmo que as pessoas nas arquibancadas estejam vacinadas ou com testes PCR negativos.
— O grande problema que eu vejo em abrir os portões não é só a questão do estádio, é tudo o que gera o evento. Os bares que ficam em volta, o transporte público que leva gente até lá — destaca.
Em Porto Alegre, a prefeitura encaminhou um plano de liberação de eventos para análise do Governo do Estado. Como o projeto não leva em conta apenas jogos de futebol, mas sim qualquer evento que possa promover aglomerações, as questões relacionadas ao entorno de estádios ainda não foi discutida pelas autoridades. O plano, inclusive, está em fase de análise pelo gabinete de crise do governo estadual, que ainda não deu o aval para o retorno de público aos estádios.
O exemplo de Brasília gera preocupação em especialistas. Ainda que as pessoas não tenham chegado todas juntas ao estádio, houve pequenas aglomerações e pessoas sem máscaras, especialmente em locais com vendedores ambulantes.
— Pelo o que notei, a entrada acabou sendo um pouco mais tranquila nas primeiras horas. Quando o jogo foi se aproximando, a galera começou a aglomerar mais no entorno para se alimentar, aí teve esse problema de alguns sem máscara — relata o jornalista Danilo Queiroz, repórter do Correio Braziliense.
Outro mau exemplo foi visto na final da Eurocopa, na Inglaterra, no início do mês. Com Wembley liberado para receber 75% de sua capacidade total de público, 67.173 torcedores foram registrados no local. O maior problema é que, além da aglomeração dentro do estádio, houve a circulação de muitas pessoas no entorno, tanto antes do jogo quanto depois da partida, que terminou com o título da Itália. Inclusive, alguns torcedores passaram pelas grades de proteção e invadiram o estádio.
— Na final da Eurocopa, em Wembley, houve vários problemas do lado de fora do estádio, inclusive com invasão de torcedores sem ingresso. Mas não sei o impacto daquelas aglomerações para os números da pandemia aqui — diz o repórter Fred Caldeira, correspondente da TNT Sports na Inglaterra.
Em outros países, porém, esse tipo de problema não foi registrado. Na Espanha, uma lei ainda proíbe aglomerações de qualquer tipo nas ruas. Assim, mesmo com o público liberado nos estádios, as pessoas não têm ficado no entorno dos eventos.
— A população tem respeitado essa lei durante a pandemia, então não temos visto aglomerações por aqui. Salvo alguma pouca coisa em jogos especiais, como finais, mas também nada muito chamativo — conta Juan Castro, do jornal Marca.
Em Portugal, onde ocorreu a decisão da Liga dos Campeões da Europa, em maio, também não foram registradas aglomerações. Como a final foi em Porto e os dois clubes envolvidos eram ingleses — Chelsea e Manchester City —, ficou mais fácil de controlar os torcedores, avalia o repórter Rui Sousa, do jornal Record.
— Fui fazer o jogo no estádio e vi uma boa organização. As pessoas comportaram-se bem nesse jogo com público, com distanciamento e todas as regras. Não havia aglomerações, porque só estiveram 15 mil pessoas e o estádio tem capacidade para 50 mil — salienta o jornalista português.
Em comum, nenhum dos lugares restringiu o acesso das pessoas ao entorno dos estádios, medida que é considerada importante por especialistas. Assim, o exemplo de outros lugares que já permitiram a volta do público aos jogos de futebol é de que o fundamental é o respeito, para evitar aglomerações tanto dentro quanto fora dos estádios.