Alvo de mandado de busca e apreensão pelo Ministério Público na manhã desta quinta-feira (25), o ex-jogador do Inter e do Grêmio, Anderson se envolveu em mais um problema. Ainda que negue sem envolvimento (confira nota abaixo), o jogador está sendo investigado pelo MP. Dentro de campo, o ex-meio-campista também já passou por polêmicas.
Formado no Tricolor e autor do gol na Batalha dos Aflitos, Anderson deixou o Grêmio em uma negociação com o Porto ainda jovem no final de 2005. Em 2008, envolveu-se pela primeira vez em uma situação fora de campo. À época, o traficante de drogas Richard Alex da Silva Martins, o Gigi, foi preso na casa de Anderson no bairro Santa Tereza, em Porto Alegre. Apesar disso, o promotor Ricardo Herbstrith, responsável pelo caso naquele ano, afirmou ao jornal Zero Hora que a investigação não tinha nada com o jogador, ele seria apenas amigo do traficante.
Em 2015, o jogador foi anunciado pelo Inter para ser reforço do time de Diego Aguirre. O começo foi turbulento com os torcedores colorados. Logo na estreia, contra o Cruzeiro-RS, entrou no segundo tempo e errou um pênalti. Os primeiros meses foram de instabilidade, mas depois pareceu ganhar confiança e recuperou o seu futebol. Ainda no fim de 2015, o meia se envolveu em uma polêmica nas redes sociais. Criticado por um torcedor no Instagram, retrucou no mesmo tom. No início de 2016, o jogador repetiu a mesma confusão na internet. Os torcedores não gostaram e, em protesto, pediram à direção para que o contrato do jogador fosse rescindido.
No ano que culminou com o rebaixamento colorado para a Série B do Brasileirão, o jogador se envolveu em mais uma polêmica. O treino no Beira-Rio já se encaminhava para o final, quando ele e o lateral-direito William brigaram. Anderson acertou um soco no companheiro, o fazendo sangrar. Aquele fato tumultuou ainda mais o ambiente que já era complicado no clube. O ex-camisa 8 colorado acabou sendo suspenso e ficou de fora de uma partida, assim como o lateral.
Nas redes sociais, torcedores contrários à permanência do jogador voltaram a pedir sua saída. Anderson acabou saindo do Inter em 2018, quando foi atuar na segunda divisão da Turquia.
Confira a nota divulgada pelo ex-jogador sobre a Operação Criptoshow:
"Eu, Anderson Luís de Abreu Oliveira, venho a público esclarecer:
Trouxe recursos de uma vida toda para fazer negócios no Estado que amo. Apesar das dificuldades que ele vem passando, quero continuar fazendo negócios aqui, pois acredito e sou prova de que um menino pobre e sem estudo pode vencer na vida com trabalho e empenho.
Conheço e invisto há quatro anos no mercado de criptomoedas. Investi mais fortemente em 2019 no bitcoin, comprei com dinheiro declarado, conforme comprovante e imposto de renda.
Desde então, negocio no mercado a compra e venda destas criptomoedas para ganhar dinheiro, e também porque gosto da tecnologia. Para isso, comprei a participação na empresa House Tecnologia Ltda, que realiza as compras e vendas quando é oportuno.
Uma de nossas empresas foi relacionada em um assunto que não merecíamos. Hoje, por conta disso, recebi em minha residência a polícia, com a cordialidade que lhes é merecida. Nada tenho a esconder. Nossos valores são fruto do meu trabalho e estão devidamente declarados.
Agradeço às autoridades pelo tratamento digno ao qual fui submetido, e a todos que sabem o que sou e o quanto sou grato ao Rio Grande do Sul. Tanto que continuarei investindo e dando empregos o quanto eu puder".
ENTENDA O ESQUEMA INVESTIGADO NA OPERAÇÃO CRIPTOSHOW
O desvio
Nos dias 15 e 16 de abril deste ano, foram desviados R$ 30 milhões da conta bancária de uma grande indústria por meio de 11 transferências eletrônicas para seis empresas localizadas em Porto Alegre, Cachoeirinha, São Paulo e Porto Velho, em Rondônia. O dinheiro foi desviado por meio da conta bancária de outra empresa, com sede em Cachoeirinha, correntista do mesmo banco.
Para cometer a fraude, foi acessada a conta bancária, pelo internet banking, de um dos investigados. Neste momento, foram programadas 11 transferências bancárias para seis destinatários. Ao final da operação, por meio manipulação da codificação do canal do internet banking, a conta indicada ao sistema para a efetuação do débito de R$ 30 milhões não foi a logada inicialmente, mas sim outra.
Ainda conforme o MP, para poder cometer a fraude, antes disso houve um preparo para o desvio. O mesmo autor das transferências teria previamente entrado em contato com o banco para conseguir autorização para esse tipo de operação milionária. Dias depois, foi realizada a operação fraudulenta, na qual o valor foi debitado das contas das empresas vítimas.
O destino dos valores
Uma empresa de Porto Alegre recebeu o maior montante do furto, R$ 14 milhões. Três empresas sediadas no estado de Rondônia receberam juntas outros R$ 14 milhões. Além disso, uma empresa de São Paulo obteve R$ 1 milhão, mesmo valor recebido pela empresa de Cachoeirinha, que teria efetuado o desvio.
O MP acredita que todas as empresas de fora do Estado para onde foram destinados os valores eram de fachada. Os endereços foram conferidos ao longo da investigação e uma delas era uma casa abandonada. A pessoa citada como sócio administrador não teria condições de manter uma empresa com o capital apresentado.
— A sede física, quando existia, e sócio eram incompatíveis com porte de operações bancárias. Isso nos leva a entender que são de fachada, não existem — explica o promotor Flávio Duarte.
Uso de bitcoins
O próprio banco lesado pelo esquema conseguiu descobrir o caminho de parte do dinheiro desviado. No dia 16 de abril, uma corretora que atua na negociação para compra e venda de ativos virtuais recebeu R$ 11 milhões para aquisição de bitcoins de três das cinco empresas beneficiadas com as transferências. No dia anterior, outros R$ 7,7 milhões já tinham sido repassados por duas das empresas e revertidos em bitcoins, num total de R$ 18,8 milhões.
O operador
O correntista que teria comandado os desvios a partir da conta bancária de uma empresa de Cachoeirinha até pouco tempo integrava quadro social dessa empresa, que pertencia à família dele, e que foi beneficiada no esquema com R$ 1 milhão. Depois disso, a empresa teve alteração nos sócios e o investigado deixou o quadro.
Atualmente, segundo o MP, ele mantém uma corretora de investimentos. Contra ele foram identificadas três ocorrências no ano passado e em 2020 por ameaça e apropriação indébita.
— Não sabemos ainda se ele é a cabeça principal, mas é o operador de parte do desvio. Mas não é o único. No caso dos R$ 5 milhões o operador foi outra pessoa — relata o promotor.